Diretora de small cap que já disparou 100% este ano explica bom momento da companhia

Alessandra Gadelha explica os impactos positivos da queda da Selic e como o câmbio tem relação direta com o desempenho da empresa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde a semana passada, a small cap Springs Global (SGPS3) vem tendo seguidos pregões de fortes altas na Bolsa e começou a chamar atenção dos investidores. A arrancada é tão forte que apenas nos 14 pregões deste ano, a companhia já acumula ganhos de 99%, cotada em R$ 8,46. O volume de negócios também subiu consideravelmente, sendo que até ano passado a média não passava de R$ 1 milhão, e atá a tarde desta quinta-feira (19) o volume já superava R$ 10 milhões. 

Questionada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a empresa explicou que um motivo para a alta poderia ser o corte da Selic, mas segundo analistas esta disparada vai além apenas da queda dos juros. Em entrevista ao InfoMoney, a diretora de Relações com Investidores da Springs, Alessandra Gadelha, falou um pouco sobre o momento atual da companhia e como o futuro pode ser ainda melhor.

Segundo ela, a queda da taxa de juros contribui para a redução da despesa financeira da companhia e, consequentemente, para ampliação de seu resultado e de sua geração de caixa. No fim do terceiro trimestre, a dívida bruta atreladas ao CDI da Springs Global, somava aproximadamente R$ 600 milhões. “Assim, a redução de 1 ponto percentual da taxa de juros representa economia ou ganho R$ 6 milhões por ano, equivalente a 25% do lucro realizado em 2015”, explica.

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Nesta questão da dívida, Gadelha afirma que a principal meta da empresa é reduzir a alavancagem financeira, o que tornará possível evoluir no balanço. “A melhoria do resultado operacional e a redução do serviço da dívida contribuirão, concomitantemente, para a ampliação da geração de caixa e redução da alavancagem financeira da companhia”, disse.

Câmbio
Outro ponto importante e que afeta diretamente os negócios da Springs Global é o câmbio, já que cerca de 50% da companhia é originada fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos. Gadelha ressalta que esta receita não é de exportação de produtos, mas sim das operações que a companhia tem no exeterior, com atuação no Brasil, Argentina, EUA e Canadá.

Com isso, a taxa de câmbio influencia a receita destas operações quando transformadas para reais no resultado da companhia. Neste cenário, Gadelha explica que, em um caso hipotético onde a empresa gera US$ 250 milhões, a um dólar de R$ 4, o resultado seria R$ 1 milhão, enquanto com a queda da moeda para R$ 3, o valor final ficaria em R$ 750 milhões. “O resultado consolidado em reais da Springs Global é influenciado pelo câmbio, independentemente do seu desempenho operacional”, destaca.

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Por outro lado, o câmbio também tem grande efeito na competitividade da companhia no exterior. Usando os mesmos valores acima, por exemplo, um produto com custo de R$ 12, ficará em US$ 3 lá fora com câmbio de R$ 4, enquanto seu preço irá subir para US$ 4 com câmbio de R$ 3.

Por fim, Gadelha explica que um real mais depreciado ajuda a Springs Global, pois traz oportunidade de aumento do volume de vendas tanto no Brasil, através da substituição de importados, como no exterior, devido a maior competitividade no mercado internacional e, portanto, com possibilidade de exportação.

Ela destaca que, em 2014, o câmbio médio foi R$ 2,36, enquanto, em 2015, foi R$ 3,39, subindo para R$ 3,45 em 2016. “Um real mais depreciado seria melhor para a competitividade de nossos produtos, mas já houve um avanço expressivo em relação a 2014”, afirma. Segundo ela, a desvalorização do real em relação a 2014 resultou na redução de importação de produtos no setor de cama, mesa e banho. “Nós também reduzimos a participação de produtos importados nas nossas próprias coleções, o que nos ajuda a trabalhar com menor quantidade de estoque e, portanto, com menor capital de giro”, diz.

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Sobre as exportações, no segundo semestre de 2016 a companhia começou a exportar dentro da sua própria cadeia produtiva, substituindo alguns componentes que eram importados da Ásia por componentes brasileiros na operação dos EUA. Enquanto isso, ela destaca que a empresa continua desenvolvendo programas de exportações para varejistas e que, a partir de 2017, contribuirão para a expansão do volume de vendas e, consequentemente, da receita da companhia.

O futuro
Analistas já destacaram que a Springs Global chegou ao sétimo trimestre seguido de melhora no resultado ao fim de setembro. Gadelha destaca os números positivos, com crescimento de 5% da receita líquida nos nove primeiros de 2016, 25% de alta do Ebitda e 41% do resultado operacional.

“Aliado ao crescimento, houve melhoria de rentabilidade com avanço nas margens da bruta e Ebitda consolidadas”, lembra. “Apresentamos uma trajetória de crescimento nos últimos anos, com sustentação de rentabilidade, apesar do cenário adverso”, completa a diretora.

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Esta melhora operacional da companhia nos últimos meses está diretamente relacionada a uma reestruturação dos negócios. “Estamos ampliando nosso portfólio de produtos para oferecer solução integrada para os nossos clientes ‘one-stop-shop'”, diz Gadelha destacando que agora a companhia oferece produtos além das linhas tradicionais de cama, mesa e banho, em um conceito chamado de “moda lar”.

Neste mercado, a companhia agora tem linhas de produtos adicionais como uma linha de produtos para o sono, que incluem travesseiros, protetores de colchão e saias de colchão, além da linha de produtos têxteis de decoração que incluem, cortinas, mantas e almofadas. E é exatamente esta expansão dos negócios, com melhora operacional e market share de mais de 50% do mercado que fez analistas dizerem que a Springs Global poderia “se tornar uma Ambev em seu setor“.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.