Velha estrela e patinho feio do 3T: as projeções para Itaú, BB, Bradesco e Santander

Analistas veem que Itaú deve ser mais uma vez destaque positivo, enquanto o BB deve sofrer mais com as provisões no segmento rural (ainda que o lucro siga forte)

Lara Rizério

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Os bancões iniciam a temporada de balanços na próxima terça-feira (29), com a divulgação dos números do Santander Brasil (SANB11), antes da abertura do mercado.

Na visão da XP, a temporada deve manter as tendências observadas no 2º trimestre. Para os bancos incumbentes, as carteiras de crédito estão crescendo dentro do guidance, levando a melhores margens financeiras de clientes.

No entanto, as margens financeiras (NIIs) do mercado provavelmente mostrarão volatilidade à medida que as taxas de juros subam novamente. Em relação à qualidade de crédito, espera-se que a maioria dos bancos apresente NPLs (taxas de inadimplência) estáveis, enquanto o Custo do Risco pode sofrer alguma volatilidade com a deterioração no setor do Agronegócio. No geral, esses fatores devem resultar em melhora sequencial nos resultados, principalmente para Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Santander, enquanto o Banco do Brasil (BBAS3) pode “brilhar menos” nesta temporada.

O Itaú BBA espera que os bancos com exposição a varejo devam mostrar os melhores resultados, impulsionados por um cenário macro favorável para crédito (inflação controlada, atividade forte, e baixo desemprego).

No Brasil, ressalta o JPMorgan, os investidores parecem mais focados em bancos selecionados recompondo margens e vê números melhores para o Bradesco e o Itaú para o trimestre em relação ao Banco do Brasil (BBAS3), com as provisões no segmento rural impactando crescimento sequencial de lucro.

Entre os nomes de grande capitalização, o Bradesco BBI espera que o Itaú registre os resultados de melhor qualidade no trimestre em termos tanto de crescimento da receita quanto de qualidade controlada dos ativos. O Santander Brasil, por sua vez, deve registrar modesta expansão do lucro líquido, pois a receita líquida de intermediação financeira deve ser impactada pelo crescimento mais lento dos empréstimos e ganhos comerciais mais fracos. O Banco do Brasil, também na visão da casa, deve reportar lucro líquido estável no trimestre de R$ 9,5 bilhões (+8,1% em base anual), pois seu melhor resultado de receita de intermediação financeira deve ser compensado por maiores despesas com provisões, também ressaltando uma carteira de empréstimos rurais ainda em deterioração.

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O Bank of America espera que o momentum dos lucros permaneça robusto (+14% na base anual) apoiado pelo sólido crescimento do NII do Cliente e qualidade de ativos estável. No entanto, monitorará: i) a evolução do NII do Mercado (dado um ambiente de taxas mais altas), ii) taxas de inadimplência (especialmente no segmento rural) e iii) o apetite de empréstimos da administração considerando o macro incerto. Entre os bancos de grande capitalização, espera que o Santander registre o crescimento mais rápido dos lucros em uma base na base anual, e o Bradesco em uma base trimestral. A projeção também é de um risco modesto de queda para as suas estimativas para o Banco do Brasil (menor contribuição da Patagonia e maiores encargos de provisão).

Leia mais:

Confira as expectativas para cada um dos 4 bancos incumbentes listados da Bolsa brasileira:

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Santander Brasil (SANB11) – resultado em 29 de outubro, antes da abertura

A XP estima um trimestre de resultados positivos para o Santander. O crescimento dos empréstimos para pessoas físicas, financiamento ao consumidor e PMEs (Pequenas e Médias Empresas) deve manter um bom ritmo, compensando o desempenho mais fraco das grandes empresas.

Como resultado, espera-se que a carteira de empréstimos expandida aumente 0,5% trimestre a trimestre e 6,9% na base anual, ligeiramente melhor do que no trimestre anterior ajustado pela variação cambial. Espera-se que as tarifas e comissões mantenham um crescimento de dois dígitos, embora marginalmente mais lento do que no 2º trimestre.

