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Entenda como o seguro protege o produtor rural de fenômenos climáticos

Safra brasileira a cada ano sofre mais com La Niña e os prejuízos são bilionários, o que tem impulsionado as buscas por proteção contra perdas no campo

Jamille Niero

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Nos últimos dois anos, a safra brasileira sentiu os reflexos do fenômeno climático La Niña. Especialmente estados do Sul do país, como o Rio Grande do Sul, que chegou a registrar perda de mais de R$ 1 bilhão em 2022 devido à seca, impactando principalmente as lavouras de soja e milho. No Sudeste, não é incomum a ocorrência de eventos climáticos que podem prejudicar as lavouras, como a chuva de granizo.

No episódio desta quinta-feira (22) do videocast Tá Seguro? (disponível no canal do InfoMoney no Youtube e nas plataformas de podcast, como o Spotify) dois produtores de diferentes regiões do país contam suas experiências com safras em que enfrentaram problemas climáticos e como o seguro foi utilizado para amenizar as perdas financeiras.

O produtor rural Paulo Regis Correa, de Alegrete (RS), conta que na região houve perda de safras de arroz, soja e milho — especialmente essas duas últimas. Segundo Correa, é provável que neste ano ainda ocorram prejuízos. “Esse ano, especificamente, o Rio Grande do Sul tinha uma expectativa de colheita de 20 milhões e meio de toneladas de soja, que é a principal cultura, mas nós devemos estar fechando agora 12 milhões, então dá aproximadamente 40% de perda de produção”, diz.

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“Imagine o impacto disso no bolso do produtor que já vem de renegociações e duas safras frustradas. Essa seria a terceira com problemas de produtividade e, obviamente, a conta tem que ser paga. Com um seguro agrícola, isso é importante, porque não é para ganhar dinheiro com seguro. Eu vejo que a roda precisa girar, precisa recompor os insumos, recompor os custos de produção para que ele não saia da atividade”, completa Correa.

De acordo com o produtor, no passado, há cerca de 20 anos, havia um descompasso grande de medidas, por parte do governo, para recompor o crédito dos produtores quando ocorria uma “frustração” importante da safra. Como resultado, o produtor “saia da atividade”. “Óbvio que a gente não quer que aconteça isso, então por isso que eu vejo que até por uma questão de governança, como produtor rural e como empresário do ramo cooperativista, isso é necessário. Precisa ter proteção das lavouras”, pontua Correa, que anteriormente também foi diretor de uma cooperativa com cerca de 15 mil cooperados no centro do estado.

Catia Rucco Rivelles, superintendente de seguros rurais da seguradora Mapfre, ressalta que o produtor enfrenta riscos em todas as etapas da produção, “do plantio até a venda da colheita”, por isso a importância de estar protegido pelo seguro. Um evento climático severo que impacta um produtor acaba gerando reflexos em toda a cadeia envolvida.

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“Quando existe uma região muito afetada por um evento climático, pode ser um estado ou até mesmo um município, o impacto ele não para só no produtor, ele gera um impacto em cadeia, porque esse produtor que não consegue quitar os insumos dele, as dívidas dele, acaba gerando um efeito na economia da região, porque ele deixa de comprar no mercadinho, ele deixa de comprar na concessionária. Então o seguro vem como mitigador de risco não só para o produtor, mas como uma proteção da economia. O Brasil é um país rural, então quando a gente faz uso do seguro e faz uso de seguro de uma forma massiva, isso ajuda a proteger a economia como um todo”, destaca Catia.

Na avaliação de Cláudio Brisolara, gerente do departamento econômico da FAESP (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), o impacto pode ser muito grande principalmente nas cidades do interior, já que muitas têm grande dependência da agropecuária. “As vezes mais de 50% do PIB da região, do município”, aponta. Ele indica que os reflexos podem ser sentidos além da cadeia do agronegócio – que envolve desde os insumos até a agroindústria que beneficia o que foi colhido, atingindo até áreas como a medicina e o varejo, chegando até o bolso do consumidor.

Outro segmento afetado é o de exportações, já que a soja e o milho são commodities amplamente comercializadas para outros países. Nesse caso, explica Brisolara, quando há uma “frustração de safra”, os produtores muitas vezes acabam tendo que comprar de outros produtores de regiões diferentes o produto já vendido para o exterior, para honrar os contratos assinados. “Isso acaba repercutindo nesses compromissos”, diz. Por outro lado, quando há diminuição da oferta, o preço sobe e acaba compensando as perdas anteriores.

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O que acontece atualmente, de acordo com ele, é que uma região tem compensado a outra, como o Centro-Oeste que teve uma colheita muito maior que o Rio Grande do Sul. “Os preços inclusive caíram no Rio Grande do Sul, que é onde a gente tem o pior cenário do mundo: uma produção pequena e preços também decadentes”, salienta o gerente da FAESP.

Acesso ao seguro

Os especialistas comentam que cada vez mais os produtores têm se antecipado na contratação tanto do crédito para financiar as lavouras quanto do seguro para protegê-las em caso de perdas. Segundo Catia, da Mapfre, neste ano o chamado “pré-custeio” foi liberado já em fevereiro para as safras que serão plantadas em outubro ou novembro, quando há cerca de sete anos, a liberação era agosto ou setembro. “É importante que quando ocorra a liberação do crédito, tenha também um produto de seguro disponível para o produtor”, observa a executiva.

O seguro rural conta com subvenção do governo para custear o seguro para os produtores. Neste ano, o valor anunciado foi de R$ 1 bilhão – o que muitas vezes não é suficiente. O custeio varia conforme a cultura, podendo representar de 20% a 40% do custo do seguro pago pelo produtor à seguradora. “O que a gente vê é que ano após ano a contratação do seguro é diretamente proporcional à subvenção”, indica Catia. Existem ainda programas estaduais de subvenção, como em São Paulo e no Paraná.

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Brisolara, da FAESP, destaca que já existem também municípios promovendo programas próprios de subvenção, como Mogi das Cruzes, que fica relativamente próximo a capital paulista, que chega a subsidiar até 90% do seguro. “Eu acho que essa é uma ideia que a gente precisa irradiar para outros estados”, aponta.

O engenheiro agrônomo Alfonso Sleutjes, de Avaré (SP), é um dos produtores que já utilizou as subvenções federal e estadual para contratar seguro para a sua lavoura, cujo maior risco costuma ser a chuva de granizo. Ele costuma plantar soja, milho, trigo, cevada e feijão – que é seu carro-chefe, em um sistema utilizando irrigação.

“A gente também tem algumas condições por excesso de chuva, mas o granizo o prejuízo é bem maior. Como acabou ocorrendo comigo nessa última safra, quando 15% da minha área de soja que estava pronta para colher deu um granizo de moderada a alta intensidade e acabou prejudicando bastante o rendimento dessa área”, relata. A área toda plantada tinha cerca de 200 hectares.

Sleutjes diz contratar seguro para sua produção há mais de 15 anos, mas nem sempre para soja. “Isso é esporadicamente porque o valor da subvenção é limitado”, conta. “Essa última safra acabei contratando porque o clima estava bem adverso, e no fim acabei sendo beneficiado pelo seguro. A gente faz para não estar usando, mas infelizmente eu tive que usar”, conta, ressaltando que a indenização serviu para cobrir os custos de produção, evitando um prejuízo maior.

O que não pode faltar?

Os especialistas ressaltam os pontos essenciais ao contratar o seguro. Catia, da Mapfre, aponta que é preciso levar em conta a “aptidão agrícola de cada região” para escolher o produto mais adequado. Em Minas Gerais e São Paulo é comum a cultura do café, os grãos estão mais espalhados pelo país, já as frutas são mais cultivadas em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Nordeste. Além disso, no Sul o risco de geada é muito maior do que no Piauí, por exemplo.

“No multirrisco a gente trabalha muito com o nível de cobertura, que é um percentual em relação à sacas, e o de risco nomeado é uma franquia. Para soja é entre 5% e 10%, então é como se fosse um nível de cobertura de 90% a 95%. Para o produtor que irriga, realmente não faz tanto sentido ele ter um produto de multirrisco, faz muito mais sentido para ele ir para um produto de risco nomeado e com essa personalização. Para as culturas de inverno, onde você consegue colocar [cobertura de] granizo e de geada, para as culturas de verão, onde não se tem tanta geada, [contrata a cobertura] só do granizo, e consegue ir adaptando os produtos para maior necessidade dos produtores”, exemplifica a executiva.

Outro ponto sinalizado por eles é buscar a assessoria técnica adequada de um corretor de seguros, que também deverá ajudar o produtor a entender quais são as coberturas aos quais ele tem direito e os riscos excluídos. “O produtor precisa ficar muito atento ao que está na apólice de seguro dele para saber o que ele tem direito. E o que ele precisa fazer, inclusive, para acessar aquela apólice se ele tiver uma perda. Os produtores têm que fazer uma comunicação rápida do sinistro. Caso eles tenham, por exemplo, um evento meteorológico ali que afete a produção, se o produtor não fizer essa comunicação tempestiva, ele pode perder o direito à indenização”, esclarece Brisolara. Ele reforça que “o momento da contratação é fundamental tirar todas as dúvidas”.

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa.