Suspensão de voos do jato 737 Max-9 da Boeing não impacta Azul e Gol; analistas revisam projeções para setor

Aviões afetados são da Copa Airlines, correspondentes a 20% da frota, mas visão é de impacto só no curto prazo

Camille Bocanegra

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A suspensão de uso do jato 737 Max-9 da Boeing, que passou por incidente no sábado no qual a porta se abriu no ar, não trará impactos para o setor, de acordo com analistas. Inicialmente, a Anac havia divulgado que nenhuma companhia operava no Brasil com o modelo.

Porém, após verificação, a agência divulgou que a Copa Airlines, que teve parte de seus voos suspensos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na manhã desta segunda (8), é a única no Brasil a operar com o modelo. A companhia aérea, que emprega o modelo em cerca de 20% da frota, já havia retirado as aeronaves de uso para revisão técnica por 24h após a explosão no sábado, em jato da Alaska Airlines.

O incidente, apesar de ter acendido alerta sobre o modelo e derrubado as ações da Boeing em mais de 8%, não deve impactar de forma significativa o setor, de acordo com o JPMorgan e o Goldman Sachs. Em primeiro lugar, muitos nomes sob cobertura dos bancos não utilizam o jato, em especial a Azul (AZUL4) e a Gol (GOLL4) e, mesmo aqueles que o fazem, devem ter impacto de curto prazo e limitado à retirada das aeronaves de circulação para inspeção.

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“A variação nos preços do combustível de aviação representa o maior risco para nossas metas de preço, uma vez que um aumento de 5% para o ano implica em uma queda média de 9% no Ebit [lucro antes de juros e impostos] para o setor”, entende o Goldman Sachs sobre o pouco impacto nos resultados das companhias.

A visão do Bradesco BBI sobre o incidente e o impacto para Copa Airlines é similar, com potencial de impacto negativo nas estatísticas de tráfego aéreo de janeiro, mas sem maior repercussão nos resultados das companhias para o 1º trimestre de 2024 e para o ano fiscal.

Atualização de estimativas do JPMorgan reforçou a permanência da Copa Airlines como “top pick” dentro do universo de cobertura. Além disso, a Latam Airlines foi elevada de neutro para overweight (exposição acima da média, similar à compra). A mudança foi causada pelo guidance recentemente divulgado para 2024.

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O ambiente para a indústria da aviação continua favorável, pois a maioria das empresas deve continuar adicionando capacidade em meio a rendimentos historicamente altos. Embora os fabricantes originais estejam enfrentando dificuldades para entregar aeronaves da nova geração no prazo, as transportadoras latino-americanas têm conseguido compensar parcialmente isso estendendo os acordos de locação”, considera o JPMorgan.

Outro fator que tem potencial de trazer melhoras para o setor é a queda do preço do combustível de aviação em quase 25% desde seu pico, em setembro.

Estimativas atualizadas

A análise considera que a Latam oferece potencial de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA, na sigla em inglês) 15% superior, chegando a uma avaliação de 4,5 vezes a relação entre valor da empresa (EV, na sigla em inglês) sobre Ebitda para 2024, o que representa um desconto de 45% em relação ao apresentado antes da pandemia de COVID-19.

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A Copa, listada na Bolsa de Nova York, é considerada “ainda a melhor da classe, permanece nossa principal escolha”. O nome oferece, de acordo com a análise, combinação interessante de avaliação de 4,2 vezes EV/EBITDA para 2024. A Copa apresenta, também, lucratividade vista como superior e balanço confortável, com dívida líquida de 0,8 vezes em relação ao Ebitda para 2024. O patamar elevado de endividamento tem sido ponto comum entre os nomes do setor.

“Acreditamos que a empresa continua merecendo uma avaliação premium – historicamente tem sido negociada com um prêmio de um dígito em relação aos concorrentes na região – colocando-a como nossa principal escolha entre as transportadoras latino-americanas”, afirma o banco estrangeiro.

Dentre as companhias brasileiras, a preferência é para Azul, considerada overweight em detrimento de Gol. O JPMorgan considera que as métricas operacionais apresentadas pela Azul são sólidas e vê como possível o aumento da capacidade em 10% ao ano, com rendimentos próximos aos níveis atuais (+17% no EBITDA, para cerca de R$ 6 bilhões).

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Com isso, a relação entre EV/Ebitda fica em 4,7 vezes, abaixo da média pré pandemia. O preço-alvo para 2024 (R$ 34,00) foi majorado em 146%.

“Por outro lado, a Gol ainda está negociando seus acordos de locação, o que apresenta maior incerteza sobre sua situação financeira futura, pelo menos em comparação com os concorrentes. Embora a empresa deva continuar mostrando um desempenho operacional decente, não descartamos diluição adicional de capital como parte de seu gerenciamento de responsabilidades”, entende o JPMorgan.