Vale (VALE3): dividendos extraordinários ofuscam resultado “morno” e trazem sinais positivos; ação fecha em alta de 3,48%

Para a XP, anúncio de dividendos reflete o conforto da empresa na geração de fluxo de caixa e na conclusão da transação da Vale Metais Básicos

Lara Rizério

(Divulgação)

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Com resultado do terceiro trimestre de 2023 (3T23) considerado de neutro a levemente negativo, os números em si da Vale (VALE3) para o período não seriam considerados um grande catalisador para os ativos.

Contudo, o anúncio de dividendo e JCP extraordinários (divulgado na véspera antes do fechamento do mercado, uma vez que a notícia foi vazada para a imprensa) e a alta do preço do minério na sessão desta sexta-feira (27), encerrando a semana com ganhos, são fatores que pendem para o lado positivo para as ações.

No mercado de minério, a commodity teve ganhos uma vez que sinais adicionais de estabilização da economia chinesa sustentaram o ânimo, já impulsionado por estímulos extras para o maior produtor de aço do mundo. O contrato futuro do minério de ferro mais negociado em janeiro na bolsa de commodities de Dalian, na China, encerrou as negociações diurnas com alta de 2,1%, a 889,50 iuanes (US$ 121,57) por tonelada métrica, com ganhos de cerca de 4% esta semana.

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Os ativos, porém, abriram a sessão desta sexta perto da estabilidade: às 10h05 (horário de Brasília), a queda era de 0,34%, a R$ 65,04, uma vez que parte da reação aos proventos já foi registrada na véspera, com as ações fechando em alta de 2,14% na sessão de quinta. Contudo, ao longo do pregão, a ação passou a registrar ganhos fortes, fechando em alta de 3,48%, a R$ 67,57.

Sobre os proventos, por sinal, a mineradora anunciou pagamento de cerca de R$ 10,5 bilhões aos seus acionistas.

O montante é correspondente ao valor bruto de R$ 2,33166 por ação, dividido em R$ 1,565890 por ação como dividendos e R$ 0,765770 por ação como juros sobre o capital próprio (JCP), com pagamento para 1 de dezembro e com base na posição acionária de 21 de novembro.

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Para a XP, o anúncio de dividendos reflete o conforto da empresa na geração de fluxo de caixa e na conclusão da transação da Vale Metais Básicos. Na visão do Goldman Sachs, o dividendo extraordinário vem como uma surpresa para muitos investidores, que estavam esperando o anúncio somente no primeiro trimestre de 2024. Luan Alves, analista chefe da VG Research, aponta que o anúncio reforça que a empresa está no caminho correto de geração de valor para o seu acionista.

O Itaú BBA também ressalta que esses dividendos foram anunciados como uma distribuição antecipada da política de dividendos relativa ao segundo semestre de 2023 (2S23), que só deveria ser paga em março de 2024. “Dito isso, acreditamos que isso sinaliza que a Vale está confiante com suas perspectivas de geração de FCF [fluxo de caixa livre], o que poderia permitir um forte distribuição em 2024 também”, avalia.

A Vale também anunciou um novo programa de recompra de 150 milhões de ações ordinárias e seus respectivos ADRs (cerca de 3,5% das ações em circulação e no valor de cerca de US$ 2,0 bilhões). “Embora traga flexibilidade em termos de alocação de capital, acreditamos que os dividendos são agora a alternativa preferida para devolver dinheiro aos acionistas”, apontam os analistas do banco.

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A Eleven Financial estima um dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação, ou rendimento de dividendos) ao redor de 10% em 2023 com o dividendo extraordinário. “Para 2024 esperamos um yield ao redor de 8% sem considerar efeitos da recompra e possíveis dividendos extraordinários”, aponta a casa de análise.

Os números da companhia e visão para ações

Para o BBA, a geração operacional de fluxo de caixa livre foi decente em US$ 1,1 bilhão, enquanto a dívida líquida expandida atingiu US$ 15,5 bilhões no 3T23. Os custos de entrega para a China foram o “ponto mais baixo” do trimestre.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado ficou em US$ 4,5 bilhões no 3T23, um aumento de 12% na base anual, mas 2% abaixo das estimativas do BBA e 4% abaixo do consenso.

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A XP aponta que os números do terceiro trimestre da companhia foram neutros no 3T23, com o Ebitda ficando 1% abaixo do que projetava.

“Com os números operacionais já divulgados, destacamos as soluções de minério de ferro como destaque positivo (Ebitda ajustado subindo 13% na base trimestral), com custo caixa C1 [(custo de produção da mina ao porto)] a tonelada em queda de 7% na base trimestral”, ressalta. Isso, na visão dos analistas, mitiga parte das preocupações dos investidores no não cumprimento do guidance para o ano de 2023 de US$ 21,5 a 22,5 a tonelada (embora esperemos que esteja mais próximo do topo do guidance).

O Bradesco BBI ressalta que, apesar do Ebitda ter ficado abaixo do consenso em 4%, subiu 8% no trimestre, beneficiado por maiores volumes de minério de ferro, preços mais altos e custos C1 mais baixos. O negócio de minério de ferro, em geral, foi o destaque positivo do período, com Ebitda crescendo 13% (embora em linha com o consenso) enquanto Metais Básicos foi o negativo, com Ebitda 20% menor (neste caso, abaixo do consenso).

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Para a Eleven, o custo C1 excluindo compras de terceiros apresentou uma importante redução no trimestre, mostrando a disciplina da companhia na redução de custos. Isto compensou o maior gasto de compras de minério de terceiros, fazendo o C1 atingir estabilidade frente ao 2T23.

Para a casa de análise, a mineradora teve mais uma série de bons resultados em um ambiente difícil. “O resultado da companhia veio em linha com nossas estimativas, impactado pelo maior volume vendido e bons preços de minério aliado ao bom controle de custos visto no trimestre. As vendas de minério cresceram 10% frente ao 2T23, fruto da boa produção e venda de estoques formados ao longo do ano. O preço do minério de ferro também foi um fator importante, com alta de 7% frente ao 2T23, atingindo US$ 105 a tonelada, compensando o menor prêmio de qualidade no trimestre (- US$ 3 a tonelada) devido às baixas margens dos produtores siderúrgicos chineses no período”, avalia.

A Genial aponta que os números vieram em dinâmicas mistas como esperado, com uma receita em linha, um Ebitda abaixo e lucro líquido acima do esperado.

A mineradora Vale apurou lucro líquido aos acionistas de US$ 2,836 bilhões no terceiro trimestre deste ano, recuo de 36,3% sobre igual período do ano passado. Na comparação trimestral, a alta foi de 217,9%. Já a receita líquida de vendas somou US$ 10,623 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 7% ante o mesmo período do ano anterior e 9,8% maior na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

Para os analistas da casa, mesmo que o Ebitda tenha sido reportado abaixo das suas projeções (-13% versus a projeção da Genial), ainda assim a Vale demonstrou recuperação nesta linha do resultado, de forma sequencial em +7,8% na base trimestral e na base anual em 11,2%.

“Acreditamos que a melhora está atrelada a (i) sazonalidade positiva para a produção, típicas dos 3Ts, que além de melhorar as vendas, e gera uma diluição de custo fixo, arrefecendo o custo C1 de forma sequencial. Além disso, vemos como outro componente importante para a melhora do resultado o (ii) aumento de preço do minério de ferro 62% Fe, que encorajou a Vale a reforçar o ritmo de desestocageem agora no 3T23 do volume que havia sido acumulado pelas restrições de embarques no terminal Ponta da Madeira (MA), durante o 1T23”, avalia a Genial.

O Ebitda do segmento de minério atingiu U$ 4,5 bilhões, 13% superior ao 2T23 com margem ligeiramente abaixo (-0,4 ponto percentual, ou p.p., na base trimestral) devido ao maior custo de frete (+7% t/t) com a maior exposição a contratos spot no período.

Já o desempenho de metais básicos foi inverso ao do minério, destaca a Eleven. Apresentou redução de 20% no Ebitda, que atingiu U$ 379 milhões devido à menor venda de níquel (-2,5% na base trimestral), piores preços (-8% frente o 2T23) e maiores custos com a menor produção. No entanto, cobre apresentou uma boa performance, com estabilidade de vendas e preço 12% superior no trimestre.

De pontos negativos, Alves, da VG Research, destacamos a fraca performance operacional e a geração de caixa liquida limitada para o seu acionista, que foi compensada pelos anúncios recentes sobre remuneração do investidor (Dividendos, JCP e recompra de ações) além de uma melhora no custo caixa da sua principal linha de negócio.

Visões para a ação

“Seguimos com uma visão positiva para as ações da Vale”, avalia a Eleven. Para os analistas, apesar das incertezas sobre a economia chinesa, o nível de produção siderúrgica local continua muito forte, com os setores de infraestrutura, bens de capital e construções sociais aquecidos. Além disso, ainda vê a companhia como um bom player de dividendos, seguindo assim com recomendação de compra com um preço alvo de R$ 112,00. A Genial também possui recomendação de compra para os ativos VALE3, com preço-alvo de R$ 82,50.

O BBI também segue com a recomendação de compra, com target de R$ 92,00 para VALE3. “O anúncio dos dividendos deve servir como uma proteção para o desempenho das ações no curto prazo, enquanto a empresa entra em um período de sazonalidade positiva para os volumes exportados de minério de ferro”, avalia.

Já a XP segue com recomendação neutra para as ações com preço-alvo de R$ 73 dadas as expectativas mais baixas para os preços do minério de ferro no futuro e a Vale já precificar esse cenário. O Goldman Sachs também está neutro com os ADRs (American Depositary Receipts, ou recibo de ações negociados nos EUA), com preço-alvo de US$ 12,20, ou queda de 6,4% frente o fechamento da véspera.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.