Vale: nova proposta de acordo em Mariana pode ser virada de página para VALE3?

Proposta pode levar ao fim de incertezas e quantia ainda está próxima do que a mineradora já provisionou para a situação

Vitor Azevedo

Tragédia em Mariana (Fotos públicas)

Publicidade

A Vale (VALE3) noticiou nesta segunda-feira (29), em fato relevante, uma nova proposta feita pela Samarco, sua joint venture com a BHP, para um acordo definitivo com governos sobre a reparação pelo desastre de Mariana (MG), somando R$ 127 bilhões. Apesar de a quantia ser maior do que a oferta anterior, de R$ 42 bilhões, analistas enxergaram a notícia como positiva. 

“Um acordo final representaria o fim de uma importante pendência que paira sobre as ações da empresa. É um assunto que tem sido um ponto chave de discussões com investidores desde 2015”, fala o Itaú BBA. 

Os valores representam uma contribuição de 50% da BHP Brasil e da Vale como devedores secundários, caso a Samarco não possa financiar como devedor primário, conforme o fato relevante.

Continua depois da publicidade

O banco, nesta frente, destaca que ainda há questões importantes sobre o montante final a ser desembolsado por cada companhia e indaga a capacidade da Samarco de financiar diretamente as obrigações.  Durante a teleconferência de resultados do quarto trimestre de 2024, executivos da Vale mencionaram que a provisão da companhia não acompanhou a da BHP, que foi maior, pelo fato de eles acreditarem que a Samarco tem a capacidade de arcar com suas obrigações financeiras. 

“Também observamos que resolver essa questão no Brasil provavelmente reduz as chances de decisões negativas significativas em outras jurisdições, como as disputas em andamento no Reino Unido e nos Países Baixos”, acrescenta a equipe do BBA, encabeçada por Daniel Sasson.

O Itaú BBA ainda diz que a nova proposta levaria a um aumento limitado nas provisões atuais. Os US$ 9 bilhões relativos à parte da Vale nas obrigações futuras, conforme a proposta, levariam a um aumento de cerca de US$ 4 bilhões, “o que está alinhado com as provisões atuais no balanço da empresa”. 

Continua depois da publicidade

“Portanto, se um acordo for realmente alcançado, isso representaria uma surpresa positiva para os investidores que esperavam que as provisões da Vale correspondessem aos números da BHP, de US$ 6,5 bilhões”, explica o banco. 

O Morgan Stanley vai na mesma direção. “O acordo proposto está alinhado com nossas estimativas. Acreditamos que um acordo final, embora limite o potencial de aumento nos dividendos especiais (já que a dívida líquida expandida da Vale se aproximaria do limite superior de sua meta de US$ 10 a 20 bilhões), provavelmente será um catalisador positivo para as ações, contribuindo para uma reavaliação do múltiplo ao remover incertezas e virar a página deste evento infeliz”, expõe a equipe do banco americano, liderada por Carlos de Alba.

Contudo, alguns entes podem não estar tão satisfeitos com a proposta. Em entrevista à Reuters, o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, disse que espera um acordo mais elevado, somando pelo menos R$ 100 bilhões em pagamentos novos.

Continua depois da publicidade

“Eu não estou satisfeito com o valor final, mas com a postura das empresas, sim, de buscar algo mais compatível”, disse Soares Júnior. Considerando somente valores ainda não pagos, a proposta nova soma R$ 90 bilhões.

“Eles estão pedindo prazo de 20 anos para tudo, coloca ali mais R$ 500 milhões por ano, para chegar em R$ 100 bilhões, para eles não é nenhum sacrifício.”

(com Reuters)