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A projeção é de um leve aumento de 2% na Provisão para Créditos Duvidosos, encerrando o trimestre em R$ 6,0 bilhões, refletindo uma inadimplência estável de 3,2% durante o trimestre. Esses efeitos combinados devem levar a um lucro líquido recorrente maior de R$ 3,49 bilhões no trimestre (+5,0% trimestralmente), implicando um ROAE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido Médio) de 16,1% (+60 pontos-base na comparação trimestral).

A Genial, por sua vez, acredita que a trajetória de melhora na rentabilidade do Santander Brasil deve continuar neste trimestre, mas de forma mais gradual. A projeção é de um lucro de R$ 3,57 bilhões para o 3T24, representando um avanço de 7,3% na base trimestral e 31% na anual. No entanto, estima uma desaceleração em relação aos crescimentos reportados no 1T24 de 37,1% e no 2T24 de 10,3% trimestre a trimestre. A projeção também é de um ROE de 16,1%.

A casa de análise também observa que o banco tem adotado uma postura mais cautelosa em comparação com o mercado neste ponto do ciclo de crédito. A expectativa é de um crescimento de 7,3% anualmente, abaixo da alta de 7,8% no 2T24 e da projeção de 10,6% feita pela Febraban para o setor em 2024. “Entendemos que o Santander está priorizando a rentabilidade em detrimento do crescimento, e que as mudanças no mix da carteira devem impactar positivamente o NII Clientes”, avalia.

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O BBI vê uma qualidade de lucros “mista” para o banco. Embora espere ver uma expansão do lucro líquido no 3T24, o banco vê risco de baixa para o resultado de juros, principalmente em um crescimento potencialmente mais lento dos empréstimos e ganhos de tesouraria.

Bradesco (BBDC4) – 31 de outubro – antes da abertura dos mercados

A XP espera um trimestre positivo para o Bradesco, com o banco focado em retomar a lucratividade e manter uma abordagem cautelosa na gestão de riscos.” À medida que o portfólio colateralizado vá tendo um bom desempenho, ele cria oportunidades para um maior apetite por empréstimos não garantidos”, avaliam os analistas.

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No segmento de PMEs, a estratégia de desaceleração do crescimento resultou em menor NII, mas isso foi compensado por menores provisões. O banco permanece prudente em relação a possíveis mudanças no mix de crédito, avaliam os analistas, garantindo que a originação (processo que envolve a identificação, avaliação e aprovação de pedidos de crédito de pessoas e empresas) permaneça de alta qualidade.

Assim, a expectativa é que o NII atinja R$ 17,6 bilhões, com crescimento de 11,0% anualmente e 12,6% na base trimestral. Enquanto isso, projeta que a inadimplência em 90 dias diminua 20 pontos-base trimestre a trimestre, continuando uma tendência positiva. A carteira renegociada deve desacelerar pelo terceiro trimestre consecutivo. No entanto, a expectativa é que a inadimplência aumente sequencialmente, atingindo R$ 8,2 bilhões. A projeção da casa é de um lucro líquido de R$ 5,3 bilhões, com ROAE de 13,2%.

“No geral, se os resultados do 3º trimestre estiverem alinhados com nossas estimativas, o banco poderá gerar um lucro líquido em 2024 ligeiramente acima do topo implícito no guidance, o que incentivaria ainda mais os investidores”, avalia a XP.

A Genial, por sua vez, projeta lucro líquido um pouco menor, de R$ 5,15 bilhões, mas cerca de 2% acima do consenso, representando uma razoável expansão de 9,1% ante o 2T24 e 11,4% frente o 3T23, com um ROE de 12,6%.

“Acreditamos que a recuperação da rentabilidade do banco ocorrerá de forma gradual nos próximos trimestres, sem grandes oscilações, à medida que as linhas de receita ganhem força, as despesas com provisões permaneçam controladas e o plano estratégico seja implementado. Para este trimestre, esperamos que o Bradesco priorize a rentabilidade em vez de um crescimento agressivo”, avalia.

