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Para escolher as melhores ações, os gestores profissionais de fundos de investimento costumam realizar uma análise rigorosa dos fundamentos de uma empresa, conversam com gente próxima àquela companhia, prestam atenção ao noticiário macroeconômico e tentam antever que papéis mais vão se beneficiar das constantes mudanças no cenário futuro. Diversos critérios podem ser usados para a escolha dos papéis, mas, geralmente, ou os investidores decidem comprar ações que já estão caras, mas que ainda se mantêm em clara tendência de alta, ou optam por ativos que caíram muito, mas que podem gerar um lucro consistente daqui a alguns anos, quando o mercado virar.
Na pesquisa “Value versus growth investing: why do diferent investors have diferent styles” (numa tradução literal “Investimento em valor vs. investimento em crescimento: por que investidores diferentes têm estilos diferentes”), os economistas Henrik Cronqvist e Frank Yu, da Escola de Administração China Europa Internacional, em Xangai, e Stephan Siegel, da Universidade de Washington, afirmam que o DNA e as experiências passadas são determinantes para definir se um investidor será um “caçador de pechinchas” – ou aquele que compra papéis com preços deprimidos com a expectativa de que eles voltem a se valorizar dentro de algum tempo – ou um seguidor de tendências – quem compra ações caras, mas que vêm de uma série de altas praticamente constantes relacionadas a uma conjunção de fatores favoráveis.
Para determinar até que ponto o DNA poderia explicar a estratégia a ser adotada por uma pessoa na Bolsa, os pesquisadores examinaram as composições genéticas e as carteiras de investimentos de 35.000 gêmeos idênticos (univitelinos) e fraternos (bivitelinos) na Suécia. Ao fim da experiência, os economistas constataram que a similaridade entre os investimentos é 100% maior entre gêmeos idênticos do que entre fraternos, o que comprovaria a influência do DNA nas decisões.
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Após constatarem a ligação entre o DNA e a carteira de investimento, os economistas perceberam que, apesar da correlação, as carteiras ainda guardavam algumas diferenças. Nesse ponto entrou a segunda parte da pesquisa: a influência que o ambiente e as experiências passadas exercem sobre a composição de um portfólio de renda variável. “A realidade que enfrentamos em anos anteriores define nossas escolhas”, aponta o psicanalista Paulo Sternick, um estudioso do mercado de capitais.
Um dos fatores decisivos na escolha de muitos acionistas, conforme aponta o estudo, é o momento econômico em que eles ingressaram no mercado de trabalho. A pesquisa aponta que aqueles que vivenciaram guerras e crises econômicas quando conseguiram o primeiro emprego, principalmente na faixa dos 18 aos 25 anos, têm maior propensão a investir em ações baratas, levando em conta que possuíam uma situação financeira de dinheiro escasso e as possibilidades de investimento eram diminutas. Uma hipótese plausível é que essas pessoas passaram por um período de grande turbulência seguido por uma recuperação – e aprenderam, na prática, que crises, apesar de dolorosas, geram grandes oportunidades.
O estudo aponta ainda o ambiente de criação como um dos pontos cruciais na seleção dos papéis que compõem a carteira de um indivíduo. Diante dos números que a pesquisa gerou, os economistas puderam perceber que quanto mais complicada é a situação financeira durante a infância, maior a propensão de essa criança se tornar um caçador de pechinchas na maturidade. Da mesma forma, quem chega ao mercado prestes ao estouro de uma bolha vai perder dinheiro, e dificilmente isso não deixará cicatrizes. “Dependendo do que a pessoa viveu e do que aconteceu quando ela entrou no mercado, o impacto pode até selar um destino. Um investidor que não previu uma derrocada na Bolsa e perdeu dinheiro pode se afastar de vez do mercado acionário”, exemplifica Sternick.
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País da renda fixa
Ao trazer as conclusões dos economistas para a realidade brasileira, é possível notar que uma pequena parcela da população já teve experiências no mercado de ações. Pouco menos de 600 mil brasileiros possuem cadastro na BM&FBovespa, que equivale a menos de 0,3% da população. O percentual é pífio quando comparado ao de outros países da própria América Latina, como Chile, Colômbia e México. Mesmo entre os brasileiros que investem em Bolsa, papéis de “blue chips” – como Vale, Petrobras e grandes bancos – aparecem sempre no topo das preferências, independente de o cenário ser favorável ou não a essas empresas.
Dois pontos que explicam a aversão dos investidores às ações mais baratas são a falta de informação e o ceticismo com companhias que não estão em evidência no noticiário econômico. “As pessoas percebem a fragilidade da nossa governança corporativa e a falta de transparência tanto das empresas como do Estado, o que acaba gerando medo e afasta os acionistas, principalmente de papéis de menor liquidez”, explica Sternick. Como a taxa de poupança do brasileiro também é bem inferior à de países emergentes, as pessoas, com pouco dinheiro guardado, acabam por escolher ações de empresas que consideram mais seguras – ou seja, as maiores, em uma análise bastante simplista.
A imensa maioria dos brasileiros, no entanto, opta por aplicações que considera de baixíssimo risco, ainda que sejam muito pouco rentáveis e percam para a própria inflação em muitos anos. Esse é o caso da caderneta de poupança, dos fundos de previdência PGBL e VGBL e dos títulos de capitalização – esse último caso nem é considerado um investimento por muitos especialistas financeiros devido ao retorno ínfimo que pode gerar. Na dúvida, o brasileiro deixa o dinheiro aplicado naquilo em que ele praticamente não enxerga nenhuma possibilidade de perda. “Grande parte dos investidores acaba optando pela segurança que a renda fixa oferece, já que eles podem dormir sossegados, sem se preocupar com uma onda de volatilidade muito forte”, afirma o coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP, William Eid Jr.
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Quero ser caçador
Mas como se tornar um caçador de pechinchas na Bolsa? Eid Jr. explica, em primeiro lugar, o que não fazer. “É preciso assumir que há uma forte presença do ‘efeito manada’ no mercado, ou seja, os investidores costumam seguir a maioria. Com essa consciência, o próximo passo é o acionista entender que não basta ler os jornais para saber se compensa comprar ou vender uma ação porque as notícias veiculadas já foram precificadas e, normalmente, as empresas presentes nas manchetes de jornais são as de maior negociação da Bolsa”, defende.
O próximo trabalho é examinar as companhias listadas na BM&FBovespa. Uma das formas mais tradicionais é o uso da análise fundamentalista, que busca avaliar a saúde financeira da empresa e projetar seu lucro no futuro através de seu balanço e de relatórios feitos por analistas. Ao utilizar a ferramenta de trabalho de grandes investidores, como Warren Buffett, é preciso levar em consideração também fatores macro e microeconômicos, a fim de saber não apenas a situação da empresa avaliada, mas o cenário no qual ela está inserida. Quem não tem experiência no assunto deve conversar com um assessor de investimentos que possa ajudá-lo a fazer esse tipo de avaliação ou um analista de quem seja possível absorver o conhecimento técnico necessário.
Ao realizar essa bateria de exames, o investidor terá em mãos um diagnóstico que apontará se a ação que despertou seu interesse está cara ou barata e qual o seu potencial de crescimento. Apesar de não frequentar assiduamente as rodas de conversas de muitos brasileiros, as “pechinchas” da bolsa podem guardar gratas surpresas para aqueles que veem nelas potenciais vencedoras do mercado e têm paciência para aguardar uma reviravolta.
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Essa matéria foi publicada na edição 50 da revista InfoMoney, referente ao bimestre maio/junho de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.
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