“Espero que os bancos tenham uma postura de equilíbrio”, diz Rial sobre operação que gerou rombo bilionário na Americanas (AMER3)

Apelo ocorre em contexto de que poderá haver cobranças por quebras de contrato de financiamento a partir das mudanças na estrutura de capital da companhia

Rikardy Tooge

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O agora ex-CEO da Americanas (AMER3) Sergio Rial pediu apoio aos bancos credores da companhia para lidar com o rombo contábil de R$ 20 bilhões identificados no balanço da varejista no terceiro trimestre de 2022.

“Temos que buscar uma solução estruturada junto aos acionistas de referência [Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira] e peço paciência. Espero que os bancos tenham uma postura de equilíbrio para encontrarmos um caminho que funcione para todos”, disse Rial, em vídeo disponibilizado pela Americanas ao mercado.

O apelo tem a ver com possíveis antecipações nas cobranças de empréstimos por quebra de contrato em função das mudança que deverão ocorrer na estrutura de capital da companhia. No entanto, segundo apuração do jornal “Valor Econômico“, os principais bancos credores da varejista sinalizaram que deverão rolar as dívidas da empresa.

Também está no radar do mercado a possibilidade de a varejista ser processada por investidores nos Estados Unidos (class action), a exemplo do que já ocorreu recentemente com a Vale após o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG) e com a Petrobras, por conta da Operação Lava-Jato.

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Embora tenha se demitido do cargo de CEO, Rial seguirá como assessor dos acionistas de referência do grupo Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. Em uma call com agentes de mercado, disse que a empresa não tem dívidas relevantes vencendo no curto prazo, sendo as principais iniciando em 2025. Além disso, mais de 90% não está sujeita a covenant (compromissos que devedor assume para obter condições melhores de financiamento), mas, mesmo assim, a ideia do executivo é de que a Americanas negocie com os bancos.

Rial lembrou que a Americanas possui um endividamento bruto em torno de R$ 35 bilhões – o balanço da Americanas no 3T22 apresentava algo próximo a R$ 25 bilhões –, segundo o executivo. A tendência agora é que esse valor cresça diante da nova configuração do balanço. “A republicação dos balanços deve ter impacto na conta ‘resultado’ e haverá redutores na estrutura de capital, mexendo no patrimônio líquido”, explicou.

Atualmente a varejista possui patrimônio líquido de R$ 14,7 bilhões, mas o valor está “inflado” por conta do problema contábil e este item do balanço deverá ser o mais afetado na remontagem da peça, com a alavancagem da companhia podendo sair de um nível considerado “saudável”.

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No entanto, Sergio Rial reforçou que a cifra de R$ 20 bilhões é preliminar e que a prática que gerou o problema, as operações de risco sacado, não surgiram da noite para o dia “não estamos falando de algo de menos de três ou quatro anos”.

Rial também fez questão de destacar mais uma vez que os R$ 20 bilhões de inconsistência não estão fora do balanço. “Os pagamentos foram feitos e os impostos foram pagos. Porém é necessário recatalogar essas despesas dentro do balanço”.

A operação de risco sacado significa que a Americanas utilizou bancos para pagar seus fornecedores – e isso não é ilegal, mas a forma como a operação foi demonstrada no balanço é que gera a distorção. Isso porque, diferentemente de uma operação direta entre varejista e fornecedor, a participação do banco incide a cobrança de juros que não estava sendo reportada de maneira correta no balanço.

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“Não foi registrado de forma apropriada e, a depender do ponto de vista [para apresentar um balanço mais saudável], é melhor lançar na conta fornecedor do que colocar como dívida bancária, mas isso vai precisar ser recatalogado”, avaliou o ex-CEO.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br