Alimentação sem carne e feita em casa integra novos hábitos dos brasileiros na pandemia, indica pesquisa

Estudo da MindMiners mostra que a população passou a buscar mais informações sobre os valores nutricionais dos alimentos por causa da crise sanitária

Dhiego Maia

(Nodar Chernishev/Getty Images)

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GONÇALVES (MG) – Menos carne vermelha, mais consumo de produtos saudáveis e orgânicos e refeições preparadas em casa. Os novos comportamentos alimentares dos brasileiros chegaram a fórceps com a pandemia de Covid-19 e transformaram as cozinhas em laboratórios para experimentos de receitas e pequenos espaços de sociabilidade entre as famílias.

Apesar de o avanço da vacinação contra o coronavírus pelo país representar, agora, um chamariz para idas ao restaurante predileto que reabriu, a relação do brasileiro com a alimentação está mais intimista, artesanal e no modo “faça você mesmo” por um motivo: mais saúde.

Esses sinais foram captados pela MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital, a partir de respostas de 2 mil pessoas das classes A, B e C que vivem em todas as regiões do país. As entrevistas foram realizadas no mês de setembro.

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O hábito de cozinhar em casa ficou mais prevalente para 51% dos entrevistados ao longo da pandemia. Destes, 62% passaram a preparar os alimentos para consumo próprio. “Essa relação mais próxima com a comida fez com que a preocupação com o valor nutricional dos alimentos aumentasse”, diz relatório da pesquisa.

Para 44% dos respondentes, o valor nutricional do que vai à mesa passou a ser uma informação importante na crise sanitária. E o preço dos alimentos não saiu do horizonte dos entrevistados.

Nos últimos 12 meses, os alimentos acumulam alta de 14,66%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Açúcar (44%), óleo de soja (32%) e as carnes (25%) sofreram as maiores subidas de preço e quem vem sentindo mais são as pessoas com a menor renda, as mais impactadas pela inflação.

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A carne desapareceu do prato da maioria dos brasileiros. Em várias regiões do país, o que tem sido consumido são partes menos nobres —até ossos e vísceras têm motivado filas de pessoas em açougues pelos itens que, antes da crise, eram descartados.

Supermercados também foram flagrados em práticas abusivas nas vendas do produto. Em uma unidade do Extra, do Jardim Ângela, na periferia da zona sul de São Paulo, o consumidor só tinha acesso à bandeja vazia com o preço do produto, que só era entregue após o pagamento.

Segundo o Procon-SP, denúncias encaminhadas também relatam que peças de carnes passaram a ficar presas dentro de redes de proteção e até conectadas a alarmes.

Miguel Gularte, CEO da Marfrig (MRFG3), explicou em entrevista ao InfoMoney que o dólar alto, os fretes mais caros para exportação e a retomada da demanda no segmento food service (restaurantes) contribuem para a sustentação dos preços mais elevados das carnes neste momento no país.

Para Lilian de Cassia Santos Victorino, professora de Engenharia de Alimentos do Instituto Mauá de Tecnologia, com a carne vermelha vendida a preços estratosféricos, “o consumidor passou a buscar outras fontes de proteína animal com menor custo, como o frango e a suína”, diz.

“O estudo mostra que existe uma tendência de redução do consumo de carne bovina por outros motivos, como questões relacionadas à saúde, bem-estar e impacto ambiental”, complementa a pesquisadora. Com menos carne, os participantes da pesquisa disseram que passaram a vislumbrar práticas vegetarianas nas refeições do dia.

“O vegetarianismo despontou na pesquisa como o estilo de alimentação mais visado por aqueles que comem carne e que gostariam de mudar a sua alimentação”, diz o estudo.

Para este grupo que compõe cerca de 60% da amostra, 30% dos respondentes querem adotar uma alimentação sem carne no futuro próximo; 21% almejam incrementar as refeições com peixes e frutos do mar ao invés de carne vermelha e apenas 3% buscam ser totalmente veganos em breve.

A compra de alimentos orgânicos também é visada por 68% dos respondentes. No momento, 4% afirmaram ter em casa apenas orgânicos e 17% priorizam esse tipo de produto, mas podem comprar outros se não houver a opção sem agrotóxico nas gôndolas.

A pesquisa também mostrou outro comportamento que veio para ficar pós-pandemia: a higienização dos produtos. Apenas 14% dos respondentes disseram não limpar os alimentos que chegam em suas casas.

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Dhiego Maia

Subeditor de Finanças do InfoMoney. Escreve e edita matérias sobre carreira, economia, empreendedorismo, inovação, investimentos, negócios, startups e tecnologia.