Vale é oportunidade ou “value trap”? Enquanto um banco reforça compra, outro rebaixa ação

Com forte queda das ações no ano, analistas se dividem sobre movimento continuará em meio a incertezas para mineradora

Ana Paula Ribeiro

Logo da Vale (Foto: Divulgação)

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Com queda de quase 15% com as movimentações dos ativos cercada por “ruídos”, apesar dos bons números operacionais, a questão sobre o que esperar para as ações da Vale (VALE3) segue no radar dos investidores, com o mercado avaliando o que deve preponderar no curto prazo para o movimento das ações.

Na véspera, o Citi reforçou a recomendação de compra para os ativos da Vale, com o preço-alvo do ADR (American Depositary Receipt), ou papel negociado na Bolsa americana, em US$ 18,50, um potencial de valorização de 38% em relação ao fechamento de segunda-feira (4).

Esse preço alvo considera o preço do minério de ferro em US$ 120 a tonelada e o desempenho reportado pela mineradora referente ao quarto trimestre de 2023. “Nós vemos alguns investimentos positivos. O guidance (projeção) parece realista e o preço do níquel parece perto de um piso”, segundo nota divulgada pela área de análise do banco. Para 2024, a produção de minério de ferro estimada pela Vale é de 310 milhões de toneladas métricas a 320 milhões de toneladas métricas.

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Segundo o banco, a grande dúvida é em relação ao momento da empresa em meio às notícias sobre o CEO, concessões ferroviárias e as negociações sobre a Samarco, apontando que os comentários recentes do presidente Lula sobre a Vale “não parecem encorajadores.”

Na semana passada, o presidente Lula afirmou que a Vale, e todas as empresas brasileiras, deveriam seguir um pensamento alinhado com o governo para o desenvolvimento do país.

As estimativas do Citi consideram que as vendas totalizem US$ 42,65 bilhões em 2024, acima do valor ajustado de US$ 41,78 bilhões do ano passado. Já a expectativa de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado é de US$ 19,246 bilhões, 1% superior ao ano passado. Nesse caso, a margem Ebitda passaria por uma redução, indo de 45,6% para 45,1%.

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Nesta terça-feira, por sua vez, os analistas do BTG Pactual cortaram a recomendação das ações da Vale para “neutra” e reduziram o preço-alvo do ADR de US$ 19 para US$ 16 dólares, em um “mea culpa” no qual afirmam que estiveram errados sobre a visão positiva da casa para a mineradora por mais de um ano.

Em relatório a clientes, o banco destacou que uma postura construtiva em relação à companhia valeu a pena durante vários anos, desde 2017, “mas tem sido muito dolorosa há mais de um ano”.

“Há algumas semanas, admitimos que o cenário para a tese de investimentos na Vale havia se deteriorado acentuadamente ultimamente. Agora, com o ruído recorrente e o contínuo descolamento das ações dos fundamentos, não temos certeza do que faria esta tese funcionar.”

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“Com tantas pendências iminentes e a nossa capacidade limitada de prever os resultados, a nossa confiança na tese de investimento diminuiu materialmente.”

Os analistas do banco elencam que a Vale tem enfrentado um ruído intenso nas últimas semanas, que se intensificou recentemente em meio às discussões do conselho de administração sobre quem será o próximo CEO. Também apontam que o fluxo de notícias em torno da Samarco/Renova piorou, com a empresa reconhecendo provisões adicionais, que ainda podem ser materialmente mais elevadas, uma vez que uma resolução final ainda pode levar meses.

A empresa, de acordo com a equipe do BTG, ainda passou por uma série de interrupções operacionais no Estado do Pará, indicando animosidade das autoridades locais em relação à companhia. “Para ser justo, a Vale tem estado sujeita a um alto grau de ruído e pressão política ultimamente, o que acreditamos ser injusto e claramente excessivo”, avaliam, ressaltando ainda que existe uma clara divisão entre os membros do conselho sobre a direção futura da empresa, o que veem como “preocupante para uma empresa com tantos desafios pela frente”.

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Os riscos, de acordo com a equipe do BTG, aumentaram recentemente, pressionando a geração de fluxo de caixa livre e o potencial de dividendos da empresa — e ainda não foram totalmente precificados pelo mercado. E embora considerem as ações subvalorizadas, avaliam que agora parecem mais uma “value trap” (armadilha de valor) do que uma oportunidade atraente. “Preferimos adotar uma postura cautelosa e aguardar a resolução de pendências e incertezas políticas antes de restabelecer nosso viés historicamente positivo”, afirmaram.

Às 12h05 (horário de Brasília) desta terça, os ativos VALE3 caíam 0,71%, a R$ 66,25, com queda acumulada de 14,20% em 2024.

(com Reuters)

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney