Era de ‘ganhos estratosféricos’ acabou, diz Lazari, do Bradesco

“Esqueça: a Cielo nunca mais terá um lucro anual de R$ 3 bilhões”, afirmou o presidente do Banco Bradesco

Bloomberg

Banco Bradesco

(Bloomberg) — A era dos “ganhos estratosféricos” acabou para os bancos brasileiros, pois as taxas de juros caíram para níveis recorde e a concorrência das fintechs está se intensificando, disse o presidente do Banco Bradesco SA, Octavio de Lazari.

“A gente nunca teve taxas de juros tão baixas no Brasil durante toda a minha vida,” disse Lazari em entrevista na sede da Bloomberg em Nova York. “Não sabemos o que isso realmente significa.”

A Selic caiu este ano para 5%, de 14,25% em outubro de 2016, ainda alta em comparação com a taxa de 1,75% nos EUA e os níveis negativos na Europa. Mas, descontando a inflação, a taxa do Brasil está mais próxima de 2%, reduzindo as margens de lucro dos bancos. Ao mesmo tempo, empresas novas de tecnologia financeira, como a StoneCo Ltd. e o Banco Inter SA, estão colocando um desafio maior aos grandes bancos estabelecidos do país.

Nesse tipo de ambiente, a estratégia do Bradesco será cortar custos e tentar ganhar escala e participação de mercado, gerando “pequenos lucros em cada um dos diferentes tipos de negócios”, disse Lazari, acrescentando que o banco sediado em Osasco – o segundo maior do país em valor de mercado – abriu 1,5 milhão de novas contas correntes este ano.

Mas o próximo ano poderá ser não tão bom. Os ganhos com juros e o crescimento dos empréstimos dos bancos brasileiros podem ser pressionados se o Banco Central continuar cortando as taxas e a economia do país apresentar um desempenho sem brilho, de acordo com Nathan Dean, analista sênior da Bloomberg Intelligence. Os lucros do Bradesco ainda estão bem elevados, subindo 22% para R$ 19,2 bilhões neste ano até setembro, de R$ 15,7 bilhões no mesmo período do ano passado.

Entre as prioridades estão os empréstimos a pessoas físicas, principalmente crédito imobiliário – negócio no qual o Bradesco registrou um aumento de 16% neste ano. Os empréstimos para a compra de automóveis tiveram alta de 18%, de acordo com o banco, que tem cerca de 80 analistas usando big data para coletar e analisar informações sobre clientes, incluindo classificações de risco de crédito. Isso ajudou o Bradesco a acelerar o ritmo de expansão de empréstimos ao consumidor em 24% este ano, disse Lazari.

As taxas de juros dos empréstimos em torno de 51% ao ano para pessoas físicas, segundo o Banco Central, ainda estão bem acima da taxa Selic.

“A maioria do crédito pessoal é tomado à noite ou nos finais de semana, e 52% dessas transações são feitas por telefone celular, então isso é muito barato para o banco”, Lazari disse, acrescentando que a necessidade de agências está diminuindo.

Esses números não incluem o Next, o banco digital que o Bradesco criou há cerca de dois anos e meio para enfrentar o crescimento das fintechs. O Next está abrindo cerca de 8.000 novas contas por dia e será segregado do Bradesco em uma nova empresa, para a qual o banco procura um sócio externo, segundo Lazari.

“De dinheiro não precisamos”, disse ele. “O que precisamos é de um parceiro estratégico para agregar valor e conhecimento ao Next.” Uma oferta pública inicial de ações não está descartada em cerca de três ou quatro anos, disse Lazari.

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Cartões de crédito

No negócio de pagamentos com cartão de crédito, Lazari disse que o Bradesco está patrocinando “uma guerra de preços” para competir com empresas de tecnologia como a Pagseguro Digital Ltd. e a StoneCo.

O Bradesco é o maior acionista da processadora de cartões Cielo SA, com uma participação de 30% das ações com direito a voto. E não tem intenção de vender a empresa, disse Lazari.

“O negócio tem uma importância vital para o banco, por causa dos meus clientes corporativos”, disse, acrescentando que a Cielo tem sido vista “como uma empresa da velha economia e precisava se reinventar”.

Cerca de 70% da receita da Cielo vem de seus maiores clientes, e a processadora de cartão de crédito, com 43% do mercado, agora está tentando atrair mais pequenos e médios comerciantes, segundo Lazari. A empresa vendeu mais de 1 milhão de novas máquinas de cartão este ano e está recuperando participação de mercado que perdeu para as mais recém-chegadas, disse ele.

Esse sucesso não significa um retorno aos anos dourados.

“Esqueça: a Cielo nunca mais terá um lucro anual de R$ 3 bilhões”, afirmou Lazari. Em vez disso, os ganhos ficarão mais próximos de R$ 1 bilhão “e isso é bom”, segundo ele.

“Meu maior desafio é criar muitos ativos para o banco que nos proporcionem pequenos ganhos”, disse Lazari. “Não há mais bala de prata.”

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