Dark stores: o que são e como funcionam os supermercados “escondidos”

Criadas para atender o mercado de delivery, as dark stores servem como centro de armazenamento e distribuição de produtos para o ecommerce

Wesley Santana

Em tradução literal, “dark store” significa loja escura, mas se refere a um centro de distribuição para compras online. (Foto: Pixabay)

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Um estudo da Paypal, publicado no começo deste ano, revela que 5 em cada 10 brasileiros já compraram remédios ou mantimentos online. Destes, quase 90% preferem essa modalidade de entrega porque economizam tempo ou dinheiro.

Empresas como Ifood, Rappi e Daki são as que mais operam nesse segmento, prometendo entregas em até 15 minutos. Para agilizar o serviço, esses apps importaram para o Brasil o conceito de “dark store”.

Uma dark store (loja escura, na tradução literal) é um centro de distribuição próprio de um aplicativo, que elimina a necessidade de fazer parceria com outros supermercados para entregar os produtos. Desta forma, a empresa monta um espaço personalizado e, dentro de sua própria estrutura, atende os pedidos feitos pelos clientes.

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O app Daki opera exclusivamente neste modelo e, assim, consegue maximizar os lucros da operação. O sócio-fundador da marca, Alex Bretzner, explica que todo o negócio está sob o controle da empresa, da construção dos centros à avaliação final pelo serviço, o que inclui a gestão do estoque dos 80 pontos em atividade.

Ele destaca que o funcionamento via marketplace -modelo em que o aplicativo apenas faz o serviço de entrega dos itens- leva cerca de 15 dias para começar. No entanto, isso depende de negociações com supermercados, seja para vender a ideia ou estabelecer condições contratuais.

Por outro lado, mesmo que uma dark store leve, em média, 30 dias para começar a funcionar, ela permite que a companhia gerencie os custos, desde a negociação de preços com os fabricantes ao valor do frete para o cliente final.

Com esse sistema, é possível ‘espremer’ toda a operação para pagar os custos, deixar cada unidade no verde e lucrar.

“O grande diferencial é que não têm terceiros, tudo é feito dentro de casa. Elimina, também, aquele problema do cliente fechar uma compra e, na hora que o entregador chega no supermercado, precisa para fazer substituições, porque não encontrou um produto específico”, exemplifica.

“O modelo verticalizado resolve muitas dores operacionais e traz uma eficiência ao ponto de, se eu vender um produto por um determinado preço, para entregar em um tempo pré-determinado, eu consigo cumprir com o prometido”. “Eu controlo meus produtos, minha qualidade e o meu compromisso com o cliente”.

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Expandir é um problema

Embora este mercado esteja se expandindo, ele ainda é incipiente no país, e fica concentrado no eixo Rio-SP. Somando as três maiores empresas do segmento, são menos de 300 dark stores -ou seja, cerca de uma unidade para cada 730 mil pessoas.

Por isso, o que é qualidade acaba se tornando uma pedra no sapato dos aplicativos que oferecem esse tipo de serviço. Se no modelo padrão a operação é apenas do recebimento do pedido e da entrega dos produtos, no caso das lojas próprias todas as etapas ficam sob responsabilidade do aplicativo.

Neste cenário, mesmo que o negócio como um todo apresente um crescimento exponencial em menos de dois anos da inauguração, a Daki teve de fechar algumas lojas que havia aberto. Segundo a empresa, isso não teve a ver com um problema operacional em si, mas com uma reorganização da estratégia, que hoje está focada em bairros que são mais lucrativos.

Além disso, o mercado de tecnologia tem sofrido com uma queda de investimentos de risco, o que dificulta que startups recebam aportes. Até as que já têm status de unicórnio -como é o caso da Daki- estão com dificuldades para reforçar seu capital com recursos externos.

“Hoje, nossa dinâmica busca trazer saúde operacional e financeira. Uma vez retomado o apetite de risco no mercado, a gente sabe que vai estar em uma condição privilegiada para atrair capital”, prevê Bretzner, sócio-fundador da Daki.

Dark store versus mercado de proximidade

Outro ponto de atenção deste segmento tem sido a chegada acelerada dos mercados de vizinhança. Grandes marcas do setor, como Carrefour, Extra e Pão de Açúcar, adaptaram seus modelos de negócios ao novo comportamento do consumidor que agora prefere ir às lojas menores e mais próximas de casa.

Os modelos Minuto Pão de Açúcar e Carrefour Express somam mais de 100 unidades cada só no estado de São Paulo. A concorrência é feita, de igual modo, por uma operação agressiva da rede mexicana Oxxo que já passa de 120 conveniências no país em apenas dois anos desde o desembarque. A empresa é a maior rede de mercados do tipo na América Latina e surgiu de uma joint-venture entre a Femsa e a Raízen Combustíveis em 2019. A operação em conjunto resultou nas lojas Shell Select e lojas Oxxo, que somarão 1.374 pontos de venda no Brasil e 236 na Argentina e Paraguai até o final do primeiro trimestre de 2023. Outras 5.000 novas lojas devem abrir nos próximos 10 anos.

Os mini mercadinhos de bairro também estão na disputa por esses clientes. De acordo com um levantamento feito pelo Sebrae, o volume de abertura desses novos empreendimentos aumentou 12% entre 2020 e o ano passado. Hoje, há cerca de 400 mil estabelecimentos do tipo registrados em todo o país.

Neste caso, os aplicativos de delivery apostam na comodidade como fator de desempate na busca pelo maior número de clientes.

“Por que o cliente vai sair de casa, se os produtos estão com o mesmo preço e ele ainda tem essa comodidade?”, indaga. “Estamos devolvendo tempo livre para ele aproveitar com o que quiser, seja para trabalhar, estar com a família ou para assistir um filme”, conclui.