Com estratégia mais conservadora, do lado positivo, as despesas com provisões devem permanecer sob controle, acompanhadas por uma queda na inadimplência. No entanto, o foco em produtos mais conservadores deve resultar em uma desaceleração no crescimento anual do NII Clientes (receita de juros de clientes). Além disso, o novo ciclo de alta de juros deve impactar negativamente a receita de tesouraria (NII Mercado) nos próximos trimestres, aponta.

Itaú (ITUB4) – 4 de novembro – depois do fechamento dos mercados

Mais uma vez, o Itaú deve ser a estrela da temporada de balanços entre os bancões.

O BBI estima que o Itaú publique outro conjunto sólido de resultados, com lucro líquido de R$ 10,4 bilhões (+2,8% no trimestre, +14,6% em base anual). O mix da carteira de empréstimos do banco deve melhorar, impulsionado pela aceleração nos empréstimos a pessoas físicas, ganhando participação e um melhor mix de produtos, o que provavelmente contribuirá para um maior resultado de receita com intermediação financeira com clientes, enquanto o resultado da Tesouraria deve se normalizar a partir de comparações difíceis no 2T24.

“É improvável que as despesas com provisão apresentem quaisquer grandes surpresas e as taxas de inadimplência parecem estar sob controle, então podem mostrar uma ligeira contração no trimestre”, avalia. Além disso, o Itaú deve entregar receita de tarifa estável no trimestre, com tarifas de banco de investimento impulsionadas pelas linhas de mercado de crédito (DCM), enquanto o opex (gasto operacional) deve mostrar um ligeiro aumento devido a ajustes salariais e investimentos no trimestre, mas ainda permanecendo dentro da faixa de orientação do banco de 5,0-8,0% em base anual.

A XP também vê resultados positivos e estima um crescimento da carteira de crédito ligeiramente melhor do que no trimestre anterior, impulsionado pela parcela Pessoa Física da carteira (9,8% na base anual de crescimento). No entanto, o crescimento deve ser equilibrado entre indivíduos, empresas e PMEs. O lucro líquido deve continuar sua trajetória positiva, encerrando o trimestre em R$ 10,23 bilhões, refletindo um sólido crescimento de 13,5% ano a ano (e +1,8% no trimestre). Este lucro implica um ROAE de 22,9%.

A Genial vê o Itaú liderando novamente, mas desta vez de forma “isolada”, com um ROE acima de 22%, sólida expansão de lucro e aceleração no crescimento do crédito. A projeção é de um lucro líquido de R$ 10,5 bilhões, refletindo um crescimento de 4,4% ante 2T24 e 16,3% frente o 3T23, o que deve resultar em uma expansão do ROE de 0,01 ponto no trimestre e 1,34 ponto ano a ano, atingindo 22,4%.

“Além disso, o resultado do 3T24 deve ser positivamente impactado pela reversão das provisões relacionadas ao caso Americanas (AMER3), com um ganho incremental estimado de R$ 450 milhões, elevando o lucro total para R$ 10,96 bilhões e o ROE para 23,4%”, avalia.

Isso porque, a varejista tinha, ao todo, cerca de R$ 2,7 bilhões em dívida com o banco, que já foram provisionados e baixados como prejuízo (write-off) no 4T22. Agora, ressalta a Genial, com a execução do plano de recuperação judicial, o Itaú deverá ser beneficiado pelo pagamento parcial dessas pendências, impactando positivamente o lucro do trimestre. Mesmo sem considerar esse efeito pontual da Americanas, o banco deve apresentar uma boa evolução no lucro e manter sua rentabilidade em um nível elevado, aponta a casa.

A Genial também entende que a elevação da Selic , iniciada em setembro de 2024, não deve trazer dificuldades significativas para o NII Mercado (receita de juros do mercado), uma vez que o banco costuma realizar hedge integral contra variações graduais da taxa de juros.

