Siderúrgicas: saiba como a queda na produção de veículos afeta as ações do setor

Para os analistas, desempenho fraco da indústria automobilística joga contra papéis da siderurgia, mas alta do preço do aço ameniza cenário

Mitchel Diniz

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SÃO PAULO – Na reta final de 2021, a indústria automobilística se viu obrigada a revisar pela segunda vez suas previsões de crescimento. Em janeiro, a Anfavea (associação dos fabricantes), previa que o as montadoras produzissem 2,52 milhões de unidades este ano. Agora, na melhor das hipóteses, a produção deve fechar o ciclo com 2,2 milhões de veículos – 300 mil a menos que o previsto inicialmente. A rota de crescimento precisou ser recalculada diante das baixas na fabricação de automóveis nos últimos meses. Em setembro passado, a produção caiu 21,3% na comparação anual.

Um dos motivos para a queda na produção é a falta de semicondutores, um problema que tem afetado não só as fabricantes de veículos, mas indústrias de outros segmentos e também os seus fornecedores. É o caso das siderúrgicas, que tem nas montadoras seu principal comprador de laminados planos. Para os analistas, o desempenho fraco da indústria automobilística joga contra as ações de siderurgia na Bolsa, mas não necessariamente trava seu crescimento.

“Sem dúvida é um componente que pesa para a performance das ações, porque vai ditar, de certa forma o resultado delas no ano que vem. Mas existem outros fatores que a gente considera que são até mais relevantes do que isso. O efeito de preço acaba sendo mais significativo do que os volumes em si”, afirma Gustavo Lima, analista do setor de siderurgia da Navi.

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Ele acredita que as ações podem performar bem, mesmo em um cenário de volumes de vendas piores para o setor automotivo. Isso porque os preços do aço bateram recordes este ano com a retomada gradual da economia e, mesmo tendo arrefecido no segundo semestre, ainda se mantêm em patamares elevados, o que também é uma tendência para o ano que vem. Além disso, as ações já teriam precificado uma queda de preço do aço nos próximos meses.

“Antes, as siderúrgicas brasileiras exportavam principalmente para aumentar sua capacidade de produção e diluir custos fixos. Agora, com os preços internacionais altos, é possível conseguir boas margens com exportação”, afirma Antonio Heluany, analista de empresas da Taruá Capital. No entanto ele ressalta que isso não significa que as siderúrgicas nacionais vão exportar o “grosso” das vendas.

“As vendas para o exterior ainda são marginais. O principal, cerca de 90%, vai ser absorvido aqui mesmo pelo Brasil, ainda que a demanda da indústria automobilística seja menor, afirma Heluany. O analista também explica que o produto está negociado com menos descontos em relação ao aço chinês, com o qual compete no mercado interno.

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Ainda assim, empresas que são mais expostas à indústria automotiva podem ser mais afetadas pela queda na fabricação de veículos. É o caso da Usiminas (USIM5), que vende cerca de um terço da sua produção para as montadoras. A CSN (CSNA3) tem um percentual menor de exposição, porém foi impactada recentemente pela queda nos preços das commodities.

“A CSN também tem um percentual do negócio em minério de ferro, que sofreu bastante recentemente. Os preços caíram muito e ela também foi impactada nessa outra frente”, diz Lima, da Navi.

Em relatório, o Bradesco BBI mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para três siderúrgicas: Usiminas, CSN e Gerdau (GGBR4). Mas reconhece que diversos fatores vem compondo um cenário de riscos para essas empresas: o ambiente macroeconômico brasileiro, preocupações em relação ao crescimento da economia chinesa e aumento de custos.

Os analistas Thiago Lofiego e Isabella Vasconcelos veem dois riscos: primeiro, o impacto de uma crise de energia, que levaria às siderúrgicas a buscarem fontes alternativas e mais caras, elevando custos. O segundo, o de destruição de demanda, com os setores consumidores de aço também impactados por um possível racionamento de energia. O relatório lembra que, em 2001, o racionamento de energia derrubou 5% a produção de aço das siderúrgicas, na média.

Mesmo com a atual baixa na produção de veículos, o analista da Navi afirma que a demanda por automóveis não deixou de existir. “A gente acredita que existe uma demanda por novos veículos, que por mais que seja limitada pela oferta, não deixou de existir. O comprador deixa de consumir hoje, mas consome lá na frente”, afirma Gustavo Lima.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados