Terras raras fizeram EUA recalcular a rota com Brasil? O que pode mudar no mercado

Para os investidores, o impacto pode ser significativo, afetando setores como aço, agricultura, telecomunicações, varejo e aeroespacial

Lara Rizério

Uma imagem de satélite mostra uma visão geral das novas minas de terras raras no estado de Shan, em Mianmar, em 7 de fevereiro de 2025. Maxar Technologies/Divulgação via REUTERS
Uma imagem de satélite mostra uma visão geral das novas minas de terras raras no estado de Shan, em Mianmar, em 7 de fevereiro de 2025. Maxar Technologies/Divulgação via REUTERS

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As terras raras brasileiras podem ter desempenhado um papel desproporcional — e estratégico — na surpreendente mudança na relação entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, segundo análise do Morgan Stanley. O que antes parecia uma escalada de tensões comerciais, com tarifas elevadas e sanções, agora dá sinais de desescalada, com o acesso às reservas minerais críticas do Brasil surgindo como possível moeda de troca.

Conforme aponta o banco, o Brasil detém cerca de 25% das reservas mundiais de terras raras, mas a produção ainda está distante de se tornar realidade. Carlos De Alba, analista de metais e mineração para as Américas, destaca que a exploração em escala comercial ainda levará anos. Mesmo assim, o potencial estratégico desses recursos já começa a redesenhar o tabuleiro geopolítico latino-americano.

A mudança de postura dos EUA em relação ao Brasil se soma a outros movimentos recentes na região, como o apoio do Tesouro americano à Argentina, os debates sobre o canal do Panamá, os direitos de mineração de lítio no México e as políticas sobre Venezuela e Colômbia. Para o Morgan Stanley, esses são sinais de que a América Latina pode estar no início de uma mudança mais ampla de política — ainda incipiente, mas relevante.

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Apesar disso, o relatório alerta: não há uma virada rápida no rumo das relações comerciais entre América Latina e China. O Brasil continua aprofundando seus laços com o gigante asiático, o que os torna cada vez mais semelhantes a uma “Texas sul-americana” — rica em recursos, mas com forte dependência externa.

Para os investidores, o impacto pode ser significativo. Tarifas e tensões geopolíticas afetam setores como aço, agricultura, telecomunicações, varejo e aeroespacial. O Morgan Stanley avalia aumentar sua exposição a ações brasileiras desses setores, caso se confirme uma recalibragem comercial com os EUA e uma flexibilização nas tarifas sobre produtos chineses.

Do lado americano, o adiamento das novas restrições à exportação de terras raras pela China reacendeu o debate sobre segurança de suprimentos. Com o monopólio chinês sobre o refino desses minerais, os EUA buscam alternativas — e o Brasil pode ser uma peça-chave nesse novo arranjo.

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Assim, o banco aponta a pergunta que fica: estaríamos diante de um novo “playbook” (uma espécie de guia) geopolítico para a América Latina? Ainda é cedo para afirmar, mas as terras raras, antes relegadas ao subsolo, podem agora estar no centro de uma nova era de negociações internacionais.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.