Banco do Brasil (BBAS3) – 13 de novembro – depois do fechamento do mercado

A projeção do mercado é de um trimestre desafiador para o Banco do Brasil.

A XP ressalta que o Plano Safra foi adiado e só começou em setembro e, embora isso possa ser compensado no 4º trimestre, espera-se que o crescimento do 3º trimestre seja afetado. Ao mesmo tempo, prevê-se que o nível de provisões aumente, refletindo a deterioração da carteira rural. Por outro lado, o início do ciclo de aumento das taxas de juros domésticas deve beneficiar a Margem Financeira (NII) do banco, que deve atingir R$ 26,4 bilhões (+11,7% anualmente), enquanto as receitas de tarifas devem atingir R$ 9,2 bilhões (+6,5% ano a ano).

A XP projeta que os custos de crédito saltem para R$ 8,9 bilhões (+18,5% ano a ano), sugerindo o limite superior do guidance revisado (R$ 31 a 34 bilhões). Espera-se que os índices de inadimplência (NPLs) aumentem 20 pontos-base, encerrando o trimestre em 3,2%. Como resultado, os analistas esperam um lucro líquido de R$ 9,5 bilhões (+9,1% anualmente e estável trimestralmente), implicando um ROAE de 21,7% (estável sequencialmente). “No geral, esperamos que o BB divulgue resultados pouco inspiradores, impulsionados por uma dinâmica saudável de receita, mas um lucro líquido de lado, refletindo um provisionamento mais alto”, aponta a equipe de análise.

A Genial projeta um resultado “mais moderado” para o Banco do Brasil, com uma leve retração de lucro de 0,6% ante o 2T24t, devido ao aumento no provisionamento no segmento rural, apesar de uma expansão anual de 7,5% anualmente, totalizando R$ 9,44 bilhões. A estimativa é de que o ROE alcance 20,5%, com uma leve retração de 0,61 ponto ante o 2T24 e -0,33 anualmente.

O Banco do Brasil também deve ser beneficiado pela reversão de provisões do caso Americanas nesse trimestre. No 4T22, o banco terminou de provisionar e retirou completamente do balanço (write off) os R$ 1,36 bilhão de dívidas com a varejista (o menor montante dentre os incumbentes), e agora deve receber o pagamento parcial de aproximadamente 30% em caixa desse valor (R$ 408 milhões). “Esperamos que o banco use a parte recuperada para realizar provisões adicionais (reforço de abalanço) neste trimestre”, avalia.

Apesar da retração de lucro trimestral, a Genial continua vendo a companhia em um nível de lucratividade interessante, sendo um dos melhores resultados dentre os incumbentes, tanto em termos de lucro quanto de rentabilidade.

O BBI espera que as despesas com provisão devem limitar a expansão dos lucros. A estimativa é de um lucro líquido de R$ 9,5 bilhões no 3T24 (estável no trimestre, +8,1% em base anual), com provisões potencialmente maiores do que o esperado compensandoo crescimento da receita líquida de juros.

Por exemplo, a receita líquida de juros deve permanecer sólida, com a maior taxa Selic gerando maiores ganhos comerciais, compensando uma contribuição potencialmente menor do Banco Patagonia. Enquanto isso, acredita que o mix da carteira de crédito deve permanecer semelhante em comparação ao trimestre anterior.

Notavelmente, a qualidade dos ativos pode se deteriorar no trimestre, principalmente impactada pela pressão dos produtores rurais, o que pode pesar nas despesas com provisão no trimestre. Além disso, prevê uma desaceleração na receita de tarifas, enquanto as despesas operacionais devem permanecer sob controle. Em geral, estima que o Banco do Brasil deve reportar um lucro líquido semelhante ao 2T24 em cerca de R$ 9,5 bilhões, principalmente devido a maiores despesas com provisão.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.