Como planejar viagens em 2021? Veja as perspectivas para o turismo no Brasil e no exterior

Executivos do setor, como o presidente da CVC, garantem que o pior ficou para trás; confira os destinos que podem ser opção para planejar as férias em 2021

Giovanna Sutto

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O ano de 2020 definitivamente não foi o ano do turismo. Com as fronteiras ao redor do mundo bloqueadas, os hotéis com capacidade reduzida, os locais de lazer fechados, e outras ações para controle da pandemia, o mercado de viagens ficou praticamente inoperante.

O setor que foi responsável por um em cada dez empregos no mundo em 2019 – ou 330 milhões no total – e 10,3% do PIB global, de acordo com o Relatório de Impacto Econômico do Conselho Mundial de Viagem e Turismo de 2020, foi especialmente prejudicado pelas medidas de isolamento social.

De acordo com o relatório mais recente do conselho, até setembro de 2020 mais de 121 milhões de empregos foram perdidos no setor. A estimativa é que 174 milhões de empregos tenham sido eliminados no setor de turismo em 2020.

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Dados de dezembro da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) estimaram uma perda de receita de US$ 13,61 bilhões em receitas para as aéreas no Brasil em 2020. Antes do coronavírus, havia uma rede de quase 50 mil rotas aéreas que cruzavam o mundo. Em menos de um ano, a pandemia varreu quase um terço delas do mapa.

Durante o período mais agudo da pandemia, as empresas aéreas chegaram a ter redução de 99% em suas atividades.

“Os livros de história registrarão 2020 como o pior ano financeiro do setor de turismo, sem exceção. As companhias aéreas do mundo cortaram despesas bilionárias. Se não fosse o apoio financeiro dos governos locais, teríamos visto falências em grande escala”, disse Alexandre de Juniac, diretor geral da IATA, em nota no site da associação.

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Recuperação em 2021?

Apesar das dificuldades, uma recuperação tímida nas viagens teve início ainda no fim de 2020, mas com a chegada das vacinas a retomada deve se consolidar em 2021.

Em outubro de 2020, 92% das famílias brasileiras já tinham planos de viagem para 2021, segundo o Relatório de Tendências 2021 da Vrbo, uma marca do grupo HomeAway que atua no mercado americano há 24 anos e é concorrente do Airbnb. O levantamento entrevistou mais de 8 mil pessoas em oito países, incluindo o Brasil.

Em dezembro, a companhia aérea Azul (AZUL4) voltou a operar com 90% da sua capacidade doméstica e 70% da sua capacidade total. No mesmo período, a Gol (GOLL4) chegou a 75% de sua capacidade total, e a Latam estava com 58% da capacidade para destinos domésticos.

“O desejo reprimido de viajar e escapar das rotinas diárias é perceptível. Quando questionados sobre qual seria o benefício número um das férias em 2021, 29% dos entrevistados disseram querer escapar do dia a dia. Além disso, 26% dos viajantes disseram que as férias melhorariam a saúde mental e serviriam como autocuidado”, mostra o relatório da Vrbo.

“Estamos vivendo um período ambíguo: de um lado a retomada da economia e a iminência da vacinação; do outro, o aumento de casos e a preocupação com uma segunda onda da pandemia – que é o pior cenário possível. Mas as viagens estão voltando mais rápido do que imaginávamos. De forma geral, estou otimista”, diz Leonel Andrade, presidente da CVC (CVCB3).

Segundo ele, na CVC, as vendas de novembro chegaram a 70% do volume do mesmo mês de 2019. Em setembro, ele Andrade acreditava que esse patamar seria alcançado apenas ao longo de 2021.

“Acredito que em seis meses, a partir do meio do ano, o fluxo de viagens deve voltar a um patamar bem próximo do que se via no pré-pandemia. Mas precisamos ficar atentos para ver se essa recuperação em 2021 será sustentável. Cliente bom é cliente vivo. Prefiro não ter pressa, mas que seja uma recuperação sólida”, afirma o presidente da CVC.

Luísa Dalcin, diretora de comunicação do buscador de voos Viajala, que tem mais de 3,5 milhões visitantes mensais, entende que essa recuperação mais sólida deve demorar para acontecer.

“Em setembro, vimos um aumento considerável de 52% na busca por viagens na comparação com o mês anterior; em outubro, a alta foi de 17%. Mas a verdade é que uma recuperação mais consolidada do setor vai demorar para acontecer, talvez uns dois anos”, diz Luísa.

O pontapé inicial dessa retomada, segundo ela, acontece após o início da vacinação. “Enquanto isso não acontecer, tudo seguirá muito restrito. E temos que entender o processo não é imediato. Vacinou a primeira pessoa, as fronteiras abrem, viagens liberadas. Não é assim. Vai demorar para todo mundo estar imunizado e vermos um ‘normal’ novamente”, afirma.

De fato, a pandemia continuará sendo um obstáculo bem presente para o setor. Natalia Pasternak, pHd em Microbiologia e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), afirma que o momento da pandemia no Brasil ainda é crítico e diz que as viagens ainda terão que esperar pelo menos os primeiros meses de 2021 para acontecer.

“Estamos passando por uma segunda onda, ou a continuação do tsunami que foi a primeira. A situação é muito preocupante e as pessoas vêm afrouxando as medidas de segurança. As vacinas estão sendo aprovadas, mas uma coisa é ser aprovada e outra coisa é chegar no nosso braço. Outros países já começaram a vacinação, como Estados Unidos, Reino Unido e mesmo a União Europeia. Mas houve um bom planejamento. No Brasil, estamos a ver navios esperando a vacinação chegar. Por isso, é possível viajar, mas sem vacinas fica mais difícil. Pelos menos, nesses primeiros meses seria ideal aguentar mais um pouco e evitar viajar”, diz Pasternak.

Rotas domésticas em destaque

João Augusto Machado, vice-presidente de marketing e eventos da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), está otimista, mas afirma que os destinos que vão ser o motor da recuperação são os domésticos.

“Desde setembro observamos uma recuperação na busca por viagens e a expectativa para 2021 é positiva. Mas, em um primeiro momento, para viagens no Brasil. O fechamento das fronteiras mundo afora impulsiona o turismo nacional. Do total de vendas em 2020, 80% foram para destinos domésticos. E a tendência deve se manter em 2021”, diz.

Luisa acrescenta que o turismo nacional está muito aquecido porque a grande maioria das fronteiras ainda está fechada para brasileiros. “A incerteza é muito grande para programar algo para o exterior em 2021. Mas por aqui há várias opções mais isoladas, ao ar livre”, diz.

Andrade, da CVC, também vem observando essa preferência por destinos nacionais. “Cerca de 80% das buscas são para locais do Brasil. Entre os dez destinos mais buscados para os próximos meses, sete estão no Nordeste. Destinos como Maceió, Porto Seguro, Natal, Fortaleza, Porto de Galinhas, Salvador e Recife estão entre os destaques, seguidos por localidades como Gramado, Rio de Janeiro e Balneário Camboriú. Os brasileiros também têm sinalizado interesse em viajar para parques naturais e lugares abertos e de natureza”, explica.

Se a pessoa decidir viajar mesmo, deve ter responsabilidade, segundo Pasternak. “Se for viajar, vá de carro, evite transportes coletivos, como ônibus e até mesmo avião. Viaje com a família que mora com você e vá para lugares arejados, ao ar livre, algo na linha do ecoturismo. Não é o momento de visitar museus. E sempre confira se os locais para os quais você está indo estão cumprindo as regras sanitárias”, diz.

Machado, da Abav, defende que viajar é uma opção, mas desde que a pessoa faça as escolhas mais seguras possíveis. “Para quem quer viajar em 2021, mas não sabe por onde começar, uma boa escolha pode ser um resort. Os grandes resorts estão trabalhando com a capacidade reduzida e seguindo os protocolos. É um local que tem uma boa infraestrutura. Mas, claro, não adianta ir para um resort com festas, shows e outros eventos que vão causar aglomeração ou que não seguem os protocolos”.

Ainda não é o momento para viagens para o exterior

Para quem deseja viajar para fora do país, a situação é mais complexa, naturalmente, por uma série de razões.

