‘Bolsa de valores’ de startups começa a operar com ações a partir de R$ 10

Radix Florestal é primeira listada da SMU Investimentos em projeto da CVM que prevê um mercado organizado para pequenas e médias empresas

Wesley Santana

Compra e venda de ações das startups listadas serão feitas via home broker. Foto: Divulgação

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Nesta segunda-feira (17), começaram a ser negociadas as ações da Radix Florestal, uma empresa de reflorestamento, no Mercado de Startups SMU. Em um modelo parecido com a bolsa de valores tradicional, os investidores podem adquirir cotas dessa e de outras pequenas e médias empresas listadas a partir de R$ 10.

O mercado secundário de startups é um projeto-piloto da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que pretende tornar os investimentos em startups e PME muito parecidos com o de companhias listadas nas bolsas de valores, com divisão em cotas.

O chamado sandbox regulatório (que funciona através de autorizações temporárias) tem o objetivo de formar um balcão organizado, onde os investidores podem negociar suas cotas diariamente, tentando aproximar negócios menores da mesma liquidez que tem o mercado de capitais.

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A SMU Investimentos foi uma das primeiras fintechs autorizadas pelo órgão a operar neste segmento, sendo responsável pela escrituração e tokenização dos ativos. A vertical Mercado de Startups trabalha com o objetivo de listar outras 5 empresas até o próximo mês e manter o ritmo de uma nova listagem a cada 15 dias.

Em seu “mini IPO”, a Radix Florestal começou a negociar 280 mil cotas, referentes à primeira listagem feita na plataforma Kria. Uma das exigências feitas pela CVM para a formação deste novo balcão é que 40% dele seja formado por empresas que fizeram listagens primárias em plataformas de crowdfunding diferentes.

“Com a crescente demanda por produtos sustentáveis e de alta qualidade, existe um grande potencial de crescimento deste mercado no Brasil, por promover a conscientização sobre a importância do manejo florestal sustentável e cultivo responsável. O mercado secundário é uma oportunidade para os investidores, não só promovendo liquidez para os ativos captados em mercado primário, mas, também, trazendo novas possibilidades de diversificação para carteiras de investimento”, afirma Pedro Rodrigues, CEO do Mercado de Startups SMU.

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As empresas que optarem por realizar listagens no mercado secundário não vão precisar se desfazer de mais uma parte do seu capital, pois as cotas negociadas correspondem à fatia cedida na listagem inicial. Na prática, os tokens são vendidas pelos investidores que entraram via crowdfunding e que agora decidiram deixar o negócio ou se desfazer de parte dele.

Todo o processo do mercado secundário é feito entre os próprios investidores, virtualmente, e inclui a tokenização através de blockchain, como forma de fracionar os ativos e garantir segurança aos acionistas. Além da SMU, estão envolvidos nesse processo Demarest Advogados, Digitra.com e nTokens.

Bom para todos os lados

Em discussão há alguns meses, a organização do mercado de ações traz três soluções para os investimentos em startups. Em primeiro lugar, fomenta o crowdfunding, que foi a saída que muitas pequenas e médias empresas de tecnologia encontraram para levantar capital nos últimos meses.

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Do lado do investidor, abaixa uma régua altíssima que existe, já que tira a necessidade de desembolsar a partir de R$ 1 mil para apostar em uma startup. Por fim, dá aos acionistas a liquidez de negociarem suas cotas muito antes do vencimento estabelecido na listagem primária.

Para Camila Nasser, CEO do Kria, a criação do mercado secundário deve impulsionar o primário, pois permite a chegada de novos investidores e em maior quantidade. Ela destaca que por muito tempo a liquidez foi o principal desafio na atração de clientes para as teses listadas via crowdfunding.

“Estamos acompanhando uma história completa, de uma empresa que captou inicialmente com centenas de investidores que queriam investir em florestamento e que, agora, têm oportunidade de ver o resultado de seus aportes. A visão de liquidez que estamos tendo hoje impulsiona o próprio mercado primário”, acredita.

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Conforme explica Pedro Rodrigues, CEO do Mercado de Startups SMU, embora seja muito parecido com a bolsa de valores tradicional, este formato tem algumas diferenças, especialmente no que se refere à volatilidade dos ativos. Nas ações de companhias públicas, os investidores buscam comprar por um preço e vender por uma quantia maior. Essa lógica pode se replicar na bolsa de startups ou não.

“O mercado está chamando de marketplace porque ele não faz um casamento de ordens, mas monta um livro de ofertas, em que um lado registra a compra e o outro a venda, sem criar um valor de mercado. É como você ter um celular e querer vender por um preço. Se alguém quiser, vai pagar, mas não necessariamente ele estará valendo aquele preço”, define.