Smiles: Por que a nova proposta da Gol é uma “luz no fim do túnel” para os investidores da empresa de fidelidade

14 meses após desanimar os investidores da Smiles com a proposta vaga sobre reorganização societária, novo comunicado faz ativos SMLS3 subirem 20%

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O imbróglio de pouco mais de um ano entre a Gol (GOLL4) e a Smiles (SMLS3) pode finalmente chegar a um desfecho – e feliz para ambas as partes.

A Gol apresentou à sua controlada proposta de reorganização societária do grupo que prevê a incorporação das ações da empresa de programas de fidelidade pela companhia aérea. O objetivo, segundo informaram as companhias, é simplificar a estrutura acionária e assegurar competitividade de longo prazo.

Segundo os termos da proposta, cada ação ordinária da Smiles será trocada por 0,6319 ação preferencial da Gol (ações Gol PN) e a R$ 16,54 como valor de resgate. Outra proposta prevê que cada ação preferencial Smiles poderá ser trocada por 0,4213 ação PN da Gol e R$ 24,80 (referente ao valor resgatável). Segundo a Gol, ficará ao critério dos acionistas da Smiles aceitar a primeira modalidade de oferta ou a segunda.

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“Na determinação de troca proposta, a Gol e a GLA levaram em conta o valor de R$ 39,25 por ação da Gol e um valor de R$ 41,34 por ação da Smiles”, informa o comunicado.

Para determinar a relação de troca, foram considerados os valores de R$ 39,25 para a ação da Gol e R$ 41,34 para a ação da Smiles, de acordo com a companhia aérea. Não à toa, os papéis SMLS3 disparam nesta sessão, com ganhos de até 20%. Às 17h16 (horário de Brasília), os ativos saltavam 19,44%, a R$ 37,91.

De acordo com Richard Lark, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da aérea, os acionistas minoritários da Smiles serão beneficiados na proposta de reorganização.

“A transação representa prêmio significativo de 30% sobre preço atual para acionistas da Smiles, além de prêmio de 13% sobre o preço-alvo para os próximos 12 meses”, disse executivo durante teleconferência com investidores, analistas e jornalistas.

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Lark ressalta que, além do prêmio, há benefício para os minoritários a opção de escolha entre duas alternativas de pagamento prevista na proposta. “Os minoritários terão participação no valor criado pela reorganização. O maior alinhamento de interesses do grupo é outro ponto que deve ter reflexos positivos para os minoritários. Também esperamos um maior volume de negociação na Bolsa”, acrescentou.

De acordo com o Morgan Stanley, há grandes possibilidades de que a transação anunciada seja a solução para concluir a incorporação da Smiles, o que é vista como um desfecho positivo dadas as circunstâncias. Assim, os analistas classificaram a notícia como uma “luz no fim do túnel”.

Afinal, em outubro de 2018, o anúncio feito pela Gol desanimou e muitos os acionistas da Smiles uma vez que, na ocasião, não definiu valores para a troca de ações e informou que não haveria a renovação do contrato com a empresa de fidelidade, com vencimento em 2032, o que também gerou dúvidas sobre a sustentabilidade das operações da companhia. Na sessão do dia 15 de outubro, após o anúncio, os papéis SMLS3 caíram cerca de 40%.

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Já com o novo acordo, para a Gol, os analistas Josh Milberg e Lucas Barbosa, do Morgan, veem duas fontes de upside: 1) benefícios fiscais relacionados ao PIS/Cofins; 2) a incorporação da geração de um forte fluxo de caixa livre e as projeções otimistas de ter um programa de fidelidade internalizado (mais flexibilidade para ajustar preços, sem contrato a ser expirado em 2032).

Se os acionistas da Smiles aceitarem a primeira operação oferecida, Gol deve incorrer em um pagamento de R$ 1 bilhão e os controladores devem ver uma diluição de 10% nos direitos econômicos. Caso os investidores da Smiles aceitarem a segunda opção oferecida, o pagamento a ser incorrido um pagamento de R$ 1,5 bilhão e levaria a uma diluição de 7% dos seus direitos.

De qualquer forma, os analistas ainda apontam que não sabem quanto valor o mercado irá atribuir. No melhor cenário, o Morgan estima uma criação de valor com a incorporação da Gol de cerca de R$ 4 bilhões considerando a transação proposta nos atuais níveis da ação, com potenciais benefícios fiscais e para o fluxo de caixa da empresa.

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Para a Smiles, os analistas do Bradesco BBI apontam que, apesar da proposta ainda precisar ser aprovada pelos acionistas, a expectativa é de que ação da Smiles deva ter um rali para entre R$ 39 e R$ 40 (nesta sessão, os papéis já chegaram aos R$ 38). Com relação ao fechamento de sexta, o potencial de valorização estaria entre 23% e 26%.

Porém vale ressaltar que, mesmo com a disparada desta sessão, a cotação dos ativos SMLS3 ainda está cerca de 30% abaixo do valor de pouco mais de um ano atrás, quando a Gol apresentou a sua primeira proposta.

A Smiles ainda sofreu outros baques na bolsa, como na semana passada, ao divulgar um guidance mais fraco para 2020 e que fez com que as suas ações caíssem 10% na sessão do último dia 3. Os papéis têm uma sessão de alívio na bolsa com a eliminação de um grande ponto negativo para o programa de fidelidade, que era a percepção ruim sobre a governança corporativa da empresa. Porém, a companhia já enfrenta desafios, como a alta concorrência – e eles não foram eliminados.

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(Com Agência Estado)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.