Tirar as instituições russas do Swift é isolar o país do sistema financeiro global? Entenda

Ucrânia tem pedido reiteradamente para que a Rússia seja excluída do sistema de comunicação interbancário, mas não é tão simples assim.

Lucas Sampaio

Foto: Chris McGrath/Getty Images

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SÃO PAULO – O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o ministro das Relações Exteriores do país, Dmytro Kuleba, vêm pedindo reiteradamente que a Rússia seja excluída do Swift, sistema de mensagens financeiras que conecta mais de 11 mil instituições em mais de 200 países.

Nações ocidentais já anunciaram uma série sanções à Rússia, incluindo restrições aos maiores bancos do país, mas não excluíram as instituições do Swift (sigla em inglês para Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais).

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não descartou a possibilidade. Já o ministro das Finanças da França, Le Maire, afirmou que a União Europeia vai analisar em breve se usará essa “arma nuclear financeira”.

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“Quando você tem uma arma nuclear nas mãos, pensa antes de usá-la”, afirmou Le Maire. “Alguns Estados-membro têm reservas. A França não é um deles”.

O sistema é uma forma rápida e segura para que instituições financeiras de todo o mundo consigam “conversar” entre si e realizem pagamentos. A Rússia é o segundo maior país do Swift em número de usuários — atrás apenas dos Estados Unidos.

Ele não é o único sistema do tipo – a própria Rússia e a China possuem sistemas próprios –, mas é o mais importante e o mais utilizado do mundo.

Portanto, excluir a Rússia afetaria não só o país como o comércio global, já que os russos são um dos maiores produtores de petróleo e grande exportador de grãos, como o trigo.

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‘Não é assim tão fácil’

Mas, segundo especialistas, banir o país do Swift não impediria completamente o país de fazer negócio com o mundo.

“A maior complicação está em conseguir tirar [a Rússia] do Swift”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. “Não é assim tão fácil. Por isso, os países ameaçam, mas não o fazem.”

Primeiro, porque o Swift não pertence a nenhum governo. Ele é uma instituição privada, uma cooperativa de instituições financeiras fundada na década de 1970, na Bélgica, para substituir o telex como meio de comunicação entre elas.

Segundo, porque é adotada em mais de 200 países. “E os países que ainda têm negócio com a Rússia e não adotaram sanções? E quem já vendeu a mercadoria e tem dinheiro a receber? Não é simplesmente fechar as portas [para a Rússia] e acabou”, diz Vieira.

Além disso, uma retirada do país do sistema poderia afetar a economia russa no curto e médio prazos, mas haveria outras formas de continuar a fazer negócio.

Alternativas ao Swift

O Banco Central da Rússia passou a desenvolver o SPFS (System for Transfer of Financial Messages) em 2014, após os EUA ameaçarem retirar o país do Swift, e o governo chinês tem o CIPS (Cross-Border Inter-Bank Payments System).

E há alternativas como criptoativos, que estão fora do sistema financeiro mundial. Para especialistas, o bitcoin é incontrolável e pode ser o refúgio da Rússia para contornar as sanções.

Para o cientista político Ian Bremmer, presidente da empresa de consultoria e pesquisa de risco político Eurasia Group, a possível união de russos e chineses para desenvolver um novo sistema de mensagens financeiras é um dos motivos pelos quais a Rússia não deve ser retirada tão cedo do Swift.

“Cortar a Rússia do Swift seria uma das sanções mais duras possíveis, mas também rapidamente uniria Rússia e China para criar um sistema de pagamentos alternativo. Não vai acontecer (pelo menos por enquanto)”, escreveu Bremmer em sua conta no Twitter.

“É fácil falar, mas muito difícil de fazer. O custo e as consequências são grandes demais”, afirma o economista-chefe da Infinity Asset. “A Rússia tem contratos de petróleo fechados com vários países. Como a Alemanha vai pagar o gás que eles tanto precisam?”.

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