No Brasil, não há restrições para viagens aéreas domésticas, segundo o Ministério do Turismo. Já nas viagens para fora, o cenário é bem diferente. Os brasileiros não têm autorização para entrar em muitos países ao redor do mundo. EUA, Canadá, Itália, Argélia, França, Alemanha, Chile, Rússia são alguns exemplos de lugares que não estão permitindo a entrada de viajantes brasileiros ou de pessoas que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias, de acordo com a Iata.

A associação tem um mapa que mostra a situação atualizada das fronteiras e restrições de viagens de todos os países do mundo (consulte aqui).

Entre os locais que permitem a entrada de brasileiros estão: México, Bahamas, Nicarágua, República Dominicana, Turquia, Espanha e outros. Mas mesmo com o acesso parcialmente liberado, em muitos casos é preciso seguir protocolos específicos de saúde.

Espanha e França, por exemplo, autorizam a entrada de brasileiros com o certificado negativo do teste RT-PCR, que é o teste considerado “padrão-ouro” para identificar o coronavírus, feito dentro de 72 horas antes da chegada em algum aeroporto francês.

E os cuidados valem para o retorno ao país também. Desde o dia 30 de dezembro, passageiros de voo internacional que desembarcarem no Brasil precisam apresentar o teste RT-PCR negativo também feito até 72 horas antes da viagem.

“Ou seja, além da decisão do destino, o viajante precisa avaliar se esse local terá uma infraestrutura para que ele faça o teste antes de embarcar no avião para retornar ao Brasil. Não há detalhes sobre o que pode acontecer caso um brasileiro não tenha o exame negativo ao chegar do exterior. As agências reguladoras do país, como Anvisa e Anac, poderão editar normas complementares para determinar os procedimentos. Mas é mais um ponto de atenção”, diz Victor Hanna, advogado aeronáutico do escritório Demarest.

Somado a isso, é preciso considerar ainda as vacinas. EUA, Reino Unidos, União Europeia, Chile e outros países no mundo já aprovaram vacinas e alguns, inclusive, já estão vacinando a população. “É bem provável que a vacina contra a Covid-19 passe a ser exigida na entrada de vários países. Com o Brasil ainda sem uma aprovação oficial, os brasileiros podem encontrar dificuldades de acessarem alguns países nos próximos meses”, pontua Hanna.

Destinos nacionais mais indicados

Entendendo o contexto atual, que conta com um leque menor de possibilidades, o viajante pode se perguntar para quais destinos é possível ir dentro do Brasil. O InfoMoney fez uma reportagem com as dicas para os viajantes aproveitarem as viagens dos próximos meses em segurança. 

Rafael Sette Câmara, jornalista especializado em viagens e um dos fundadores do 360meridianos.com, site focado em viagens criativas e sustentáveis, elencou alguns destinos possíveis para 2020 – buscando isolamento, segurança e uma boa experiência.

“Com a pandemia, as viagens vão exigir ainda mais planejamento. Quem deseja conhecer novos lugares em 2021 precisa pensar além do que sempre considerou, como preço, época do ano, tipo de viagem, os protocolos de segurança. Entre os locais que podem ser interessantes estão a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, a Chapada Diamantina, na Bahia, as cidades históricas mineiras, como Ouro Preto e Tiradentes – nesses dois últimos casos vale evitar no Carnaval. E tem ainda o Jalapão, que é um dos melhores lugares do país em termos de isolamento”, sugere.

Ele afirma ainda que algumas praias menos conhecidas também podem ser opções atraentes. “As praias de Antunes, em Alagoas, a dos Carneiros, em Pernambuco, São Miguel do Gostoso e Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, são boas opções e, geralmente, mais vazias que Porto de Galinhas, por exemplo”, diz Câmara.

Ele ressalta que para feriados ao longo do ano, que podem se tornar boas oportunidades de viagens, o mais indicado é buscar locais mais próximos e que permitem a ida de carro, além do isolamento. “Feriados naturalmente são momentos em que os destinos mais populares enchem. Busque sítios, casas de campo, casas nas praias”, diz.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.