A maior fortaleza e o maior risco para a operação da Intelbras (INTB3)

Companhia investiu mais de R$ 250 milhões para acelerar expansão no negócio de energia e agora busca ‘ajuste-fino’ da operação 

Rikardy Tooge

Planta da Intelbras em São José (SC) com painéis solares (Divulgação)

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A Intelbras (INTB3) fez suas apostas no mercado de energia solar e agora busca maximizar os retornos no segmento. A companhia mais que dobrou a receita na sua unidade de energia em um ano, mas as margens ainda deixam a desejar, na avaliação da empresa e do mercado.

O propulsor para o forte crescimento foi a aquisição da Renovigi, uma empresa que fornece painéis solares e outros equipamentos para a atividade. Anunciada em fevereiro e consolidada em maio, a operação havia custado R$ 334,3 milhões aos cofres da Intelbras inicialmente, mas o deal foi reajustado na semana passada para R$ 254,3 milhões – as empresas não justificaram os motivos que levaram ao desconto de R$ 80 milhões.

A despeito dos aspectos jurídicos do negócio, a Intelbras viu, com a aquisição, sua receita no segmento de energia subir mais de 180% no terceiro trimestre deste ano em relação a igual intervalo de 2021, para R$ 385,7 milhões entre crescimento orgânico e inorgânico – cerca de 34% do faturamento total da empresa, que chegou a R$ 1,13 bilhão no período.

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Já a margem bruta do negócio de energia recuou 1,9 ponto percentual na mesma comparação, para 19,3%, enquanto os outras unidades da companhia tiveram alta.

“Temos condições de afinar mais nosso operacional. Estamos estruturando a consolidação da Renovigi para que ela consiga mais margem. Acreditamos que ainda há muita alavancagem operacional para entregar”, explica Bruno Teixeira, gerente de relações com os investidores da Intelbras.

Segundo ele, houve ligeira melhora na eficiência dos custos entre o segundo e o terceiro trimestre, mas ainda há espaço para mais sinergia. Como todos os componentes são importados, uma das medidas apontadas pela companhia para garantir mais margem é realizar uma melhor gestão de estoques.

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Risco e retorno

Para o Itaú BBA, o negócio de energia solar é a maior fortaleza e o maior risco para a operação da Intelbras no médio prazo. “Neste momento, optamos por dar o benefício da dúvida à empresa em relação às perspectivas devido ao seu extenso histórico de entregas”, escreveram os analistas Thiago Kapulskis e Cristian Faria. Vale lembrar que a Intelbras entrou no segmento de energia em 2019.

“Apesar dos resultados mais fracos no 3T22, acreditamos que a maior parte disso está relacionada à Renovigi e seu processo de integração, que priorizou a adaptação da política de preços e, consequentemente, a rentabilidade em detrimento do volume. [Mas] A recente melhoria das margens leva-nos a pensar que já pode funcionar a um nível estrutural a curto prazo”, concluíram.

Energia solar em expansão

Atualmente, cerca de 10% da matriz energética brasileira é advinda dos painéis solares, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), compilados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). São 21.349 megawatts gerados a partir do sol no Brasil.

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Neste recorde, a geração energia solar distribuída, que é aquela em que os consumidores produzem parte da própria energia elétrica, cresceu quase sete vezes entre 2019 até outubro deste ano, de 2.134 megawatts para 14.646 megawatts – e é justamente nesta expansão que a Intelbras está de olho.

“Claro que não há como uma demanda duplicar todo ano ao infinito, mas esse crescimento mostra que há um mercado que está em formação e irá se consolidar, e nós já estamos posicionados”, argumenta Teixeira.

Para que um consumidor possa acessar a solução mais comum no mercado, de 10 kWh por mês, o gasto giraria entre R$ 30 mil a R$ 50 mil, com um payback estimado em quatro anos pela Intelbras. “É um tempo pequeno, se considerar que o equipamento tem uma vida útil de mais de 20 anos”, afirma o executivo.

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Solução integrada

Conhecida pelo seu portfólio de equipamentos de segurança e comunicação, em um primeiro momento, a energia solar parece destoar do core business da Intelbras. No entanto, Teixeira destaca que, ao contrário, é uma vertical complementar à estratégia de vendas da empresa.

“Nossa ideia é que as equipes ofereçam uma solução integrada para condomínios e grandes empresas. Além das câmeras de segurança e dos interfones, por exemplo, também oferecemos equipamentos para que essas pessoas e empresas possam economizar com energia”.

Bruno Teixeira, gerente de RI da Intelbras: "energia solar complementa nosso portfólio" (Divulgação)
Bruno Teixeira, gerente de RI da Intelbras: “energia solar complementa nosso portfólio” (Divulgação)

Além da venda de equipamentos para energia solar, a unidade “Power” da Intelbras também engloba a venda de nobreaks e fontes para pessoas físicas e jurídicas. Outro produto em desenvolvimento é um carregador para carros elétricos, que é mais uma avenida que a companhia enxerga a longo prazo.

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Para Teixeira, a despeito dos potenciais, a atual participação do negócio de energia no faturamento da Intelbras deverá se manter daqui para frente. Ele observa que a demanda dos segmentos de segurança e comunicação também tende a seguir forte nos próximos anos.

INTB3 na B3

Apesar de ter mais de 45 anos no mercado, a Intelbras é uma das novatas na Bolsa brasileira. A companhia fez seu IPO em fevereiro de 2021 e opera com valorização de 16,2% neste ano, com a ação cotada a R$ 32,08 na segunda-feira (5).

Do fim de 2020, antes do IPO, até este ano, a empresa viu seu valor de mercado sair de R$ 6,68 bilhões para R$ 10,1 bilhões, segundo dados da plataforma TradeMap.

A empresa tem recomendação de compra do Itaú BBA e da XP. Para o BBA, o preço alvo é de R$ 41, enquanto o da XP é de R$ 42.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br