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SÃO PAULO – A Farmais está sob nova direção — e seus dirigentes sabem qual prescrição receitar para o negócio. A marca de drogarias, que já passou por uma distribuidora de medicamentos e por um banco de investimentos, agora é detida por 34 de seus franqueados. Os empresários se uniram para recomprar a marca em um leilão judicial, fechado em dezembro de 2019.
Desde então estão reformulando layout e processos, anunciados oficialmente nesta sexta-feira (16). O objetivo é trazer rentabilidade a franquias já reconhecidas pelos consumidores. Segundo o estudo CVA Solutions Varejo Drogarias 2021, divulgado em abril deste ano, a Farmais está em sétimo lugar entre as redes de farmácia do país em relação ao custo-benefício percebido pelos clientes.
O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Ricardo Uemura Kunimi, um desses franqueados e atual presidente da Farmais. Kunimi é franqueado da Farmais há 23 anos e detém três unidades. O empresário falou sobre a história da rede até o leilão, assim como os planos dos franqueados para transformar a Farmais.
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A Farmais foi criada em 1994, como extensão de uma distribuidora de medicamentos. Em 2009, a rede de drogarias foi adquirida pelo BTG Pactual e se tornou parte da holding Brasil Pharma. O grupo concentrava outras marcas regionais de farmácias, como Big Ben, Guararapes Brasil, Mais Econômica, Rede Nordeste de Farmácias, Rosário Distrital e Sant’Anna.
A BR Pharma chegou a ser a terceira maior rede em número de lojas no varejo farmacêutico. Apenas a Farmais chegou a ter quase 500 unidades, operando pelo modelo de franqueamento.
Porém, a BR Pharma acabou entrando em recuperação judicial em janeiro de 2018. O pedido acatado pela Justiça em novembro do mesmo ano foi ajuizado na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo.
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“Foi por problemas de gestão, talvez por não conhecerem a fundo o mercado de farmácias. Mas a operação da Farmais em si era e continua superavitária”, diz Kunimi. O presidente não divulga o lucro da Farmais.
A holding enfrentou problemas de integração e acumulou uma dívida superior a R$ 1 bilhão, mesmo após ter tentado uma reestruturação que incluiu a venda das bandeiras Drogaria Rosária e Mais Econômica. Já a concorrência se tornou mais forte e unida anos antes: Raia e Drogasil se juntaram, assim como Drogaria São Paulo e a Drogaria Pacheco.
Os bens da BR Pharma foram à leilão, incluindo a marca da Farmais, já que os pontos comerciais eram dos franqueados. “Nós acompanhamos o que estava acontecendo, e nos unimos para fazer a aquisição da marca em dezembro de 2019. Não veio nada além do nome”, diz Kunimi. A compra de R$ 3,65 milhões foi dividida entre 34 franqueados, seis deles tornando-se sócios majoritários, incluindo Kunimi.
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Reestruturação da Farmais
Kunimi afirma que o primeiro passo após a compra foi visitas todas as lojas da Farmais. “Fizemos reuniões explicando o que tinha acontecido aos franqueados que não faziam parte dos acionistas. Eles estavam perdidos desde a decretação de falência e montamos um novo contrato de franquia”.
Os franqueados poderiam romper o contrato antigo sem multas ou rescisões. Os novos donos tinham 225 lojas na época da compra da marca e ficaram com 212 delas após as conversas, com 13 franqueados optando pela saída. O número coloca a marca entre as 20 maiores do segmento no país, segundo a própria Farmais.
Enquanto conversavam com os franqueados, os acionistas trabalharam para transferir oficialmente a marca. O desembaraço jurídico levou oito meses, com atrasos inclusive pela pandemia do novo coronavírus. Os seis acionistas majoritários estão assumindo a diretoria de diferentes partes da Farmais, como administração e negociação comercial.
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Os novos donos também contrataram a consultoria de franchising Cherto Franchising para reformular a Farmais. “Escrevemos uma nova circular de oferta de franquia, remontamos o organograma da franqueadora, mudamos o layout externo e interno das lojas e reformulamos diversos processos”, diz Américo Filho, diretor da Cherto.
Por exemplo, a área de negociação comercial tem uma ferramenta de precificação para os franqueados e reúne essas franquias para realizar compras coletivas das fabricantes de medicamentos. Os novos donos também contrataram uma consultoria tributária, que vê se cada farmácia está pagando impostos corretamente, e negociaram uma redução de 40% nas taxas cobradas pelas operadoras de cartões de crédito e débito. Por fim, a Farmais lançará um marketplace online para os franqueados venderem medicamentos pela internet.
O investimento inicial foi mantido em R$ 400 mil para novas unidades e R$ 300 mil para unidades de conversão. As taxas de franquia são R$ 50 mil e R$ 30 mil, respectivamente. A Farmais cortou seus royalties pela metade, para um salário mínimo por mês. “Essa readequação de taxa é uma ajuda ao franqueado e ajudou que ele aceitasse a nova gestão”, diz Kunimi. O faturamento médio mensal de uma unidade deve estar em R$ 180 mil a R$ 250 mil com as mudanças promovidas pelos novos donos, com margem de lucro de 15% a 20%.
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O objetivo dessas ações é aumentar a rentabilidade das farmácias e fazê-los atingir a margem de lucro proposta pela franqueadora. Segundo Kunimi, o aumento nos ganhos chegou a 30% em algumas das franquias que já incorporaram os novos processos. 122 lojas já estão integradas, enquanto 20 adotaram o novo layout de loja. Na renovação de contratos, as franquias restantes também terão a exigência de mudar sua aparência externa e interna.
Até o momento, os novos donos investiram R$ 10 milhões na reformulação da Farmais. A rede faturou R$ 628 milhões em 2020. O objetivo é abrir mais 50 franquias neste ano, chegando a 262 unidades e um faturamento de R$ 722,2 milhões. Em três anos, o objetivo é chegar a 500 lojas e um faturamento de R$ 2 bilhões. Nesses anos, o total investido entre franqueadora e franqueados será de cerca de R$ 150 milhões.
“Queremos estar de novo entre as dez maiores redes de farmácia do país. Estamos transformando cada loja de medicamentos em postos de beleza e saúde, de olho no que precedente aberto pelos testes de Covid-19. Vamos fornecer testes, vacinação e orientação farmacêutica técnica”, diz Kunimi. “Também estamos iniciando procedimentos de auditoria e estamos de olho em um IPO [oferta pública inicial de ações] no final desses três anos.”