Yduqs (YDUQ3), Cogna (COGN3) e mais: o que esperar dos resultados do 4º trimestre das empresas de educação?

Quarto trimestre tende a trazer menos novidades para as companhias do setor, enquanto analistas olham para captação de 2023 e anúncios do governo

Lara Rizério

(Nutthaseth Vanchaichana/Getty Images)

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A temporada de resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) tem início para as empresas do setor de educação com a divulgação dos números da Yduqs (YDUQ3) e em meio à expectativa por mudanças no Fies – programa federal de financiamento estudantil.

Para os números do 4T22 em si, a XP espera que as empresas do setor apresentem resultados neutros no 4T22 de modo geral, dado que os trimestres pares são tipicamente menos surpreendentes, uma vez que os números de captações são menos relevantes.

Os analistas Rafael Barros e Raphael Elage acreditam que este trimestre deva refletir as captações de 2022, com alguns resultados mistos em termos de descontos de tickets (preços), mas não impactando os resultados como no primeiro semestre do ano. Além disso, seguem vendo a concorrência acirrada no segmento digital, com menos espaço para aumentos de preços.

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“Embora não vendo grandes surpresas neste trimestre, esperamos que as empresas apresentem números positivos de captações para o 1S23 nos próximos meses, o que pode refletir positivamente nas ações”, apontam.

As empresas que utilizaram mais promoções de preços no início de 2022 podem apresentar algum alívio de tickets médios, com os descontos podendo perder representatividade no total das mensalidades dos alunos.

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O Bank of America avalia que o foco do setor na construção de uma base de alunos resiliente continua. Por outro lado, a piora macroeconômica pode impactar a provisão para devedores (PDA) para a maioria dos players, causando compressão de do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) para a Ser (SEER3), Cruzeiro do Sul (CSED3) e Cogna (COGN3), segundo o banco.

Contudo, o ensino a distância (EAD) deve seguir em alta e sinalizar um ambiente competitivo mais positivo. Além disso, a maior participação das operações premium deve sustentar resultados resilientes para Yduqs (YDUQ3) e Ânima (ANIM3).

Na visão do Itaú BBA, dado que o quarto trimestre tende a ter menos novidades para as empresas de ensino superior, é provável que os investidores monitorem as taxas de evasão, após o ciclo de admissão do terceiro trimestre, especialmente considerando a recente deterioração do ambiente macroeconômico.

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“Os investidores também devem ficar atentos às atualizações das empresas sobre o ciclo de admissão do primeiro
trimestre. Além disso, esperamos um melhor desempenho dos cursos premium no cenário macro mais difícil”, apontam.

A taxa de evasão é uma variável a ser observada, uma vez que é uma “proxy” para as pressões econômicas, avalia o Credit Suisse. “Porém, pelas nossas conversas com as empresas, não houve deterioração específica nessa dimensão. As empresas continuam sendo impactadas pelo aumento das taxas de juros sobre um nível considerável de endividamento”, avaliam os analistas do banco suíço.

A XP aponta que o ciclo de captação do primeiro semestre é o mais relevante para o setor e normalmente vai até abril. Embora o processo ainda esteja na primeira metade, nossa expectativa geral é de que as empresas apresentem um crescimento de matrículas no presencial na faixa de 8% e no digital de 12%. “Em relação aos tickets, esperamos uma abordagem mais disciplinada com descontos, melhorando, de modo geral, a qualidade da base de calouros”, apontam.

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Para 2023, o Credit Suisse acredita que uma expansão significativa da base de alunos para o presencial é improvável, dada a aparente falta de incentivos econômicos. Por outro lado, o crescimento do ensino a distância pode continuar, ainda que em ritmo menor. “Acreditamos que os tickets possam continuar pressionados para ambos os segmentos, subindo abaixo da inflação”, afirma a equipe de análise do banco.

Para os analistas do Credit, a tendência de receita do setor parece ser ruim se não for auxiliada por um evento externo como o Fies. “Como o governo federal ainda não conseguiu um novo desenho para o programa (nem sinalizou sua magnitude diante das atuais restrições orçamentárias), preferimos manter esse potencial fenômeno externo como um risco de alta para as estimativas. Conforme nossas conversas com as empresas, elas também não contabilizam ainda um possível efeito do Fies, mesmo após o recente anúncio de que o governo começaria a estudar possibilidades de um novo programa de financiamento [que animou as ações na sessão após o comunicado]”, concluem os analistas.

Confira o que deve ser destaque nos resultados do quarto trimestre das companhias do setor:

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Yduqs (YDUQ3) – resultado em 15 de março, após o fechamento

A XP espera que a Yduqs publique um resultado neutro. A receita líquida poderá ser ligeiramente maior na base anual, com avanço de 2,2% na projeção, com alguns ajustes de tickets após a política de descontos da empresa mais agressiva para aumentar a captação ao longo de 2022.

Já a margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) ajustada deve apresentar um aumento anual de 2,6 pontos percentuais (p.p.), para 27,9%, na visão devido a (i) uma base de comparação mais fácil das operações presencial e digital e (ii) maior participação do segmento premium na receita. O lucro líquido ainda deve ser prejudicado pelo alto endividamento líquido da empresa, com expectativa de perdas de R$ 31 milhões.

