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SÃO PAULO – Desde que foram lançadas, as linhas de crédito consignado para aposentados e pensionistas têm atraído o interesse desta parcela da população. Em pouco mais de 16 meses, já foram concedidos R$ 10,9 bilhões, o que beneficiou 4,3 milhões de segurados.
Em apenas sete meses, ou seja, de abril ao final de novembro, o volume de crédito concedido mais do que dobrou, ao subir de R$ 5 bilhões para R$ 10,9 bilhões. Mas, o mercado já trabalha com a expectativa de um crescimento menos acentuado em 2006. E, a razão para isso é simples: os aposentados estão se aproximando do seu limite de endividamento.
Antes de liberar crédito, era preciso educar
Por mais que o governo federal divulgue as linhas de crédito consignado para aposentados como sendo uma conquista dos brasileiros, é inegável que a oferta de “crédito sem orientação” acabou colocando muitos aposentados em dificuldades financeiras. Ainda que negue essa realidade, desde meados de 2005, o governo promoveu algumas mudanças nas regras do crédito consignado para aposentados, dentre elas merece destaque a redução do prazo de financiamento, que em outubro caiu para 36 meses.
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Engana-se, contudo, quem acredita que os maiores prejudicados são as instituições financeiras que concederam o crédito consignado. Uma análise dos dados de inadimplência da Associação Comercial de São Paulo deixa evidente que o aumento da inadimplência entre as varejistas reflete, ao menos em parte, o excesso de endividamento do consumidor.
Outro prejudicado é o próprio aposentado, que vê uma parcela grande do seu orçamento comprometida com o pagamento do crédito, por um prazo longo de tempo. Por mais que os juros oferecidos nessas linhas de crédito sejam mais baixos do que os praticados nas linhas tradicionais, variam entre 1% e 3,9% ao mês, dependendo do prazo de financiamento, como metade dos tomadores das linhas de crédito consignado recebe até R$ 300, o endividamento acaba sendo inevitável.
Linha foi mal definida
Também contribui para isso as próprias características da linha. As regras do consignado prevêem a possibilidade de comprometimento de até 30% da renda do aposentado, enquanto o prazo de quitação da dívida é de até 36 meses. Basta uma análise das estatísticas de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para se constatar que, quem não se planejou, provavelmente está enfrentando dificuldades para equilibrar o orçamento.
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Segundo os dados do IBGE, independente do nível de renda, 84% do orçamento dos brasileiros já estão comprometidos com habitação, alimentação, transporte, educação e saúde. Em outras palavras, o brasileiro conta com apenas 16% da sua renda para arcar, entre outras coisas, com o pagamento de dívidas, como o crédito consignado.
Se juntarmos a isso o fato de que metade dos aposentados que levantou crédito consignado recebe benefício de até R$ 300, e que a maioria (58%) financia por prazos entre 30 e 36 meses fica fácil entender que quem não se planejar, eventualmente terá dificuldades para arcar com as prestações. O governo errou ao apostar na oferta de crédito como forma de impulsionar a economia, pois se esqueceu que o consumidor ainda não está preparado para tomar crédito.
Diante desse cenário, a expectativa é de que a taxa de crescimento do crédito consignado para aposentados diminua em 2006. Caso contrário, o feitiço pode virar contra o feiticeiro e ao invés de ver a economia crescer o governo pode ter que enfrentar um aumento da inadimplência do consumidor, cenário certamente nada favorável para o País.