Com IPO no radar, construção civil ganha força na tese da Softplan

Empresa de tecnologia investiu R$ 80 milhões em soluções para o setor e viu seu faturamento no segmento crescer mais de cinco vezes

Rikardy Tooge

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Desde quando a estação favorável para as empresas de tecnologia se tornou um intenso inverno de restrição financeira, as teses voltadas para receita recorrente com a oferta de produtos para empresas, o chamado B2B, passaram a prevalecer no mercado. Sob este clima, o Software as a Service (SaaS) ganhou tração nos últimos anos por atender estes dois requisitos.

Empresas listadas, como Sinqia (SQIA3) e Totvs (TOTS3), e as postulantes à Bolsa NSTech e Softplan têm atraído a atenção dos investidores pela resiliência e pelo apetite para expandir seu portfólio.

“O cenário está mais propício para aquisições do que para captações. As empresas de SaaS surfam melhor o momento por conta da recorrência, enquanto startups voltadas ao consumidor [o B2C] sofrem mais, é uma jornada mais longa para obter receita”, explica Luis Felipe Trovo, sócio da LKC Capital.

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Em março, a Softplan anunciou a compra da Prevision, que oferece soluções para a cadeia da construção civil. O M&A, que não teve valor divulgado, foi o quarto da empresa catarinense voltado para o setor nos últimos anos.

“Nós começamos nosso negócio, há 33 anos, com soluções para a construção civil, mas era um setor difícil de digitalizar e a oferta tecnológica na época não era a ideal”, lembra Ionan Fernandes, diretor executivo da Softplan.

Se a barreira de entrada não permitiu escala em um primeiro momento, a empresa encontrou tração na digitalização de tribunais e governos, que, hoje, compõem a sua principal vertical de negócios.

Construindo a tese

A tecnologia avançou, as barreiras de entrada caíram e a construção civil voltou ao radar da Softplan em 2015. Desde então, a companhia ampliou seu faturamento de R$ 30 milhões naquele ano para algo em torno de R$ 170 milhões em 2022, enquanto o número de clientes cresceu de 1,3 mil para 5,5 mil.

Se há oito anos, as frentes de Legal e Governo representavam 85% do faturamento, hoje equivalem a cerca 50% dos R$ 586 milhões de receita de 2022 – a outra metade vem da oferta de produtos SaaS, com destaque para vertical de construção civil, liderada pela plataforma Sienge.

“A construção civil sempre foi um setor muito fragmentado – temos 60 subsetores dentro dele. Com os serviços em nuvem ganhando escala, vimos oportunidade para avançar”, reforça Fernandes. Desde a pandemia e sem considerar gastos com aquisições, a Softplan investiu R$ 80 milhões apenas em produtos e tecnologia no Sienge, um software de gestão (o chamado ERP) que cobre a jornada de vendas, o orçamento da obra, o cronograma e os estoques da construção que, segundo a Softplan, gera uma economia de 15% e evita estouro de cronograma das obras.

Há também investimentos em marketplace para o setor, por meio da plataforma Collabo. “Hoje, cerca de 70% das construtoras compram insumos no varejo, existe uma lógica de pedido mínimo que não faz mais sentido. Nossa plataforma ajuda nisso”, explica Ionan Fernandes. Por mês, a Softplan estima movimentar R$ 5 bilhões em pedidos.

IPO e planos futuros

Para este ano, a empresa de Santa Catarina projeta faturamento de R$ 760 milhões, o que seria um crescimento de 30% em relação ao ano passado. E os serviços de SaaS é que deverão puxar esse avanço, estima o diretor executivo.

Outro tema que está no radar da empresa é prospectar uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) quando o mercado reabrir. Ionan Fernandes reforça que a empresa não tem pressa, mas afirma ver um interesse cada vez maior dos investidores pelo modelo de negócio.

“A Softplan chama a atenção do mercado pelas aquisições relevantes, como a Prevision, que trazem margem e tem sinergia. A Bolsa tem demanda para empresas com este perfil. O mercado está mais diligente. Se antes a pauta era crescimento qualquer preço, agora se busca previsibilidade e entrega”, lembra Luis Felipe Trovo, da LKC Capital.

Para Fernandes, contudo, o momento atual, de janela fechada para IPOs, é o ideal para ver e ser visto pelos investidores. “É o nosso momento de ouvir e entendemos que intimidade gera velocidade”, conclui o executivo.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br