O Itaú BBA projeta prejuízo líquido de R$ 73 milhões e aponta que, apesar da performance premium seguir sólida, o ambiente macroeconômico deve impactar o EAD e o segmento presencial em vista das menores admissões no terceiro trimestre.

Cogna (COGN3) – 23 de março, após o fechamento

A XP espera que a Cogna entregue resultados ligeiramente positivos no 4T22, impulsionados principalmente pelo desempenho positivo da Vasta, o qual deve compensar uma performance negativa da Saber.

A Kroton deve apresentar receita e margem Ebitda estáveis ​​na base anual, uma vez que as formaturas pressionam a base de alunos e o mix pressiona o ticket médio.

A Vasta deve entregar o guidance de 2022 de receita de subscrições de R$ 1,2 bilhão, também melhorando a margem Ebitda (+4,26 pontos percentuais na base anual). Por fim, o resultado da Saber deve ser impactado pela receita sazonalmente menor do PNLD (vendas ao governo) deste ano, afetando a margem Ebitda. Os analistas estimam que o lucro líquido continue pressionado pelas despesas financeiras líquidas, sendo de R$ 29 milhões em termos ajustados.

O Itaú BBA aponta que, apesar de esperar que 2022 seja um ponto de inflexão para receita de Kroton, projeta uma
sazonalidade pior no negócio de Saber, o que deve levar a uma queda de receita de 1,6% ano contra ano, a R$ 1,525 bilhão. O banco projeta prejuízo de R$ 45 milhões para a companhia.

Ânima (ANIM3) – 27 de março, após o fechamento

A Ânima deve ter resultados neutros no 4T22, aponta a XP, com a receita líquida devendo aumentar 5% ao ano, principalmente devido a números positivos de captação durante 2022.

A margem Ebitda ajustada pode aumentar na base anual devido a (i) integração de ativos da Laureate e (ii) maior alavancagem operacional da Ânima Core e do Digital, enquanto pode cair no trimestre devido a efeitos de sazonalidade. “Esperamos que as despesas financeiras continuem a impactar a lucratividade, embora a empresa aparente estar muito focada em suas iniciativas de gestão de passivos financeiros”, apontam os analistas.

Já o Itaú BBA projeta que a Ânima reporte crescimento de receita com forte expansão de rentabilidade operacional (margem Ebitda) de 6,2 pontos percentuais em um ano, para 24,9%, com maior alavancagem operacional no ensino à distância.

Ser Educacional (SEER3) – 24 de março, antes da abertura do mercado

A XP espera que a Ser Educacional entregue resultados neutros no 4T22, com a receita crescendo 6,6%, a R$ 417 milhões, devido a (i) aquisição da FAEL, concluída no 1T22, (ii) números positivos de captação no segmento presencial a partir de 2022 e (iii) menores taxas de evasão no digital.

A margem Ebitda ajustada pode aumentar em relação ao ano anterior devido a eficiências de custos e despesas promovidas pela empresa e uma maior participação de cursos digitais no mix de receitas. A projeção é de um prejuízo líquido ajustado de R$ 19 milhões, pressionado pela alavancagem financeira.

O Itaú BBA também vê que os resultados serão ajudados pela integração da FAEL, apesar da rentabilidade ainda pressionada. O BTG Pactual projeta um prejuízo líquido ajustado de R$ 10 milhões e resultados fracos, marcados por baixo crescimento da receita, pressão de margem e ciclo de captação fraco na segunda metade do ano.

Cruzeiro do Sul ([ativo=CSDE3]) – 28 de março, após o fechamento do mercado

Para a Cruzeiro do Sul, o BBA projeta crescimento de receita com melhores taxas de evasão no segmento presencial
e menores volumes de admissão no EAD, enquanto para rentabilidade, apesar de melhor alavancagem operacional
no EAD, as margens devem ser afetadas por maiores despesas em provisões para devedores, entre outros.

A XP vê uma boa captação em 2022, mas tickets abaixo da inflação. A margem Ebitda ajustada deve ficar praticamente estável na base anual, a 28,2% (leve queda de 0,8 ponto) dado que o segmento presencial é afetado negativamente pela inflação de custos, enquanto o crescimento do segmento digital pode compensar essa compressão de margem. Os analistas da casa estimam um lucro líquido de R$ 22 milhões, com alguma pressão causada pelas despesas financeiras.

Outras companhias

Entre as empresas de educação cujas ações negociam na Nasdaq, estão Afya, Arco, Vasta e Vitru.

O Itaú BBA espera que a performance da Afya no curso de medicina continue sólida, apesar de resultados ainda
desafiadores do lado de Medcel, o negócio de serviços digitais da companhia. Para Vitru, os resultados devem incluir também a incorporação da Unicesumar, sendo que do ponto de vista orgânico a empresa deve mostrar dinâmica de ticket  saudável com maturação dos polos para ensino digital.

Para as empresas de ensino básico, o BBA acredita que o foco dos investidores nesse trimestre será na confirmação
dos contratos totais firmados para o ciclo comercial de 2023. “Em Arco, esperamos uma receita maior em base anual
e uma rentabilidade maior com ganhos de eficiência em despesas. Já em Vasta, projetamos uma melhor rentabilidade com o aumento da subscrição e crescimento do premium e soluções complementares”, afirmam os analistas do banco.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.