CSD BR aposta em tecnologia e ‘sócios de peso’ para rivalizar com a B3

Registradora investiu cerca de R$ 50 milhões desde 2018 para avançar no mercado de liquidação de ativos e blocktrade, com aportes de BTG, Santander e CBOE

Rikardy Tooge

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Há mais de 20 anos, desde o fim das negociações de ações na Bolsa do Rio de Janeiro, que a Bolsa de Valores de São Paulo, atualmente B3 (B3SA3), não tem um concorrente no mercado acionário. Insurgentes para desafiá-la não faltaram desde então, em especial após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central atuarem na regulação para promover mais concorrência.

As estrangeiras Bats, Direct Edge e Americas Trading Group (ATG) – esta do fundo Mubadala – já foram especuladas como potenciais rivais da B3. Outras iniciativas como Mark2Market e (bvm:)12 também tentaram, mas, por enquanto, nenhuma companhia conseguiu, de fato, “subir no ringue” com a dona da única Bolsa do Brasil.

Na esteira das mudanças regulatórias feitas pelo BC e CVM, surgiu em 2018 a CSD BR, uma registradora de ativos financeiros, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letra de Arrendamento Mercantil (LAM), Letras Hipotecárias (LH), CDBs, cotas de fundos, derivativos e apólices.

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O portfólio de serviços deverá aumentar até o fim do ano, se depender de seu fundador, Edivar Queiroz Filho. Há mais de dois anos, o executivo entrou com pedido de licença liquidação de ativos (Settlement System, em inglês) e depósitos centralizados de ativos.

No mercado acionário, a CSD BR iniciou as tratativas com a plataforma BIDS Trading para realizar blocktrades (negociação de grandes lotes de ações, destinada a investidores profissionais). A BIDS é uma subsidiária da CBOE Global Markets. A CBOE opera 19 bolsas no mundo e é a segunda maior CCP (Central Counterparty, em inglês) da Europa.

“Enquanto esperamos as autorizações, vamos fortalecendo nossos alicerces”, diz Queiroz Filho ao InfoMoney.

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Para o fundador da CSD BR este é o seu diferencial em relação aos outros postulantes de “nova Bolsa”. “Diferentemente dos outros, nós focamos na base das operações. Investimos na infraestrutura tecnológica”, reforça Queiroz Filho, que estima já ter investido cerca de R$ 50 milhões em no negócio nesses quase cinco anos.

Edivar Queiroz Filho, fundador da CSD BR (Divulgação)
Edivar Queiroz Filho, fundador da CSD BR: tecnologia será base para concorrer com a B3 (Divulgação)

Outro trunfo, lembra o executivo, é que a empresa está cercada de investidores “pesos pesados” do mercado. Em uma operação feita no início do ano passado, a CSD BR atraiu o BTG Pactual (BPAC11), o Santander (SANB11) e a CBOE (Chicago Board Options Exchange) para uma participação minoritária no negócio. A transação foi avaliada em R$ 200 milhões, segundo apuração feita na época pelos jornais Valor Econômico e Estadão.

Outro reforço no alicerce da CSD BR está em se cercar de profissionais com experiência no mercado de capitais. O ex-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Carlos Ambrósio, por exemplo, é um dos executivos próximo à empresa.

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Disputa no Cade

Em paralelo, a CSD BR tem diálogos com a B3 sobre interoperação, ou seja, a troca de informações, especialmente para um dia conseguir participar do mercado secundário de ativos. Edivar Queiroz Filho afirma que a concorrente tem dificultado o acesso aos dados, mas que seguirá buscando um consenso.

“Obviamente, a B3 não quer concorrência. Mas estamos tentando por todos os meios legais fazer valer nosso direito de ter a interoperabilidade”, afirma. “Nós somos do diálogo”, reforça Queiroz Filho.

Apesar de buscar um acordo, a empresa tem sem movido em outras frentes para garantir condições de igualdade. No fim de 2022, a CSD BR denunciou a B3 junto à Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por supostas práticas anticoncorrenciais. A autarquia abriu inquérito para investigar o caso. A informação foi publicada inicialmente pelo Valor e confirmada com fontes pelo InfoMoney.

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Na denúncia, a CSD BR acusa a B3 de praticar descontos impróprios, venda casada e exigir cláusulas de exclusividade “com o intuito de fechar mercados e excluir seus concorrentes efetivos e potenciais”.

Em nota, a B3 refuta a denúncia e nega praticar monopólio. “A B3 zela pelas melhores práticas concorrenciais em todos os mercados nos quais atua e acredita que o seu diferencial será sempre oferecer o melhor serviço e a melhor solução, buscando ser a escolha do cliente, e atuando em parceria para antever suas necessidades”, diz.

Se há disposição para uma disputa entre as empresas, as cifras ainda sugerem um caminho distante entre CSD BR e B3.

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Enquanto a CSD BR atingiu R$ 210 bilhões em ativos registrados em 2022, com 1.300% de crescimento, a B3 registrou R$ 7,46 trilhões em negócios nos mercados de renda variável, incluindo mercado à vista, a termo e opções no último ano.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br