Trump será o novo presidente dos Estados Unidos. O mundo financeiro mergulhou no pânico

Contra todas as indicações das pesquisas e dos analistas, o candidato republicano derrotou Hilary Clinton com 276 votos no colégio eleitoral. Bolsas caem no mundo inteiro. Parece até que “o mundo nas juntas se desgovernou”.

José Marcio Mendonça

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O “diabo” (ou “cramulhão”, ou o “coisa feia” com chamava Guimarães Rosa entre dezenas de outras definições) mais temido no momento por grande parte do mundo financeiro e econômico em escala planetária se materializou nesta terça-feira e madrugada de quarta-feira: Donald Trump, do Partido Republicano, será o novo presidente dos Estados Unidos a partir de janeiro, após derrotar a democrata Hilary Clinton conquistando 276 votos no colégio eleitoral, seis acima do mínimo necessário. Os republicanos fizeram maioria também na Câmara e no Senado.

A vitória apertada pressupõe muitas dificuldades internas, com um país dividido e radicalizado e um universo de incertezas externas, na economia e na diplomacia.

O pavor, já quando as apurações, lá pelo meio, indicavam um desempenho de Trump melhor que o indicado nas pesquisas e análises dos especialistas, baixou no sensível mercado financeiro, a mostrar o desconhecido que se instala na maior nação do planeta. Já com a madrugada avançada, em um momento mais tenso, o índice Nasdaq futuro caía 5,08%, o Dow Jones 4,30% e a bolsa de Tóquio 5,36%.

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Espera-se para hoje um dia de grande confusão nos mercados internacionais. Trump é uma incógnita e os caminhos pelos quais conduzirá os Estados Unidos totalmente desconhecidos, imprevisíveis. Serão dias de muita volatilidade e especulações e semanas de angústia e espera, até que Tump revele suas armas. Agora, só perplexidade, até porque esta vitória não estava no horizonte. Com altos e baixos, Hilary sempre despontou como favorita, ainda que com pouca margem.

Uma observação: falharam, com exceções raras, os institutos de pesquisa, a mídia e os analistas norte-americanos.

Naturalmente, haverá algum reflexo no Brasil com a ascensão de Trump, também incapaz de prever. Não se espera que seja positiva, tanto que o governo brasileiro torcia pela Clinton.

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A impressão é que “o mundo nas juntas se desgovernou” (Guimarães Rosa em “Grande Sertão Veredas).

NO BRASIL, ANISTIA

PARA O CAIXA 2

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Por aqui, a vida seguiu seu “novo” normal. Na Câmara e no Senado, dois assuntos apenas dominantes, sem influência direta nas nossas dificuldades: a anistia para o caixa 2, que a cada dia ganha mais adeptos; e a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado nos próximos dois anos, que já caminha célere e pode trazer dores de cabeça para o presidente Temer pois envolverá guerra entre aliados.

Na linha do governo, duas boas contribuições para melhorar o clima para Brasília: a Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou a redução dos juros nos financiamentos da casa própria e a Petrobras decidiu reduzir, novamente, em menos de um mês os preços da gasolina e do óleo diesel.

Na mesma ordem, Temer lança nesta quarta o Cartão Reforma, programa para famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil para que elas possam reformar suas residências. O crédito pode chegar a R$ 5 mil.

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Porém, nem tudo é festa: acirra-se a crise no Rio de Janeiro com a reação de funcionalismo, inclusive com passeatas e a invasão da Assembleia Legislativa, contra o pacote de arrocho fiscal do governador Pezão. Teme-se que venha a surgir a necessidade de intervenção federal no estado, ainda que de forma indireta.

Outro temor é que esse clima se espalhe por outras unidades da federação, uma vez que estão todas, umas mais outras menos, quebradas e em determinado momento precisarão adotar também algum tipo de ajuste duro de suas contas.

A não ser que o governo federal encontre formas de ajudar os governadores, concretamente, com dinheiro. Muitos – calcula-se que cerca de 10, no mínimo – precisam desse socorro antes do Natal, por causa do 13º salário.

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Por tudo isso, o “otimismo” do próprio governo baixou um pouco: segundo o “Valor Econômico”, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a economia brasileira vai crescer só 1% no ano que vem. A previsão anterior estava em 1,6%. E Temer “avalizou”: disse que a mudança de cenário leva tempo.

Outros destaques

dos jornais do dia

– “País só cresce 1% em 2017, mas deve voltar ao prumo, diz Meirelles” (Valor)

– “Petrobras reduz novamente preços dos combustíveis – diesel 10,4% e gasolina 3,1%” (Folha/Valor/Estado)

– “Repatriação deve voltar em fevereiro com taxação maior” (Valor)

– “Anatel faz intervenção branca na Oi” (Valor)

– “Caixa anuncia corte de juros para compra da casa própria” (Globo)

– “Temer admite dificuldades de alguns setores com o teto de gastos” (Blog do Fernando Rodrigues – UOL)

– “Grupo invade Assembleia do Rio em protesto contra arrocho e juiz suspende pacote” (Folha)

– “Em processo no TSE, defesa de Dilma tenta envolver Temer” (Folha)

– “FHC defende salvar empresas e punir culpados da Lava-Jato” (Folha)

– “Odebrecht negocia acordo em três países” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Escusa privilegiada” (diz que aumento de ações penais no STF suscita discussão sobre foro especial – arranjo institucional, porém, não é desculpa para morosidade) – Folha

2. Elio Gaspari “Um desmanche na privataria” (diz que uma possível intervenção na Oi expõe a crise da farra tucano-petista com o dinheiro da Viúva) – Globo/Folha

3. Vinícius Torres Freire – “Pessimismo volta com panetones” (diz que frustração com a retomada, surpresas negativas e política difícil reduzem projeção do PIB para 2017) – Folha

4. Fernando Exman – “A próxima batalha do governo Temer” (diz que a relativa tranquilidade na tramitação da PEC do Teto não se repetirá com a reforma da Previdência) – Valor

5. Martin Wolf – “O novo presidente e a economia” (diz que suspender a imigração e as importações seria um ato de automutilação – os EUA precisam ampliar seu processo histórico de uma economia aberta e dinâmica) – Valor

6. Editorial – “Carros e Brasil: encalhe geral” (diz que o setor automobilístico se recupera em marcha lenta – é parte da herança do governo Dilma) – Estado