Faturamento do turismo no Brasil desaba 55,4% em abril e tem pior resultado da série histórica

Mau desempenho do setor é impulsionado por baixa de quase 80% do faturamento do transporte aéreo, segundo relatório

Pablo Santana

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SÃO PAULO –  O faturamento do turismo no Brasil sofreu queda de 55,4% em abril, em comparação com o mesmo período do ano passado. Essa foi a maior retração da série histórica iniciada em 2011.

Os dados são do levantamento do Conselho de Turismo da FecomercioSP, baseado em números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No mês, marcado por medidas mais restritivas de distanciamento social para conter o avanço da Covid-19 no país, o setor registrou um faturamento de R$ 5,43 bilhões e prejuízo de R$ 6,76 bilhões na comparação com abril de 2019.

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Segundo a entidade, das seis atividades pesquisadas, cinco registraram baixa em seu faturamento real no comparativo anual. O transporte aéreo foi o segmento mais afetado, com queda de 79,2%, seguido pelos serviços de alojamento e alimentação, que tiveram retração de 65,6%.

Com os cancelamentos e remarcações de viagens, intensificadas em março, o prejuízo do setor de turismo, somando-se os meses de março e abril, chega a R$ 9,5 bilhões – queda de 38,9% em relação ao mesmo bimestre no ano passado. No acumulado de 2020, a retração até o mês de abril foi de 18,3%.

Mundialmente, o turismo é um dos setores da economia mais afetados pela pandemia e segue sem perspectiva de volta, já que uma possível segunda onda da doença pode significar o retorno de medidas mais restritivas de circulação.

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Entre as atividades econômicas do setor, as companhias aéreas são as que mais sofrem com a crise. Na Europa, o setor aéreo já demitiu 90 mil funcionários desde o início da pandemia e das quarentenas.

Nesta semana, a Latam Airlines anunciou o fim de suas operações na Argentina, apontando o coronavírus e a dificuldade de fazer acordos com a indústria local diante da crise como causas para o encerramento das atividades.

Semanas antes, o grupo e suas afiliadas no Chile, no Peru, na Colômbia, no Equador e nos Estados Unidos entraram com pedido de recuperação judicial em um tribunal americano.

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A Latam seguiu os passos da Avianca Holdings, que também solicitou recuperação judicial em meio à pandemia – um movimento que evidencia a grave crise que o setor passa na América Latina.

De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), as estimativas de perdas financeiras para as companhias aéreas na América Latina neste ano é de US$ 4 bilhões. A associação projeta que apenas a Argentina deve ter uma queda de 48% na receita em 2020, na comparação com 2019, o equivalente a um corte de US$ 2,4 bilhões.

No Brasil, o cenário também não é muito diferente: a projeção é de que haja uma queda de 40% no faturamento em 2020, em relação ao último ano.

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Uma pesquisa realizada pela plataforma online de busca de voos Viajala, com usuários de seis países da América Latina, revelou que 27% dos brasileiros não sabem quando voltarão a viajar dentro do país.

A perspectiva para viagens internacionais é ainda mais incerta: cerca de 60% dos entrevistados declararam não saber quando voltarão a viajar para o exterior.

Para a FecomercioSP, não existe expectativa de retomada do segmento em curto prazo.

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“Ao lidar com o vírus ainda em circulação e as rendas retraídas pela crise econômica, os consumidores estarão resistentes às viagens e se concentrarão nos gastos em serviços essenciais. O setor aéreo, por exemplo, já sinalizou que a expectativa para 2021 é de metade da demanda que havia antes da pandemia”, diz a entidade, que projeta apenas para o último semestre do ano a possibilidade de retomada generalizada do setor.

Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios