Drex não causará ‘big bang’ e adoção deve ser gradual, afirma especialista do BC

Banco Central enfrenta desafios em projeto-piloto que estrutura a iniciativa

Giovanna Sutto

(Getty Images)

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O Drex, nome oficial do Real Digital, vai ser mais do que a representação digital do real. O Banco Central, responsável por liderar o mecanismo, promete uma infraestrutura digital e segura que vai permitir às instituições financeiras e agentes do setor a criação de novas soluções de produtos e serviços. A consequência é mais competição e inovação no mercado, o que deve proporcionar melhores condições ao consumidor.

“A intenção do Drex é oferecer uma infraestrutura única e permitir que o mercado trabalhe em cima disso. Participantes que hoje atuam com infraestruturas de ativos que serão inseridos no Drex não vão se tornar obsoletos. A visão do BC é de que não vai existir uma migração do tipo ‘big bang’, que do dia para noite tudo funcionará no ambiente do Drex. Será paulatino”, afirmou Alessandro Fraga, especialista do Banco Central, em evento promovido na terça-feira (12) pela Bloxs, plataforma especializada em operações de crédito privado. Ele substituiu Fabio Araújo, responsável pelo projeto do Drex no BC, que não pôde comparecer ao evento.

Segundo Fraga, a migração para o Drex deve ser parecida, em grande medida, com o movimento do Pix. “A chegada do Pix não acabou com outras formas de pagamento. A adoção alta foi por vontade da sociedade, que viu valor no que o Pix traz. Com o Drex esperamos algo nessa direção”, avalia.

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Na visão do especialista, um dos principais valores do Drex está na possibilidade de conexão que o ambiente vai proporcionar entre ativos. “As trocas de ativos, incluindo compra e venda, garantia e transferências vão ser facilitadas“, diz.

Roberto Campos Neto, presidente do BC, já ressaltou que o Drex também vai reduzir custos de intermediação diante da possibilidade de gerar os chamados “contratos inteligentes” (ou smart contracts, em inglês).

Importante lembrar que o BC vai registrar três categorias de ativos:

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Embora o Drex (Real Digital) tenha ganhado força como nome mais conhecido da versão virtual do dinheiro, o BC deu nomenclaturas específicas diferentes para separar o funcionamento de cada ativo no ambiente digital que está sendo criado.

Desafios atuais

O principal desafio da fase de experimentação do Drex, em andamento há 1 ano, é a privacidade. “Para que o ambiente se consolide precisamos de segurança e temos que fornecer sigilo às transações para todos os participantes. É um desafio e precisamos garantir isso antes de seguir em frente”, diz sobre o cronograma do projeto. Essa etapa é considerada crucial para o sucesso porque é nela que a plataforma de privacidade será escolhida.

O BC segue em testes há alguns meses e, por enquanto, três plataformas são as principais candidatas: Anonymous Zether, Starlight e Parchain. “Além dessas, a Microsoft vem desenvolvendo uma solução própria por fora do sistema que também vamos avaliar. E a Hyperledger Besu também vai estudar opções de privacidade para ajudar o sistema. A partir do segundo semestre é que vamos refinar outros aspectos, como governança do sistema e contratos inteligentes.

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“Essa fase será superarada, mas pode ser solucionada de maneira diferente do que projetamos inicialmente, o que poderá requerer mudanças no formato dos contratos inteligentes, por exemplo, e não queremos liberar o Drex para a população e depois que ter que alterar algo. Pode atrasar ainda mais a implementação”, afirma Fraga.

O grupo de trabalho de tokenização do Drex prepara relatório sobre o projeto-piloto, que será divulgado nos “próximos meses”, segundo o especialista do BC. Em 2025, a meta é abrir o ambiente para mais participantes — além dos 16 consórcios já aprovados.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.