CEO do TikTok deixa empresa em meio às pressões do governo Trump

Kevin Mayer assumiu o cargo em junho após deixar a presidência do Disney+

Pablo Santana

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Kevin Mayer renunciou ao cargo de CEO do TikTok no meio de uma crise envolvendo a empresa e o governo americano, que pressiona a rede social chinesa a vender suas operações nos Estados Unidos para não ser banida.

O executivo anunciou sua saída da empresa em uma carta interna aos funcionários da TikTok e de sua controladora ByteDance. 

“Nas últimas semanas, conforme o ambiente político mudou drasticamente, fiz uma reflexão significativa sobre o que as mudanças estruturais corporativas exigirão e o que isso significa para o papel global para o qual me inscrevi. Nesse contexto, e como esperamos chegar a uma resolução muito em breve, é com o coração pesado que gostaria de informar a todos que decidi deixar a empresa”, escreveu Mayer na carta.

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Mayer ingressou na companhia em junho, após deixar a presidência da Disney+. Sua ida para o TikTok foi uma tentativa da empresa de mostrar ao mundo a independência dos seus negócios em relação à China.

“Eu entendo que a função para a qual me inscrevi, incluindo a de administrar o TikTok globalmente, parecerá muito diferente por conta da ação do governo dos Estados Unidos de pressionar pela venda dos negócios”, acrescentou.

Vanessa Pappas, gerente geral do TikTok nos Estados Unidos, assumirá interinamente o comando global da empresa.

A rede social chinesa, controlada pela ByteDance, entrou com uma ação na Justiça americana nesta segunda-feira (24) para derrubar uma ordem executiva que impede empresas ou qualquer cidadão americano de fazer negócios com a companhia. Entenda mais sobre a guerra tecnológica protagonizada pelo TikTok, envolvendo China e EUA.

A companhia argumenta que o governo americano ignorou seu Estado de Direito na implementação da ordem executiva assinada pelo presidente americano no início do mês, ao não notificar a empresa antes da ordem executiva. Ela também se diz vítima de ataques promovidos por Trump, que afirma que a empresa representa um risco à segurança dos Estados Unidos.

Segundo o presidente americano, a coleta de dados do TikTok e do WeChat, da chinesa Tencent, que também sofreu embargos por parte do governo, poderia “permitir ao Partido Comunista Chinês acesso às informações pessoais e proprietárias dos americanos”, garantindo à China a possibilidade de rastrear a localização de funcionários federais, criar dossiês com informações pessoais para chantagem e conduzir espionagem corporativa.

Negociações seguem indefinidas

Com o governo obrigando o aplicativo de compartilhamento de vídeos a vender seus negócios nos EUA, a empresa teria procurado a Netflix para vender as suas operações, segundo reportagem publicada pelo The Wall Street Journal. 

Correndo contra o tempo após uma ordem emitida pelo presidente Donald Trump, em 14 de agosto, dar um prazo 90 dias para o TikTok fechar negócio com uma empresa americana, a rede social chinesa buscou a empresa de streaming para um acordo de aquisição, que foi rejeitado pela Netflix.

A Netflix é a mais nova empresa ligada às negociações envolvendo o TikTok. Alphabet, controladora do Google, Twitter e Apple também já foram apontadas como possíveis compradoras das operações do TikTok nos EUA, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.

Segundo especulações, as operações da companhia nos Estados Unidos estão estimadas entre US$ 10 bilhões e US$ 50 bilhões.

Há algumas semanas, a ByteDance confirmou estar negociando com a Microsoft a venda de parte das operações mundiais do TikTok. A empresa fundada por Bill Gates confirmou sua intenção e informou ter discutido a compra com o presidente Trump.

O presidente americano, por sua vez, revelou em entrevista para jornalistas que o Tesouro Nacional poderia ficar com uma parte das receitas provenientes da aquisição. Trump até o momento não disse como esse mecanismo de transferência de parte do montante da venda iria chegar aos cofres do Tesouro, mas especialistas apontam que essa imposição dificulta ainda mais as negociações. 

A Microsoft também deixou claro que poderia convidar outros investidores norte-americanos, como as empresas de private equity americanas General Atlantic e a Kohlberg Kravis Roberts, para ter participações minoritárias no negócio.

Segundo fontes envolvidas nas negociações, um dos desafios das empresas na negociação seria a transferência das milhões de linhas de código do software do TikTok dos servidores chineses para os servidores nos Estados Unidos.

A controladora do TikTok também está em negociações com a multinacional americana de tecnologia e informática Oracle. Segundo informações, a companhia está trabalhando com um grupo de empresas de capital de risco americanas que já possuem uma participação no TikTok.

Oracle em vantagem

De acordo com informações do The Wall Street Journal, a General Atlantic e a Sequoia Capital, dois grandes investidores da ByteDance, estariam fazendo pressão para que a Oracle saia na frente na corrida para adquirir as operações do aplicativo nos Estados Unidos.

As duas empresas poderiam receber uma grande participação da venda dos negócios do TikTok, segundo fontes ouvidas pelo jornal americano. Situação diferente da que ocorreria com a Microsoft, que apenas sugeriu a possibilidade de convidar investidores americanos a adquirir uma participação minoritária no TikTok. 

A Oracle também possui uma vantagem política, já que seu co-fundador, Larry Ellison, é apoiador direto do presidente Donald Trump. Ellison realizou uma arrecadação de fundos para a campanha presidencial de Trump no início deste ano.

As conexões políticas da Oracle com a Casa Branca também incluem a sua CEO, Safra Catz, que fez parte da equipe de transição de Trump em 2016.

Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios