Suzano salta 7% apesar de prejuízo bilionário, Valid dispara 10% e mais 3 balanços que animaram o mercado

Também em forte alta estão os papéis de Valid, Cia. Hering, Direcional e Copasa, repercutindo os bons números do 3º tri

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As ações das 5 empresas que divulgaram resultados na noite de quinta-feira (31) registraram uma sessão bastante positiva, com ganhos de até 10%. Dentro do Ibovespa, o grande destaque fica para os papéis da Suzano (SUZB3, R$ 35,01, +7,26%), chegando a avançar até 8,76%, apesar de, à primeira vista, o resultado ter sido negativo com um prejuízo de R$ 3,46 bilhões. A desestocagem da companhia de papel e celulose foi considerada o grande ponto positivo.

Fora do índice, quem ganhou destaque foi a ação da Valid (VLID3, R$ 14,64, +10,24%), fornecedora de soluções em segurança digital e física, com ganhos de mais de 10%. Os papéis da Cia. Hering (HGTX3, R$ 33,36, +6,01%) chegaram a subir 7,40% enquanto que, em menor grau, Direcional (DIRR3, R$ 12,45, +4,18%) e Copasa (CSMG3, R$ 69,00, +2,24%) também registraram ganhos na esteira de um balanço sólido.

Confira o que agradou tanto os investidores nos resultados divulgados na noite de ontem:

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Suzano (SUZB3, R$ 35,01, +7,26%)

A Suzano registrou um prejuízo líquido de R$ 3,46 bilhões no terceiro trimestre deste ano, revertendo o lucro de R$ 1,02 bilhão obtido um ano antes e com as maiores perdas da década. A receita líquida da companhia ficou em R$ 6,6 bilhões, queda de 33% sobre o registrado no mesmo período de 2018.

Já o Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, desconsiderando itens não recorrentes) caiu 56% na comparação anual, para R$ 2,4 bilhões. A princípio, estes números poderiam assustar os investidores, mas não foi assim. As ações passaram a registrar um forte movimento de alta na sessão desta sexta-feira.

Os investidores já esperam um resultado fraco para as ações da companhia, em meio ao cenário bastante pressionado para os preços do papel e celulose com uma demanda menor vinda da China, ao mesmo tempo em que havia temores de entrada em operação de diversas plantas, o que elevaria ainda mais a oferta. Vale ressaltar que, enquanto o Ibovespa salta 23% no ano, os ativos SUZB3 caem 6%.

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Até por essa preocupação com a armazenagem de produtos da companhia em meio à fraca demanda, o principal destaque positivo apontado pelos analistas de mercado foi a forte redução de 450 mil toneladas nos estoques, valor que se compara as 300 mil toneladas esperadas pelo mercado, o que ajudou a impulsionar a geração de caixa.

O Credit Suisse avalia que o excesso de estoque está, atualmente, em torno de 1,4 milhão de toneladas e que, apesar de ainda estar em um nível bastante alto, “a desestocagem entregue neste trimestre é um passo no caminho certo e deve ser vista de forma positiva pelo mercado”, escreveu o Credit Suisse.

A XP Investimentos destacou ainda que, no segmento de celulose, o custo caixa sem parada ficou em US$ 654 a tonelada, uma queda de 6% no trimestre: mesmo rodando com níveis inferiores de produção, a Suzano foi capaz de reduzir seu custo fixo por meio de um mix mais eficiente entre as fábricas de celulose (com Três Lagoas tendo maior participação na produção total).

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Já com relação à operação de papel, o custo operacional por tonelada 16% abaixo do esperado.”A empresa lançou mão de sua flexibilidade de operar em vários mercados e, consequentemente, se beneficiou de um aumento de 12,5% na base trimestral nas vendas para o mercado interno, principalmente devido ao impacto positivo da sazonalidade no mercado brasileiro, ao passo que o mercado internacional sofreu com a deterioração dos preços”

Junto com o balanço, a companhia informou que decidiu descontinuar a projeção de volume de produção de celulose de mercado referente a 2019, sem que fossem estabelecidas novas estimativas. “A decisão de descontinuar a projeção decorre das condições do mercado de celulose, estando em linha com a estratégia comercial da Suzano e visando os melhores interesses da companhia e de seus acionistas”, disse a empresa em nota.

Com todos esses fatores no radar, o otimismo com a Suzano aumentou após o resultado. Porém, alguns analistas ainda se mostram cautelosos com a companhia. O Bradesco BBI, por exemplo, viu com bons olhos a desestocagem da companhia, mas apontou ser cedo para precificar qualquer mudança de fundamentos.

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Na mesma linha, o Credit Suisse manteve recomendação neutra para os ativos, uma vez que os estoques ainda estão elevados na indústria como um todo e as condições de demanda são desafiadoras.

Por outro lado, a XP, apesar da falta de visibilidade em relação aos preços de celulose adiante e, consequentemente, sobre a alavancagem da empresa, destaca ver com bons olhos o esforço da Suzano em normalizar os níveis de estoque, além de reiterar a visão positiva sobre a dinâmica da oferta/demanda no longo prazo. Assim, mantém recomendação de compra para os ativos da companhia.

Valid (VLID3, R$ 14,64, +10,24%)

A Valid apresentou no terceiro trimestre lucro líquido de R$ 31,7 milhões, registrando crescimento de 33,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ebitda somou R$ 97,6 milhões, numa expansão de 20,3%, explicado, principalmente, pelos resultados na divisão de meios de pagamentos no Brasil e EUA, assim como pela divisão mobile. A receita subiu 18,8%, a R$ 569 milhões.

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A receita bateu as projeções do Itaú BBA em 9% com um forte desempenho em pagamentos, o que também sustentou a expansão do Ebitda. Assim, os números foram considerados positivos pela equipe de análise do banco.

De acordo com o Brasil Plural, os resultados apresentaram uma boa recuperação após um segundo trimestre decepcionante.

“À medida que as receitas se recuperam, a margem Ebitda também se recuperou dramaticamente de 12,5% no segundo trimestre para 17,2% neste trimestre, trazendo esperança de que a história esperada de um caminho gradual para a recuperação da margem esteja finalmente se revelando após sua ampla reestruturação em 2016-2018”, avaliam os analistas do banco.

Contudo, eles fazem uma ressalva: por melhor que este trimestre pareça ter sido, os números do trimestre anterior lembram que, mesmo uma pequena queda nos volumes pode levar custos fixos a comprimir margens massivamente. No segundo trimestre, uma queda anual de 4,6% na receita líquida na unidade de ID levou a 34% de compressão do Ebitda.

“Além disso, com uma iminente mudança regulatória que poderia colocar seu produto principal em risco de profunda compressão de margem, simplesmente não podemos estar otimistas com uma história consistente de recuperação de margem”, apontam os analistas, citando possíveis mudanças na CNH como a extensão da validade da carteira de habilitação de 5 para 10 anos. A companhia emite o documento em 14 estados.

Cia. Hering (HGTX3, R$ 33,36, +6,01%

A Cia. Hering também tem forte desempenho na Bolsa. A varejista registrou lucro líquido de R$ 64,1 milhões no terceiro trimestre deste ano, valor 22,3% maior do que o registrado um ano antes (R$ 52,4 milhões). A receita líquida da companhia teve um crescimento bem menor, de 0,8% na comparação anual, totalizando R$ 388,47 milhões.

Já o Ebitda da empresa ficou em R$ 78,77 milhões no terceiro trimestre, um avanço de 16,9% em relação ao mesmo período de 2018 (R$ 67,37 milhões). “Seguimos focados na revitalização de nosso canal multimarcas. A despeito do curto prazo ainda desafiador, estamos confiantes em nossa estratégia para recuperação das vendas através de novo modelo de gestão e proposta de valor”, afirmou a companhia em nota.

O Itaú BBA destacou em relatório que a Hering relatou fortes números de vendas mesmas lojas – alta de 6,6% ante estimativa de 4,2% – e lucro bruto acima do esperado, que foi acompanhado por uma expansão de 300 pontos-base.

Segundo o analista Thiago Macruz, apesar das maiores despesas com marketing e participação nos lucros, há “uma visão positiva” de que a margem temporariamente mais pressionada por investimentos possa levar a um crescimento sustentável da receita líquida.

O Bradesco BBI também aponta que, no geral, o resultado é robusto, com vendas nas mesmas lojas um pouco melhores do que o esperado e uma evolução da margem bruta de boa qualidade (maior eficiência na produção e menos vendas com preços reduzidos).

Leia mais: Suzano tem prejuízo de R$ 3,46 bilhões no 3º trimestre; Hering lucra R$ 64 milhões 

“A Hering continua avançando em iniciativas estratégicas, como reposição automática (que agora corresponde a mais de 30% das vendas) e franqueados continuando a seguir as recomendações de compra feitas pela empresa”, apontam. Assim, os analistas veem este como um bom presságio para uma gestão mais eficiente dos negócios no futuro, o que deve levar a um melhor crescimento de vendas e lucratividade. Porém, seguem com recomendação neutra para os ativos, avaliando que estas indicações já estão precificadas pelo mercado.

Copasa (CSMG3, R$ 69,00, +2,24%)

A empresa de saneamento Copasa reportou lucro líquido de R$ 193,3 milhões no terceiro trimestre deste ano. O valor é 53% maior do que o registrado um ano antes (R$ 126,3 milhões).

O Ebitda da companhia ficou em R$ 458,3 milhões, um crescimento de 32,1% na comparação anual. Já a receita líquida de água e esgoto registrou aumento de 16,2%, totalizando R$ 1,2 bilhão.

A Copasa também conseguiu reduzir o seu endividamento de um ano para o outro. A cifra passou de R$ 3,1 bilhões no final de setembro de 2018 para R$ 2,9 bilhões no final de setembro deste ano.

Para o Brasil Plural, a Copasa registrou um balanço positivo. “O destaque mais significativo foi o lucro líquido ter superado nossa estimativa em 10%, considerando uma margem Ebitda ligeiramente acima do esperado e uma menor alíquota de imposto de renda”, destacou o analista Vitor Sousa.

Já a XP atribui o melhor resultado na base anual ao aumento de dias de cobrança no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano anterior (92,20 dias versus 89,15 dias). Tal diferença reflete o ciclo de cobranças de cada município e o número de dias úteis em um trimestre. No entanto, tal ganho no terceiro trimestre deveria ser compensado no próximo.

De qualquer forma, há uma avaliação positiva dos menores gastos de provisão com inadimplência em comparação às estimativas da equipe de análise.

A XP tem cautela com os ativos, seguindo recomendação neutra.”Apesar do otimismo do mercado com a possível privatização da empresa e sua par Sabesp com a eventual aprovação do novo marco regulatório do saneamento no Congresso, preferimos ter cautela. Precisaríamos ver uma evolução na articulação política do poder executivo em Minas Gerais para viabilizar a privatização de empresas estatais, que requer a aprovação de mudança da constituição estadual na Assembleia Legislativa”, avaliam.

Na mesma linha, o Brasil Plural aponta que o fluxo de notícias recentes não tem sido favorável à tese de privatização da empresa, pois o front político em Minas Gerais continua desafiador. Dessa forma, a recomendação Equal-Weight se mantém, com preço-alvo de R$ 80 para a ação – representando um upside de 19%.

Direcional (DIRR3, R$ 12,45, +4,18%)

A construtora Direcional obteve lucro líquido de R$ 25,95 milhões no terceiro trimestre deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 83,8 milhões registrado no mesmo período de 2018.

A receita líquida da companhia atingiu os R$ 367,24 milhões no final de setembro. O valor é 18,5% maior do que o apurado um ano antes (R$ 309,92 milhões).

O Ebitda ajustado, que exclui os juros capitalizados de financiamentos à produção, fechou o trimestre em R$ 60,5 milhões. É um avanço de 66,1% sobre o mesmo período do ano passado (R$ 36,45 milhões).

Para o Bradesco BBI, a Direcional apresentou outro conjunto de resultados sólidos, em linha com as suas expectativas.

O Credit Suisse reforça a visão ainda ao citar que as margens de 39% no MCMV indicam espaço para melhorar a precificação, de forma a impulsionar a velocidade de vendas e aumentar os retornos.

“Reconhecemos que o cenário regulatório para as construtoras de baixa renda devem trazer uma redução no financiamento no ano que vem, mas achamos que a Direcional está bem posicionada para ganhar participação no programa”, aponta o Credit. Além disso, uma diversificação em direção ao segmento mais baixo da média renda deve ajudar a acelerar os lucros mais à frente. A empresa segue como top pick do segmento de baixa renda do banco, com boas perspectivas de aumento do retorno sobre patrimônio com diluição dos custos fixos.

O Bradesco BBI também vê uma perspectiva cada vez mais desafiadora para o programa MCMV, cujo total de unidades contratadas deverá diminuir já neste ano. “No entanto, continuamos a acreditar que players mais eficientes, focados em unidades mais acessíveis dentro do programa, continuarão ganhando terreno”, apontaram os analistas.

A recomendação do Bradesco BBI para Direcional é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 14,00 – upside de 18%. Junto com a Tenda, segundo o relatório, está entre as suas escolhas no segmento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.