Trump apoia plano para transformar Gaza em resort turístico, diz jornal

Proposta circula entre aliados do ex-presidente e inclui administração americana por 10 anos, realocação da população e reconstrução com capital privado

Marina Verenicz

Palestinos carregam ajuda em Beit Lahia, norte de Gaza (Reuters//Mahmoud Issa)
Palestinos carregam ajuda em Beit Lahia, norte de Gaza (Reuters//Mahmoud Issa)

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Um plano ambicioso e controverso para o futuro da Faixa de Gaza está sendo articulado por aliados do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e prevê que os EUA administrem diretamente o território palestino devastado pela guerra por pelo menos uma década.

Segundo informações reveladas pelo Washington Post neste domingo (31), o plano inclui a realocação temporária, ou permanente, da população palestina e a transformação do enclave em um polo turístico e industrial apelidado de “Riviera do Oriente Médio”.

Batizado de GREAT Trust (sigla para Gaza Reconstitution, Economic Acceleration and Transformation Trust), o projeto foi elaborado pela chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização de ajuda apoiada por Washington e por Israel, que atua de forma independente do sistema da ONU.

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Os detalhes da proposta

De acordo com um documento de 38 páginas obtido pelo Post, os cerca de 2 milhões de habitantes de Gaza seriam incentivados a deixar a região “voluntariamente”, com pagamentos de US$ 5 mil (cerca de R$ 27 mil), auxílio aluguel por quatro anos e fornecimento de alimentos por pelo menos um ano.

Os palestinos também receberiam um “token digital”, uma espécie de crédito simbólico, que lhes daria direito de reconstruir suas propriedades futuramente.

Durante esse período de transição, a GHF propõe a construção de “Áreas de Trânsito Humanitário”, que funcionariam como campos temporários dentro e fora de Gaza para abrigar os deslocados.

O plano é coordenado com os militares israelenses e operado por empresas de segurança e logística americanas, numa estrutura paralela à das Nações Unidas — que, segundo Israel, teria falhado em impedir o desvio de ajuda humanitária por parte do Hamas.

Plano gera críticas internacionais

A operação da GHF em Gaza já causou controvérsia desde maio de 2025, quando passou a coordenar a entrega de alimentos na região. Conforme a ONU, mais de 1.000 civis palestinos morreram tentando acessar a ajuda distribuída pela fundação, a maioria baleada por soldados israelenses próximos aos centros de distribuição.

Organizações humanitárias internacionais e autoridades palestinas vêm denunciando o que consideram um projeto de limpeza étnica disfarçado de reconstrução econômica. A ideia de reassentamento populacional em massa, mesmo sob o rótulo de “voluntariedade”, reacende críticas sobre possíveis violações do direito internacional.

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“Riviera do Oriente Médio”

As bases do plano ecoam declarações feitas por Trump em fevereiro, quando sugeriu que os EUA “assumissem Gaza” após o conflito e reconstruíssem a região como um destino turístico de alto padrão. Na ocasião, o ex-presidente irritou líderes palestinos ao afirmar que o enclave seria melhor aproveitado se a população fosse “realocada”.

O silêncio da Casa Branca e do Departamento de Estado sobre o plano levanta especulações de que a proposta já esteja sendo considerada como diretriz oficial da política externa americana, caso Trump se reeleja em 2026.

Conflito em Gaza se intensifica

Enquanto o plano circula nos bastidores, a situação no terreno continua a se deteriorar. As forças israelenses intensificaram os ataques aéreos e terrestres nos arredores da Cidade de Gaza, empurrando milhares de famílias para zonas de combate. O gabinete de segurança de Benjamin Netanyahu avalia uma ofensiva total sobre a região central do enclave.

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Na sexta-feira, Israel encerrou as pausas humanitárias e classificou a cidade como uma “zona de combate perigosa”, o que levou o Programa Mundial de Alimentos (PMA) a alertar que os novos bloqueios colocam trabalhadores humanitários em risco e limitam o acesso da população à comida. Segundo a diretora-executiva do PMA, Cindy McCain, “isso vai limitar drasticamente a quantidade de comida disponível”.

População enfrenta fome severa

Um relatório recente da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC) estima que 514 mil pessoas — quase 25% da população de Gaza — estão em condições de fome extrema. O governo de Israel contestou os dados, acusando o relatório de parcialidade e alegando que se baseia em informações fornecidas pelo Hamas.