VALE3: Por que o suspiro de alta do minério não anima analistas com as ações da Vale?

Maior parte dos analistas não enxergam grandes oscilações do preço do minério neste ano, mas outras questões estão no radar

Vitor Azevedo

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O minério de ferro vem se recuperando nos últimos dias, com uma sequência de altas. No começo do mês de abril, a tonelada da commodity negociada em Dalian flertou com os US$ 104 para hoje fechar a US$ 112,48. No entanto, o avanço da commodity não muda as projeções para o médio e longo prazo e especialistas continuam se dividindo em relação às ações da Vale (VALE3). 

Artur Bontempo Filho, analista de minério e aço da WoodMac, menciona que o repique visto recentemente, em parte, já era esperado, por conta de uma retomada da produção de aço na China. A produção das siderúrgicas, por lá, caiu durante março, com consumo mais fraco do que o esperado, mas agora vem se recuperando.

A projeção da consultoria é de que a relação entre demanda e oferta deve seguir próxima à atual em 2024, até com possíveis melhoras, já que a China, apesar dos recentes deslizes da sua economia, segue com a meta considerável de crescer 5% neste ano. 

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“Teremos de ver o resultado da expansão do PIB no primeiro semestre e o que eles anunciarão para alcançar a meta do ano. Mas os problemas estão dados. A dívida está alta e o mercado imobiliário está enfraquecido”, fala Bontempo.

“A economia vai reagir? Vão injetar dinheiro para compensar? São respostas que, por enquanto, não existem. A projeção de crescimento é um desafio”.

VALE3 no médio prazo

Para o médio e longo prazos, a visão da WoodMac não mudou. A casa, já há algum tempo, vem sinalizando que enxerga uma queda do preço do minério no futuro, com a China cada vez mais vendo sua demanda cair, em meio à urbanização e industrialização já avançada, e com a entrada de nova capacidade, principalmente da mina de Simandou, na Guiné – o que pressiona os preços.

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Lucas Laghi, analista da XP Investimentos, explica que a recente melhora se deve a uma antecipação. As siderúrgicas, de olho na projeção de crescimento e nos estímulos do governo à infraestrutura – que devem surtir mais efeitos no segundo semestre -, aproveitaram a recente queda para recompor estoques e se preparem. 

“Apesar de continuarmos acreditando em preços mais baixos para o minério de ferro no longo-prazo (demanda potencialmente menor e aumento de oferta até o final da década), nossa expectativa segue de que a oferta/demanda do setor permanecerá apertada nesse ano, favorecendo preços entre US$110 e 120”, corrobora o analista da corretora. 

Com tudo isso em vista, as visões das casas para a Vale, maior mineradora do Brasil e uma das maiores do mundo, é que a empresa está bem posicionada, ao menos no que tange aos ganhos com o minério. Artur Bontempo Filho, da WoodMac, lembra que a companhia, hoje, tem um dos menores custos caixa do mercado (C1), o que a mantém como competitiva. 

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“Vemos a Vale não só já descontada contra o que o patamar atual do minério sugeriria para as ações (~10% de desconto contra o minério de ferro), mas podendo se beneficiar desse movimento de retomada de curto-prazo para os preços da commodity. Enxergamos um dividend yield atrativo para 2024 com preços de minério acima dos US$ 110”, fala Laghi, da XP. A corretora, atualmente, tem recomendação de compra para as ações da Vale.

Problemas internos

As casas que estão mais pessimistas com a Vale no momento, além de mencionarem a dúvida quanto à manutenção do preço do minério nos níveis atuais ao longo do ano, citam outras questões inerentes à mineradora brasileira.

“Apesar do fôlego para a commodity, em função de especulações sobre uma maior demanda interna por minério de ferro na China, ainda não vejo fatores que possam impulsionar os preços ao longo do ano. A demanda ainda não demonstrou uma reação concreta e na magnitude necessária”, diz Henrique Cavalcante, analista da Empiricus Research, que está neutra para a Vale.

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Fora isso, para a research, ajuda a sustentar a posição neutra os ruídos causados pelo processo de sucessão do CEO, a pressão política sofrida pela empresa recentemente e falta de visibilidade em relação a potenciais aumentos nas provisões relacionadas ao rompimento da barragem em Mariana.

Ontem, o Bank of America foi numa linha mais pessimista e rebaixou as ações da Vale para uma recomendação neutra, além de ter cortado o preço-alvo de R$ 95 para R$ 62. “Apesar da grande queda nos preços do minério de ferro no acumulado do ano, temos dificuldade para ver o potencial de valorização de curto prazo para a commodity“, destacam os analistas encabeçados por Caio Ribeiro, que também mencionaram as questões das provisões.

Hoje, os papéis ordinários da Vale têm 11 recomendações de compra, seis neutras e uma de venda. Apesar do tom ainda otimista, há um mês eram 14 recomendações de compra, quatro neutras e uma de venda.

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O preço-alvo médio atual está em R$ 86,65, contra R$ 91,20 um mês atrás. Nesta quarta-feira (10), as ações da Vale caíram 1,5%, fechando cotadas a R$ 61,60. No acumulado de abril, as ações sobem 1,26%, mas em 2024 sofrem perdas de 16,6%.