Ambev: delação de Palocci e corte de recomendação tiram ímpeto da ação após salto de 15%

Analistas do Itaú BBA haviam feito uma dupla elevação de recomendação após a empresa divulgar seu resultado do segundo trimestre, mas reduziram também em meio a notícias de delação envolvendo a fabricante de bebidas

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde que divulgou seu resultado, no dia 25 de julho, a Ambev (ABEV3) disparou 15%, chegando a R$ 20,63, mas parece que a empolgação perdeu força.

Em meio à delação envolvendo a companhia e ao corte de recomendação do Itaú BBA, as ações ABEV3 registraram uma das maiores quedas do Ibovespa, com baixa de 2,12%, a R$ 20,17, nesta quinta-feira (8). 

O Itaú BBA, que há quinze dias fez uma dupla elevação de recomendação, decidiu nesta quinta rebaixar a fabricante de bebidas. 

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Em relatório, a equipe de analistas liderada por Antonio Barreto afirma que as ações da Ambev “subiram mais rápido e mais intensamente do que esperávamos”, sendo que o potencial de upside neste momento é de apenas 6,6% para o preço projetado para o fim de 2020. Com isso, os analistas agora têm recomendação de “market perform”, mantendo o preço-alvo de R$ 22 para ano que vem.

A tese do Itaú se baseia em duas questões: o cenário econômico, que retirou a assimetria de preços que havia até pouco tempo para os papéis, e a notícia sobre a delação do ex-ministro Antonio Palocci citando a Ambev.

No primeiro caso, os analistas apontam que a taxa Selic mais baixa eleva o “custo de capital” da companhia, ou seja, aumenta a exigência do mercado por um retorno melhor para investir na companhia. Em meio a isso, a Ambev registrou um resultado melhor que o esperado mesmo em um cenário adverso para o mercado de cerveja.

“Em nossa visão, tanto as taxas de juros mais baixas quanto os melhores resultados no exterior já foram precificados após a alta de 15% nos últimos 15 dias, o que não é comum para uma companhia com baixo beta como a Ambev”, afirmam os analistas.

Outro fator negativo é a notícia do jornal “O Estado de S. Paulo” de que Palocci, em sua delação premiada, afirmou que a Ambev fez “pagamentos indevidos” aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e a ele próprio.

É a primeira vez que a multinacional de bebidas aparece nas investigações da Lava Jato. O interesse da empresa, de acordo com uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, era impedir o aumento de imposto (PIS/Cofins) sobre bebidas alcoólicas.

Em nota enviada à agência de notícias Reuters, a Ambev disse que as alegações relatadas “são falsas e incoerentes”. “Falsas porque nunca fizemos pagamentos de qualquer natureza para obtenção de vantagens indevidas. E incoerentes porque, desde 2015, o setor de bebidas sofreu um grande aumento da carga tributária referente a PIS/Cofins, da ordem de 60%, contradizendo tudo o que foi alegado”, afirma a empresa.

Os analistas ressaltam que o rebaixamento de recomendação está relacionado aos dois assuntos acima. “Não faríamos o downgrade por uma delação se tivéssemos um colchão de valuation e não o rebaixaríamos apenas pelo baixo upside se não fosse pela delação”, afirmam.

Por fim, eles dizem que, apesar da manutenção do preço-alvo, irão fazer uma reavaliação da empresa em um “futuro próximo” baseado no cenário de beta maior das ações, com noticiário negativo e riscos de multas sobre o caso da delação de Palocci, e também na evolução do mercado de cerveja no Brasil. A euforia da Ambev foi bem forte, mas parece que já passou.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.