“Trabalhar com rentabilidade e crescer de forma orgânica: dinâmica de formiguinha”, diz CFO da Camil

Flávio Vargas participou do evento Melhores da Bolsa 2020, que deu o 2º lugar entre as revelações da bolsa para a empresa do setor de alimentos

Anderson Figo

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SÃO PAULO — “Trabalhar com rentabilidade e crescer de forma orgânica: dinâmica de formiguinha.” Este é o mantra de Flávio Vargas, CFO da Camil (CAML3), que participou ontem do evento Melhores da Bolsa 2020, organizado pelo InfoMoney e Stock Pickers, que deu o segundo lugar entre as revelações da bolsa para a empresa do setor de alimentos.

“Os três últimos anos foram os anos que tivemos desde que abrimos capital. Sofremos muito nos dois primeiros, mas esse último ano, por conta da pandemia, acabou trazendo refletores para o setor de alimentos”, disse o executivo.

“O setor de alimentos não é muito sofisticado, não tem alta tecnologia, não tem alta volatilidade, mas quando veio a crise, quando veio a pandemia, a gente teve uma demanda muito grande do mercado, dos nossos clientes e dos nossos consumidores”, completou.

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Segundo Vargas, o maior interesse pelos produtos da Camil não partiu apenas dos consumidores, os investidores na bolsa também aumentaram a procura pelas ações da companhia. “Neste momento de crise, o mercado começou a prestigiar as histórias mais conservadoras e a Camil se insere nesse contexto por ser uma empresa líder em seu segmento.”

Ele ressaltou que a empresa é bastante conhecida pela marca Camil, origem da companhia, que comercializa arroz e feijão. Mas a Camil também tem a liderança no mercado brasileiro de açúcar refinado, com a marca União. Além disso, a companhia tem uma posição relevante em pescado e enlatados, com as marcas Coqueiro e Pescador.

A operação da Camil no exterior também foi importante para o bom desempenho da empresa nos últimos anos. Quase um terço da receita da companhia vem das operações internacionais — ela é líder no mercado de arroz no Uruguai, no Peru e no Chile.

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“O contexto de crise teve uma demanda muito forte no mercado doméstico. Num primeiro momento, os clientes tiveram uma preocupação muito grande com desabastecimento. Queriam estar abastecidos principalmente com arroz e feijão, o que beneficiou a companhia”, afirmou.

Sobre concorrência, o executivo disse que a Camil tem muitas fortalezas, mas que o setor é bastante fragmentado e com players pequenos, que não jogam em condições de igualdade com os competidores maiores.

“Nosso competidor é um cara pequeno, muitas vezes ele não tem a mesma sofisticação financeira que a gente tem, não tem o mesmo objetivo do ponto de vista de retorno. No Brasil ainda existe muita sonegação. Então, às vezes a competição não é tão fácil quanto parece, quando a gente vê as fortalezas da Camil”, afirmou.

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Ele frisou que o trabalho de formiguinha é fundamental para a companhia, que pretende continuar crescendo principalmente de forma orgânica. “Quando a gente olha para frente, a gente vê que existem algumas alternativas potenciais para crescer de maneira inorgânica, mas na nossa visão são poucas alternativas”, disse.

“No nosso segmento a gente não entende como alternativa real comprar um competidor pequeno. O cara pequeno não tem uma marca, não tem posicionamento de preço. Muitas vezes tem uma estrutura de processo que quando você ajusta, você perde. Você acaba comprando e pagando por um volume que não existe”, completou.

“Então, o nosso desafio é fazer esse crescimento de forma orgânica, fazendo trabalho de formiguinha. Entrando em uma área e reforçando o valor da marca que a gente tem e conquistando nosso espaço. Este é o sonho e o sonho é grande.”

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Ele citou, por exemplo, que em São Paulo a Camil tem um market share de 40%, o que é alto e, portanto, mais difícil de crescer. “Mas se você vai mais para o interior, na região de Campinas, nosso share é três vezes menor, de 14% ou 15%. Se você não vende naquele lugar, o pessoal não conhece sua marca. Tem que viabilizar a distribuição, montar uma equipe de venda e entrar com o produto”, disse.

“Quando a gente entra com o produto a gente prefere crescer mais devagar do que queimar a marca e queimar o posicionamento de preço. A gente respeita muito o valor da marca. O valor que a marca Camil tem, a qualidade do produto. A gente procura explorar outra fortaleza que a gente tem que é ser o único no setor de grãos que é multisegmento. Quando eu chego numa região, eu não chego só com arroz e feijão. Chego com açúcar, com pescado. Isso facilita. O caminhão fica com menos ociosidade”, completou.

Verticalização da produção

Vargas descartou que a empresa possa verticalizar sua operação, pelo menos por ora. Ele explicou que a companhia trabalha só numa etapa da cadeia. “A gente não é verticalmente integrado. A gente não tem terra. A gente não plantação de arroz, não temos barco. A gente não tem uma indústria sucroalcooleira”, disse.

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“Basicamente a gente compra o produto e a gente faz o processo de industrialização, que é relativamente simples. E aí a gente faz toda a parte de comercialização. Toda a parte de marca, de distribuição. A gente brinca que estamos no meio. Se o preço da matéria-prima aumenta, como a nossa margem é muito apertada, a gente precisa chegar para o supermercado e repassar esse aumento de preço. Isso que permite a gente ter essa resiliência de margem”, completou.

O CFO da Camil disse que por conta dessa dinâmica, um preço maior da matéria-prima acaba sendo mais benéfico para a empresa porque ela aumenta toda a sua base de receita. “Permite que a gente tenha uma receita bruta maior e uma diminuição de custos fixos”, disse.

Internacionalização e ESG

Sobre internacionalização, Vargas afirmou que, por enquanto, a Camil não tem planos de ir para a Europa e Ásia. Contudo, há outros países na América do Sul atrativos, como a Colômbia. “A própria Argentina, a gente já esteve lá. É um mercado turbulento, mas relevante em termos de América do Sul. Continuamos olhando oportunidades na região”, disse.

Ele ressaltou ainda que está surpreso e satisfeito com o ganho de importância de questões ESG no mercado brasileiro e que a Camil tem ampliado suas ações neste sentido. “Na parte ambiental, a gente tem uma preocupação muito grande com a matéria-prima que a gente compra. A gente tem planta que produz energia queimando a casca do arroz. Temos uma preocupação com o tratamento de água”, afirmou.

O executivo disse ainda que a Camil está montando um comitê de ESG e ética que responderá diretamente para o conselho de administração. “Nossa cabeça é trabalhar de maneira multifocada: discutir quais são os valores da companhia e escolher o que é importante para os nossos acionistas e nossos clientes e focar em projetos, não muitos projetos, mas projetos que possam causar impacto para os nossos steakholders”, disse.

Ele terminou sua participação no evento dizendo que para o ano que vem a Camil quer fazer “o que tem feito todos esses anos: trabalhar com rentabilidade e conseguir fazer o crescimento nessa dinâmica de formiguinha”. Mas sempre de olhos bem abertos: “temos que ter cautela. O pessoal fala do aspecto positivo, que alguns setores bombaram na pandemia, mas a crise vai deixar impactos em muitos setores por um longo tempo. Quando o consumidor fica sem dinheiro, ele acaba ficando mais seletivo. Estamos otimistas, mas a gente sempre se prepara para o pior.”

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.