Aviação executiva decola: entenda como está o setor e como voam e quais aviões usam os executivos brasileiros

Compartilhamento de aeronaves tem sido a solução para ganhar exclusividade, fugir da fila de espera e pagar menos por aviões executivos

Wesley Santana

Por dentro da aeronave Phenom 300E da Embraer. Foto: Divulgação/Embraer

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A lotação de aeroportos, muito comum em períodos de festas de fim de ano, a greve dos aeronautas e a busca por flexibilidade, pode levar ainda mais pessoas com possibilidade de gastar (bem) mais a investir na aviação executiva – uma modalidade de transporte cuja demanda tem aumentado a cada ano. 

Até outubro deste ano, a Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG) registrou uma média mensal de 30 mil pousos e decolagens de voos executivos. Esse número representa uma alta de 15% em relação aos índices registrados em 2019, no pré-pandemia, e de 40% em relação à 2020. O aumento indica que tem sido cada vez mais frequente ver aviões executivos voando pelo país, especialmente nas rotas que ligam os negócios, como entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Essa foi a forma que alguns empresários e executivos brasileiros encontraram para encurtar viagens de longa distância e, ao mesmo tempo, fugir dos voos comerciais.

O aumento da demanda criou oportunidade para as gestoras de compartilhamento de aeronaves, como a Avantto, que registrou um aumento de quase 50% na busca pelos seus serviços. O modelo de negócio, que divide uma aeronave em até 20 donos, possibilita que os clientes tenham acesso ao equipamento quando precisarem sem desembolsar o valor total de uma unidade.

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Com isso, em vez de pagar e esperar por um helicóptero ou avião próprio, o cliente divide o uso da máquina com outras 19 pessoas, tendo o direito de usá-la dentro de uma franquia acordada com a empresa -normalmente 60 horas por ano.

“Nós contratamos os pilotos, gerenciamos a manutenção das aeronaves, somos responsáveis pela logística de utilização [como a organização das agendas] e garantimos que, sempre que o cliente precise, ele tenha uma aeronave à sua disposição”, destaca Rogério Andrade, CEO da Avantto.

Especialmente nos casos em que o comprador não tem necessidade de viajar todos os dias, a empresa afirma que a economia chega a 95%. Isso porque, ao adquirir uma participação, ele precisa arcar com ela e com uma taxa de administração, mas não tem a necessidade de manter uma equipe própria para cuidar dos aviões. 

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“Geralmente, quem tem uma aeronave usa muito menos do que a capacidade da máquina. Grande parte desse público voa entre 80 e 100 horas por ano, ou seja, ele tem um avião que custa milhões de dólares, mais um custo que pode ir de R$ 50 mil a R$ 100 mil por mês, para usar algumas horas por mês”, pontua.

Para este ano, a empresa projeta um avanço de 30% no faturamento. Mas as companhias do tipo também enfrentam alguns obstáculos. O principal deles é a baixa disponibilidade de aviões no mercado, o que, por sua vez, encarece o custo de aquisição. Só na Embraer (EMBR3), uma das maiores fabricantes de jatos executivos do mundo, por exemplo, a fila de espera para adquirir uma aeronave passa de 2 anos.

No começo de 2022, a aeronave da série Phenom 300 (veja foto na galeria abaixo), da Embraer, que custa cerca de US$ 10 milhões, alcançou a marca de bimotor a jato mais vendido no mundo pelo 10º ano consecutivo, com uma média anual de 50 aeronaves entregues.

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Para onde os executivos voam?

Quando se fala em trabalho, a ponte aérea Rio-SP queima a largada de trecho mais movimentado, reproduzindo o mesmo cenário da aviação comercial. Brasília, onde acontecem as decisões políticas, é o terceiro lugar em procura pelo público frequente, seguida pelas capitais do centro-oeste que são usadas pelos empresários do agronegócio.

Em termos de lazer, as decolagens da Avantto têm sido principalmente com destino ao Nordeste, com destaque para Trancoso, na Bahia. Um dos trechos internacionais mais requisitados é Punta Cana, na caribenha República Dominicana.

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Em quais veículos?

Produzido no Brasil pela Helibras, o modelo de helicóptero Esquilo é um dos mais procurados, em razão da sua versatilidade. Avaliado em US$ 4 milhões, ele tem autonomia superior a 4 horas de voo e pesa cerca de 1,2 mil quilos.

Outras máquinas também cobiçadas são as produzidas pela italiana Agusta, com preços que podem passar de US$ 6 milhões. O AW169, por exemplo, que tem voo por instrumento e capacidade para 12 pessoas, tem valor estimado em US$ 8,5 milhões (cerca de R$ 44 mi na cotação atual). 

Já entre os aviões, se destaca o Phenom 300, da Embraer, que consegue atender as necessidades de quem quer voar sem escala para qualquer lugar do Brasil. Com capacidade para até oito passageiros, em 2021, ele é o jato executivo mais vendido no mundo há pelo menos uma década.

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Segundo dados da fabricante, o equipamento pode atingir uma velocidade de até 850 km/h e tem autonomia superior a 3.700 km. A Embraer afirma que mais de 50 unidades como esta já foram entregues neste ano, mas a expectativa é sejam 100 modelos no acumulado do ano.

Aviação executiva no Brasil

O aumento da demanda fez muitas companhias alçarem voos ambiciosos. A Flapper, por exemplo, empresa de aviação executiva sob-demanda, anunciou, recentemente, um novo financiamento com os fundos de private equity DXA e Arien. A captação de R$30 milhões faz parte de uma extensão da Séries A, aumentando o tamanho da rodada para R$ 40 milhões até o momento.

Com os novos recursos, a Flapper espera lançar ainda este ano um programa de gerenciamento de aeronaves,  investir em tecnologia mobile e desktop e fortalecer o time com a contratação de nomes consolidados no mercado. Hoje, a empresa comercializa voos regulares na região Sudeste, com dez destinos de alta temporada em todo o país e possui mais de 1200 aeronaves para fretamento certificadas em sua plataforma. 

O setor também deve ganhar um polo aeronáutico em Goiás, na região metropolitana de Goiânia. Chamado de Antares, as obras para o complexo começaram no dia 15 de julho e serão entregues por etapas. A primeira entrega, com pista de pouso, área de embarque e desembarque, 72 áreas para hangares com área entre 1.200 e 1.500 metros quadrados está agendada para 2024. Para Francisco Lyra, empresário, piloto, consultor e diretor operacional do Antares, “a necessidade de conectividade num país continental, como o nosso, força os empreendedores a buscarem alternativas de locomoção e logística”, diz. Lyra afirma ainda que apenas 100 municípios são atendidos com com voos regulares oferecidos pela a aviação comercial. “Enquanto isso, a aviação de negócio consegue conectar cerca de três mil municípios brasileiros”, afirma.

O empreendimento deve ocupar uma área de 209 hectares e atrair empresas de táxi aéreo, serviço aeromédico, manutenção, hangaragem, escolas para formação de pilotos e estrutura de apoio, com comércio, restaurantes e hotel para a região Centro-Oeste, que concentra grande parte da movimentação da aviação executiva no Brasil. De acordo com estimativas da empresa, o Antares deve absorver parte dos 63 mil pousos e decolagens realizados na região todos os anos.

O potencial do setor também atraiu empresas de fora da aviação, como a XP Asset que arrematou o bloco formado pelos terminais de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e Campo de Marte, em São Paulo, com uma oferta de R$ 141,4 milhões em leilão realizado na B3 em agosto. 

A oferta solitária pela concessão por 30 anos tem algumas razões. A principal delas é que, depois de avaliar a infraestrutura no entorno e os contratos de alugueis de lojas, hangares e galpões que vencem, em entre 2025 e 2028, a gestora entendeu que havia uma oportunidade imobiliária e logística. “Além dos voos de aviação executiva, e operação com aeronaves elétricas, os eVtols, temos mais de 300 mil metros quadrados para explorar. Podemos construir complexos logísticos, área comercial, restaurantes”, afirmou, na ocasião, Túlio Machado, head de infraestrutura da XP Asset.