(Bloomberg) — O Senado da Argentina aprovou o projeto de lei do Orçamento de 2026 do presidente Javier Milei, consolidando uma vitória legislativa que superou a retomada de tensões entre o líder libertário e seu principal aliado.
Em uma votação de 46 a 25, os senadores aprovaram o orçamento de Milei em votação geral — a primeira desde que ele assumiu o cargo, em 2023. A vitória legislativa reflete o novo capital político de Milei após seu partido sair vencedor das eleições legislativas de meio de mandato em outubro e se tornar a maior bancada na Câmara dos Deputados.
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O resultado indica que Milei, que conta com 19 senadores em seu partido, recebeu amplo apoio de outras legendas. Um senador se absteve na votação geral.
O orçamento foi o primeiro grande teste de Milei no Congresso desde a vitória nas eleições de meio de mandato. Analistas viram a proposta como uma oportunidade para ele demonstrar força política ao conseguir aprovar uma lei após governar, em grande parte, por decretos durante seus dois primeiros anos no cargo. Em fevereiro, os parlamentares irão debater a reforma trabalhista de Milei, o que torna a discussão do orçamento uma espécie de prévia.
Embora o foco do projeto seja a política fiscal, o texto também autoriza o governo Milei a emitir dívida no exterior, em conformidade com uma lei do governo anterior que exige aprovação do Congresso para a venda de títulos internacionais ou acordos com o Fundo Monetário Internacional. A Argentina deve cerca de US$ 4,5 bilhões aos detentores de títulos em 9 de janeiro, mas o ministro da Economia, Luis Caputo, sinalizou recentemente que o governo não pretende emitir novos títulos no exterior em janeiro para refinanciar parte desses pagamentos.
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A aprovação do orçamento também coloca o acordo de US$ 20 bilhões com o FMI em bases mais sólidas no início do novo ano, ajudando a sustentar o superávit fiscal buscado por Milei.
No campo político, Milei reacendeu tensões latentes com aliados em duas frentes nas etapas iniciais do processo orçamentário. Ele tentou alterar os gastos com universidades e programas para pessoas com deficiência, dois temas sobre os quais entrou em choque com blocos de centro ao longo do ano. Na Câmara dos Deputados, os parlamentares acabaram aprovando o orçamento ao retirar os trechos relacionados a esses dois pontos.
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Além disso, Milei deixou de indicar o ex-presidente Mauricio Macri, do partido PRO — alinhado ao governo — para uma vaga no poderoso conselho da Auditoria Geral da Nação, provocando irritação entre os legisladores ligados a Macri. Os votos do ex-presidente no Congresso são importantes, já que a bancada de Milei não possui maioria simples e precisa negociar com outras siglas. A Auditoria Geral da Nação (AGN) é uma entidade influente em assuntos legislativos.
Essas tensões foram deixadas de lado na sexta-feira, quando Milei recebeu votos do partido de Macri e de outras legendas.
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