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Israel e os Estados Unidos retiraram suas delegações das negociações de cessar-fogo em Gaza para consultas nesta quinta-feira, com o enviado dos EUA, Steve Witkoff, acusando o grupo militante palestino Hamas de não agir de boa fé nas negociações.
A retirada marcou o mais recente revés nos esforços por um acordo que traria um cessar-fogo para Gaza, garantiria a libertação de reféns israelenses mantidos pelo Hamas e traria alívio para os palestinos, que sofrem uma crise humanitária cada vez pior.
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Segundo Witkoff, mediadores fizeram um grande esforço, mas “o Hamas não parece estar coordenado ou agindo de boa fé”.
“Agora vamos considerar opções alternativas para trazer os reféns para casa e tentar criar um ambiente mais estável para o povo de Gaza”, escreveu ele no X.
Não houve reação imediata do Hamas.
Tanto Israel quanto o Hamas enfrentam pressão interna e externa para chegar a um acordo após quase dois anos de guerra, em meio à deterioração da situação humanitária em Gaza e à preocupação dos israelenses com as condições em que os reféns estão sendo mantidos.
Dezenas de pessoas morreram de fome em Gaza nas últimas semanas, quando uma onda de fome generalizada se abateu sobre o enclave, de acordo com autoridades de saúde locais.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que o sofrimento e a fome em Gaza são uma catástrofe humanitária “indescritível e indefensável” e pediu a Israel que deixe entrar ajuda com urgência.
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“Embora a situação já seja grave há algum tempo, ela atingiu novos patamares e continua a piorar. Estamos testemunhando uma catástrofe humanitária”, disse Starmer em um comunicado.
Ele fará uma chamada de emergência com os parceiros franceses e alemães na sexta-feira para discutir o que pode ser feito para “parar a matança e dar às pessoas os alimentos de que elas precisam desesperadamente”, disse ele.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que mais duas pessoas morreram de inanição. O chefe do Hospital Shifa, na Cidade de Gaza, disse que os dois eram pacientes que sofriam de outras doenças e morreram após ficarem sem comer por vários dias.
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No início do dia, surgiram alguns sinais aparentes de progresso na mediação.
Um oficial sênior do Hamas disse à Reuters que ainda havia uma chance de se chegar a um acordo de cessar-fogo, mas levaria alguns dias devido ao que ele chamou de paralisação israelense.
Um alto funcionário israelense foi citado pela mídia local como tendo dito que o novo texto era algo com o qual Israel poderia trabalhar.
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No entanto, o Canal 12 de Israel disse que um acordo rápido não estava ao alcance, com lacunas remanescentes entre os dois lados, inclusive em torno de para onde os militares israelenses deveriam se retirar durante qualquer trégua.
A equipe de Witkoff não respondeu imediatamente a uma solicitação para explicar as exigências do Hamas que levaram à retirada dos negociadores norte-americanos.
Ajuda
Mulheres em busca de ajuda para suas famílias nesta quinta-feira disseram que funcionários norte-americanos que organizavam a distribuição pediram que elas fossem buscar os produtos para depois dispararem gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra elas.
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“Os norte-americanos disseram ‘vão, vão’, e depois disseram não, voltem. Eles nos jogaram spray de pimenta e fomos embora. Cinco minutos depois, eles atiraram gás lacrimogêneo em nós… isso é ajuda humanitária norte-americana?”, questionou Mervat al-Sakani.
Solicitado a comentar, um porta-voz da organização de ajuda — a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês) — disse que uma quantidade limitada de spray de pimenta foi usada “para evitar ferimentos em civis devido à superlotação”, acrescentando que a GHF “não queria que as pessoas se machucassem”.
O porta-voz avaliou ainda que a distribuição de ajuda somente para mulheres foi “um grande sucesso” em geral.
A GHF, uma organização apoiada pelos EUA e por Israel, começou a distribuir pacotes de alimentos em Gaza no final de maio.
A ONU considerou o modelo da GHF inseguro e uma violação dos padrões de imparcialidade humanitária, o que a GHF nega.
O escritório de direitos da ONU disse em 15 de julho que havia registrado pelo menos 875 assassinatos nas seis semanas anteriores nas proximidades de locais de ajuda e comboios de alimentos em Gaza — a maioria deles perto dos pontos de distribuição da GHF.
A maioria dessas mortes foi causada por tiros que, segundo os moradores, partiram dos militares israelenses. Os militares reconheceram que civis foram feridos, afirmando que as forças israelenses receberam novas instruções com “lições aprendidas”.
Israel, que cortou todos os suprimentos para Gaza desde o início de março e os reabriu com novas restrições em maio, diz que está comprometido em permitir a entrada de ajuda, mas deve controlá-la para evitar que o Hamas a desvie.
A guerra começou quando o Hamas matou cerca de 1.200 pessoas e fez 251 reféns em ataques a Israel em 7 de outubro, de acordo com registros israelenses. Desde então, Israel já matou cerca de 60.000 palestinos em Gaza, segundo autoridades de saúde de Gaza.
(Reportagem de Nidal Al-Mughrabi, Emily Rose, Samia Nakhoul, Ahmed Elimam e Maayan Lubell, Matt Spetalnick em Washington; Michelle Nichols em Nova York)