Taiwan e China: entenda a origem da disputa que voltou ao radar do mercado

Com 23 milhões de habitantes e economia forte, Taiwan é considerada rebelde pela China, contando com governo próprio desde 1949

Carla Carvalho

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Neste sábado, 13 de janeiro, Taiwan irá às urnas para escolher o seu novo presidente. A eleição está sob os holofotes do mundo, e não é para menos: se o vitorioso for Lai Ching-te – que atualmente lidera as pesquisas – espera-se que a China eleve a pressão sobre a ilha.

Candidato pelo Partido Progressista Democrático (PPD), o mesmo da presidente Tsai Ing-Wen, Ching-te (conhecido no país como William Lai) promete seguir a linha do atual governo no sentido de considerar o país independente. Sua postura gerou críticas por parte da China, conforme relatado recentemente pela agência oficial de notícias Xinhua.

Já os outros dois candidatos da oposição, How Yu-ih e Ko Wen-je (segundo e terceiro colocados, respectivamente) adotam um discurso mais conciliador. Nesse sentido, How defende uma reaproximação com Pequim a fim de arrefecer as tensões, e Ko mostra-se como uma terceira via, a princípio mais preocupado com as questões internas do país do que com as relações com a China continental.

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Especialistas acreditam que são baixos os riscos de escalada da tensão entre os dois países, ao menos no curto prazo, conforme declarou o presidente da consultoria Eurasia Group, Ian Bremmer. Mas o fato é que, à medida que se aproxima a data do pleito, cresce a tensão internacional. Há dois dias da eleição, a China e o Kuomintang (KMT), maior partido de oposição taiwanês, declararam que a vitória de Lai pode representar um perigo para a paz na região. O Escritório de Assuntos de Taiwan na China chegou a afirmar que, se chegar ao poder, Lai impulsionará as atividades separatistas, o que poderia vir a desencadear um conflito entre a ilha e o território Chinês.

Por sua vez, o Ministério de Relações Exteriores de Taiwan acusa a China de tentar influenciar as eleições ao “intimidar a população taiwanesa e a comunidade internacional”.

Qual a ligação entre China e Taiwan?

Taiwan é uma ilha a cerca de 160 quilômetros da costa sudeste da China, cuja capital é Taipei. A ilha foi controlada pela China pela primeira vez no século XVII, sendo que em 1895 ela foi entregue ao Japão, depois da derrota chinesa na primeira guerra sino-japonesa. O controle chinês foi retomado em 1945 após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.

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Contudo, posteriomente, uma guerra civil eclodiu na China continental entre as forças do governo nacionalista lideradas por Chiang Kai-Shek e o Partido Comunista de Mao Tse-tung.

Kai-Shek se refugiou em Taiwan após ser derrotado pelo exército comunista. Desde 1949, os opositores formaram um governo paralelo por lá, causando disputa entre as partes envolvidas.

Além da maior ilha, Taiwan, que antigamente era conhecida como Formosa, há mais 167 ilhas muito menores, que abrigam uma população de 23 milhões de pessoas e uma economia pujante. “Taiwan foi um dos Tigres Asiáticos, que despontaram nos anos 1990 como economias de crescimento rápido, ao lado de Hong Kong, Cingapura e a Coreia do Sul”, destaca a Levante Ideias de Investimentos. 

Atualmente, a ilha domina a produção global de chips para computador, sendo uma economia extremamente importante para as cadeias globais de produção.

A China vê a ilha como uma província rebelde, que sofrerá consequências caso faça declaração de independência, enquanto Taiwan afirma que é independente há décadas, com eleições e Constituição próprias. Tsai Ing-wen é presidente de Taiwan desde 2016.

Desde 1949, os políticos em Taiwan afirmam ser a “verdadeira” China, se autodenominando  “República da China”, enquanto a China continental é a “República Popular da China”. A disputa sobre quem era o herdeiro “legítimo” do governo chinês se estendeu até os anos 1970, quando organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) passaram a reconhecer a China continental.

Por outro lado, Taiwan não tem um assento na ONU, e só possui relações diplomáticas plenas com países menos representativos, como Haiti, Honduras, e algumas ilhas do Pacífico. Isso não o impede de fazer negócios e ter relações comerciais com o mundo todo. Porém, o procedimento padrão de quase todos os países (Brasil inclusive) é deixar as atribuições a cargo de Escritórios Econômicos e Culturais, que funcionam como embaixadas.

Os Estados Unidos não têm relações diplomáticas oficiais com Taiwan, mas são obrigados pela legislação americana a fornecer à ilha os meios para se defender.

Disputas econômicas envolvendo os EUA 

Nos últimos anos, o fortalecimento das relações entre Taiwan e os EUA tem diminuído a dependência comercial da ilha em relação à China. Para exaltar ainda mais os ânimos, a TSCM – maior fabricante de semicondutores taiwanesa e símbolo da economia do país – foi arrastada para dentro da campanha eleitoral pela oposição. 

Em um debate ocorrido logo na virada do ano, os vices de How Yu-ih e Ko Wen-je questionaram o atual governo sobre fábricas que a empresa está construindo no Arizona, nos EUA. A vice de Ko, Cynthia Wu, cobrou da vice governista, Hsiao Bi-khim, a contrapartida americana por esse investimento, sem a qual, segundo ela, pode esvaziar a produção de semicondutores no país.

Já o vice de Hou, Jaw Shaw-kong, foi ainda mais enfático, lembrando que o megainvestidor Warren Buffett se desfez de todas as suas ações da TSCM alegando risco político. Segundo Jaw, o atual governo “provocou tensão no estreito”, e com os Estados Unidos reiterando a possibilidade de uma guerra, “o investimento realmente não vem”.

Por sua vez, Hsiao rebateu as críticas argumentando que o “investimento estrangeiro permanece batendo recorde no país”, e que as empresas “não estão tentando fugir da ilha”.

Com informações de Reuters e Estadão Conteúdo