Concentrar ou diversificar: qual a melhor alternativa para os negócios da Vale?

Novo CEO afirmou que pretende ampliar os negócios da mineradora, mas, para gestor, focar no minério de ferro é a melhor opção

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – No ramo das finanças, um dos mandamentos ao criar uma carteira de investimentos é diversificar, pois essa estratégia permite uma diluição dos riscos e menor volatilidade dos resultados. Porém, quando estamos tratando do setor produtivo, nem sempre “colocar os ovos na mesma cesta” é a pior alternativa.

Em casos de empresas com vantagens competitivas, diversificar os negócios pode resultar em menor eficiência, impactando diretamente no ROI (Retorno sobre Investimento, em tradução livre). Por meio desse indicador, é possível quantificar o retorno produzido pelas decisões de investimento. Tendo vantagem competitiva, a companhia consegue ter um custo menor e melhorar seus ganhos, como é o caso da Vale (VALE3;VALE5) na produção de minério de ferro.

Por sua expertise, a brasileira detém vantagem competitiva em relação aos seus pares globais na produção da commodity. Para se ter uma ideia, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Vale do segmento foi de US$ 10,5 bilhões no ano passado, enquanto de sua concorrente direta, Rio Tinto, totalizou US$ 8,5 bilhões no período. Boa parte dessa diferença deve-se ao custo da mineradora brasileira neste mercado.

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Segundo Marcos Peixoto, gestor da XP Gestão e Recursos, o custo da Vale com a produção de minério de ferro é de US$ 30 a tonelada. Ou seja, mesmo com a forte queda da commodity nesses últimos tempos, que está próxima de US$ 50 a tonelada, a mineradora tem uma boa “gordura” até chegar no seu limite de custo.

Concentrar ou diversificar?

Por esse tipo de vantagem, a Vale decidiu nos últimos tempos concentrar seus esforços no setor de minerais ferrosos, que, de fato, é o carro-chefe dos resultados. No ano passado, dos US$ 29,5 bilhões de receita operacional, US$ 20,3 bilhões foram deste segmento, sendo US$ 19,6 bilhões oriundos de minério de ferro + pelotas de minério de ferro.

Diante de tudo isso, a estratégia de “colocar os ovos em uma mesma cesta” faz sentido para a Vale. Correto? Talvez para Fabio Schvartsman, novo CEO da mineradora, a busca de novas fontes de receitas seja uma alternativa para otimizar o negócio. Isso por que, em reunião com analistas na semana passada, afirmou que a Vale está reavaliando o plano de atuação no mercado e em breve voltará a uma fase de expansão de seus negócios, que inclusive inclui oportunidades de M&A (fusões e aquisições na tradução livre) para diversificar seu portfólio.

Essa foi uma das estratégias do antigo presidente, Roger Agnelli. Enquanto esteve no comando, entre 2001 a 2011, Agnelli foi responsável pela internacionalização da empresa, que firmou presença desde o segmento de níquel, com a compra da canadense Inco, até no ramo de fertilizantes com a compra da Fosfertil e dos ativos [de fertilizantes] da Bunge no Brasil. Porém, essa estratégia foi criticada pelo mercado, pois a Vale entrou em mercados onde seu custo era maior frente seus concorrentes. Daí que vem a questão: concentrar ou diversificar?

Concentrar é o melhor negócio

“Avalio que seria melhor que a Vale focasse no seu core business, que é onde ela tem diferencial e custo baixo”, destaca Peixoto. Pela importância que o minério de ferro tem na composição de receita da companhia e a vantagem competitiva da Vale, como demonstrado acima, faz todo sentido, mesmo que a mineradora fique “refém” da variação da commodity. 

Porém, caso a estratégia de diversificação for levada ao pé da letra, Peixoto destaca que não será nada desenfreado. Primeiro, por que a Vale está com o “caixa curto” e em fase de desalavancagem. Por fim, lembra o gestor, Schvartsman é um CEO experiente e muito respeitado pelo seu trabalho à frente da Klabin (KLBN11). Por tudo isso, Peixoto acredita que o novo presidente da mineradora não deve cometer esse erro e “por isso os investidores darão um voto de confiança”.

Para o gestor, a postura de Schvartsman também está relacionada ao tipo de relacionamento que o presidente quer com o mercado, demonstrando que ele não está lá “só para pagar dividendos”, mas é um gestor pró-ativo e preocupado com o rumo da mineradora. Agora é esperar como será a condução do novo CEO de uma das maiores mineradoras do mundo.