Taurus bate recordes mais uma vez e quer chegar a 20% do mercado dos EUA

Com ramp-up da fábrica da Georgia, aumento de preços e investimento em novos produtos, expectativa é de um segundo semestre no "melhor dos mundos"

Ricardo Bomfim

O CEO da Taurus Armas, Salesio Nuhs (crédito: Divulgação)

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SÃO PAULO – A Taurus Armas (TASA4) teve mais um sólido resultado no segundo trimestre de 2021, lucrando R$ 193,6 milhões, valor 395,1% superior ao reportado no mesmo período do ano passado, e agora mira audaciosamente a meta de dominar um quinto do gigantesco mercado dos Estados Unidos.

No mesmo período, o Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e Amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da fabricante de armas ficou em R$ 224,4 milhões, o que representa uma expansão de 106,3% ante o segundo trimestre de 2020. Já a receita líquida totalizou R$ 651,1 milhões, em um avanço de 48,8% na base anual.

Outro indicador importante, a margem Ebitda (Ebitda dividido pela receita líquida) cresceu 9,6 pontos percentuais contra o segundo trimestre de 2020, chegando a 34,5% graças à modernização do parque fabril e à maior participação de produtos de maior valor agregado, conforme escreve em relatório a analista Flávia Ozawa, da Eleven Financial Research.

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Depois de anos de “revolução” interna como o presidente da empresa, Salesio Nuhs, costuma se referir ao processo de turnaround que encabeçou desde que assumiu a companhia, a Taurus atingiu um volume recorde de 588 mil armamentos produzidos no segundo trimestre.

O número reflete o ramp-up (aceleração) das operações da fábrica no estado da Georgia (EUA) e representa um crescimento de 50% na comparação com o segundo trimestre de 2020 e de 20% ante os três primeiros meses deste ano. Além disso, a empresa vendeu 618 mil armas entre abril e junho (+42% na base anual e +24% na trimestral).

Desse total, foram 507 mil armas vendidas só nos EUA, e em entrevista ao InfoMoney, Nuhs diz que esse nível mantém a empresa atualmente como quarta marca mais vendida no país e a primeira entre empresas estrangeiras, com market share (participação de mercado) de 15%. O objetivo agora é atingir um patamar entre 18% e 20%.

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Para isso, o executivo conta que a companhia está investindo na linha de revólveres, onde faz sucesso entre os consumidores americanos. “Vamos lançar um revólver de percussão direta e um de ação simples [em inglês, Single Action Army, ou SAA, o mais famoso revólver dos filmes de faroeste]. Eu tenho os SAA em uma linha de calibre 22, e vamos lançar o 45. Lançamos também a GX-4 das microcompactas e estamos trabalhando com rifle de ferrolho”, adianta o CEO da Taurus.

Ao mesmo tempo em que a empresa investe, os outrora críticos indicadores de alavancagem seguem apresentando melhora. No final de junho, a dívida líquida sobre o Ebitda da companhia chegou a 0,7 vezes, ante 1,1 vez no final de março. Vale lembrar que o indicador já esteve em 15 vezes entre 2014 e 2015.

Diante desse cenário positivo, a principal preocupação durante o trimestre foi o aumento dos custos. Como todas as indústrias, a Taurus também foi afetada pelo aumento nos preços de matérias-primas, notadamente o aço, que subiu 52% em 2021 até maio.

Nuhs explica que para fazer frente a esse aumento a empresa teve que garantir pelo menos o repasse da inflação em seus produtos. “No Brasil, a Taurus conseguiu repassar o [Índice Geral de Preços – Mercado] IGP-M acumulado de dezembro de 2020 a julho de 2021 a partir de agosto, com aumento médio de 17% nos preços. Já nos EUA fizemos um aumento real [acima da inflação] em dólar de 10%.”

Apesar dos valores terem aumentado, o executivo garante que isso não afetou as vendas. “Não tivemos cancelamento das 2 milhões de back orders [pedidos em espera] que temos, isso garante melhores resultados para o segundo semestre.”

Traçando um horizonte a partir dos resultados do trimestre passado, Nuhs ressalta que o reajuste de 10% nas armas dos EUA ainda não se refletiu no balanço, de modo que o segundo semestre teria tudo para ser “o melhor dos mundos” para a companhia considerando que a trajetória de valorização dos insumos também deve ser freada nos próximos meses.

Já no Brasil, onde as vendas somaram 87 mil unidades no trimestre (+75,1% na comparação anual), o empresário espera que suas fábricas se tornem um centro de fornecimento de peças para as armas vendidas globalmente, pois, segundo ele, o Brasil é o lugar em que a operação é mais “econômica, viável e produtiva”.

“No segundo semestre vamos aumentar de 6,5 mil para 9 mil armas por dia a nossa produção no Brasil, trazendo nossos principais fornecedores e ganhando em custo e capacidade.”

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Apesar de no release de resultados a Taurus afirmar que não depende do dólar alto ou de “condições políticas mais favoráveis à questão do armamento no Brasil” para manter seus resultados, Salesio Nuhs diz que se preocupa com a questão regulatória.

“O nosso resultado do trimestre tem 20% das nossas receitas vindas do país, eu antecipei vendas no Brasil em detrimento dos EUA”, lembrou, embora diga que uma política de armas mais proibitiva seja mais um problema de “cerceamento democrático” do que de resultado.

“Se tivermos um revés na questão política, o mais grave será o cerceamento do direito democrático a comprar arma de fogo. Em 2005 tivemos uma vitória em referendo a favor das armas que não foi democraticamente respeitada.”

Em relação aos negócios da empresa, foi categórico: “É inconveniente ter uma fábrica de armas em um país anti-armas, mas em resultado isso não nos preocupa. Toda a nossa produção seria mandada para os EUA se houvesse uma proibição total.”

O empresário faz questão de lembrar que é presidente da Associação Nacional de Indústias de Armas e Munições (Aniam), que é amicus curiae (uma espécie de instituição que presta consultoria específica sobre um assunto dentro de um processo judicial) do Supremo Tribunal Federal (STF) nos processos de quatro decretos editados pelo presidente Jair Bolsonaro que flexibilizaram as regras para compras de armas no Brasil.

Quando questionado sobre os acenos da família Bolsonaro a marcas estrangeiras, notadamente as repetidas postagens do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgando armas da Sig Sauer e da Glock, Nuhs aponta que houve uma “conscientização” da parte do parlamentar, filho do presidente da República.

“O Eduardo nunca mais falou mal da companhia, ele se conscientizou que somos uma multinacional brasileira com a melhor margem bruta e margem Ebitda. E eu tenho o portfolio completo. Tem concorrentes com arma de plataforma de 1988 sem armas táticas. Temos várias vantagens competitivas, além de termos o melhor produto em termos de margem”, garante o CEO da Taurus.

As ações da Taurus têm cobertura da Eleven Financial Research, que tem recomendação de compra para os papéis preferenciais TASA4, com preço-alvo estimado de R$ 32,00, o que corresponde a uma valorização de 22,32% sobre o patamar de fechamento da quarta-feira (11).

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.