Conta Azul: os bastidores do sistema de gestão que faturou mais de R$ 100 milhões no último ano

Vinicius Roveda fala sobre erros e acertos na primeira década da Conta Azul, que já economizou 350 mil horas de empreendedores e contadores

Mariana Fonseca

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Vinicius Roveda passou por várias dificuldades nos seus primeiros anos como empreendedor, tentando emplacar sua ideia de negócio. Mas ele já tinha decidido que essa ideia seria não apenas bem-sucedida. Ela também levantaria outros empreendedores no caminho. A ideia se tornou a Conta Azul. Em dez anos, o sistema de gestão já economizou 350 mil horas de empreendedores e contadores. Apenas em 2021, faturou mais de 100 milhões de reais. Hoje, a Conta Azul atende cerca de 100 mil clientes e 10 mil escritórios de contabilidade.

Em entrevista ao podcast de empreendedorismo, gestão e inovação Do Zero Ao Topo, Roveda fala sobre a sua trajetória, incluindo seus erros e acertos durante a primeira década da startup que ele cofundou. É possível seguir o programa e escutar a entrevista pelos agregadores de áudio ApplePodcastsSpotifyDeezerSpreakerGoogle PodcastCastbox e Amazon Music. Ou, ainda, assistir ao vídeo no YouTube.

“Empreender é uma gangorra emocional. Você tem que estar preparado para muita porrada, muita coisa que não vai dar certo. E saber que esse aprendizado vai trazer persistência, uma casca que você vai criando. Depois, os problemas, apesar de serem difíceis, você vai encarando com mais naturalidade”, diz Roveda. Ele também descreve no podcast os próximos passos da Conta Azul, e analisa a concorrência crescente entre sistemas de gestão empresarial. Confira alguns trechos da entrevista com Vinicius Roveda, cofundador da Conta Azul:

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Do Zero Ao Topo – Entre 2007 a 2011, enquanto tentava emplacar a Conta Azul, você chegou inclusive a voltar a morar com seus pais. Como você se sentiu durante essa situação? Bateu alguma insegurança, algum pensamento de que você deveria ter ficado no seu emprego?

Vinicius Roveda – Foi uma época difícil. Todas as planilhas, todos os planos… A realidade é que eles não acontecem conforme você pensou. Eu tinha algumas economias que eu fiz durante meu tempo como funcionário. Imaginei ia ser suficiente, não foi e tive de voltar a morar com meus pais. Tinha essa possibilidade, porque eles também tinham mudado para Joinville.

Foi fácil, mas fácil entre aspas, porque nunca é fácil voltar para a casa dos pais. Mas foi importante esse apoio da família, de poder contar com eles e ter um lugar para morar, mais tempo para pensar em alternativas.

Essa foi a primeira lição aprendida. Empreender é uma gangorra emocional. Você tem que estar preparado para muita porrada, muita coisa que não vai dar certo. O aprendizado trouxe persistência, uma casca que você vai criando. Depois, os problemas, apesar de serem difíceis, você vai encarando com mais naturalidade.

Eu não me recordo de ter vontade de voltar para meu emprego, sendo honesto. Sempre fui muito otimista, sempre gostei de ver o copo meio cheio. Acredito que isso é importante para o empreendedor, o fundador, o CEO. Você precisa olhar para o que tem na frente, ver uma oportunidade e persistir. É uma característica que eu tenho: todo aprendizado é uma nova esperança, um “acho que a gente achou uma nova forma de fazer funcionar”.

(…) Sempre gostei muito de empreendedorismo também. Poder ajudar micro e pequenas empresas me fascinava muito. Eu pensava que a gente tinha que fazer isso dar certo em algum momento.

Do Zero Ao Topo – A Conta Azul de fato começou em 2011, mesmo ano em que vocês aplicaram para a 500 Global, uma aceleradora do Vale do Silício. Como foi essa seleção, e por que você decidiu se inscrever?

Vinicius Roveda – A gente estava procurando conhecimento e investimento, e foi aí que nós acabamos conhecendo a 500. Eles tinham um evento no qual traziam empreendedores do mundo inteiro para um país. Daquela vez, estavam no Brasil, em São Paulo. Fomos até esse evento, conhecemos a turma deles e soubemos que eles iriam fazer um processo de seleção inclusive para empresas de fora dos Estados Unidos. Entre todas as empresas analisadas, fomos a escolhida.

(…) Foi uma surpresa muito positiva, a gente não esperava. Até porque nosso negócio era um ERP [sistema de gestão], uma coisa que não era tão legal assim para a maioria das pessoas com que a gente conversava. Mas a 500 entendeu que era um mercado muito grande, e que a gente tinha bastante experiência tentando entender e resolver esse problema. A gente conhecia do mercado e da tecnologia. Essa combinação determinou a decisão dele de escolher o nosso time.

Rapidamente arrumamos as coisas e nos mudamos ao Vale do Silício. Minha filha, Luísa, estava com três meses. Foi uma decisão muito difícil em vários aspectos, a de abrir mão da Informant, uma empresa que estava dando certo, e ir em busca de um sonho, recomeçar. Justo quando estava com uma filha – e com cuidados e preocupações adicionais, que antes de um filho você não tem.

(…) A gente não sabe quais serão as consequências dessas decisões que vamos tomando. Você tem que estar em busca de um sonho muito grande para seguir em frente. Passar quatro meses da 500 foi um grande divisor de águas para a gente. Aprendemos muito. Esses quatro meses valeram muito mais do que os quatro anos anteriores. Não basta ter tempo, é preciso saber o que você vai fazer.

Do Zero Ao Topo – Qual foi o momento mais difícil que você passou nesses mais de dez anos de Conta Azul? Como você superou esse problema, e como outros empreendedores podem também passar por cima dessa situação?

Vinicius Roveda – A todo momento surge um novo desafio, empreender é isso. Primeiro, tínhamos de construir um ERP completamente diferente do que a indústria fazia. Depois, tínhamos de crescer começando com um produto mais self service [auto atendimento]. O próximo passo era construir um time de atendimento e de vendas, e escalar tudo isso com muita inteligência. Construir um grande time, criando uma estrutura de liderança e trazendo pessoas mais seniores, foi mais uma etapa. Cada nível de maturidade pelo qual passamos teve seu desafio.

Mesmo assim, o início é mais vida ou morte. Pode dar muito certo, ou muito errado. (…) O principal é você ter uma validação muito forte de que você está resolvendo um problema, de que você não criou um problema para resolvido. Depois que você validou que tem um problema real, que o mercado é grande o suficiente e que cabe uma empresa do tamanho que você almeja, execução é tudo. Por mais que você crie planos, as projeções não vão acontecer como na planilha.

E a execução parte de você ter pessoas boas. (…) Você não tem tanto tempo para aprender, e o empreendedor já tem o desafio de aprender sobre tudo muito rápido. Essa facilidade em aprender é uma característica que tem que ter em todo empreendedor, especialmente para quem é dono de negócio de primeira viagem.

Sobre o Do Zero ao Topo

O podcast Do Zero ao Topo traz, a cada semana, um empresário de destaque no mercado brasileiro para contar a sua história, compartilhando os maiores desafios enfrentados ao longo do caminho e as principais estratégias usadas na construção do negócio.

O programa já recebeu nomes como André Penha, cofundador do QuintoAndar; David Neeleman, fundador da Azul; José Galló, executivo responsável pela ascensão da Renner; Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos; Artur Grynbaum, CEO do Grupo Boticário; Sebastião Bonfim, criador da Centauro; e Edgard Corona, da rede Smart Fit.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.