Sem Vale (VALE3), Ibovespa teria fechado primeiro semestre a 131 mil pontos

Ações da mineradora fecharam primeiros seis meses do ano em queda de cerca de 26%, com incertezas na China levando à baixa dos papéis

Lara Rizério

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O Ibovespa fechou o primeiro semestre de 2023 com alta de 7,61%, a 118.087 pontos, com a melhora das perspectivas econômicas, diminuição de riscos políticos e fiscais, melhora nos dados de inflação e expectativas de corte de juros em breve.

A alta do benchmark da Bolsa aconteceu apesar da Vale (VALE3), maior participação do índice com fatia de cerca de 12,6%. As ações foram a quarta maior queda do Ibovespa nos primeiros seis meses de 2023, com queda de 26,16%, em meio às incertezas sobre a recuperação da China e também desafios operacionais afetando o desempenho dos ativos.

“Esse baixo desempenho das commodities foi impulsionado pela VALE3, com sinais de que a tão esperada recuperação econômica da China pós-Covid tem perdido o fôlego, com fraquezas principalmente no setor de infraestrutura”, apontam Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, estrategistas da XP.

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Os cálculos da XP mostram que, sem VALE3, o Ibovespa teria subido para 131 mil pontos em vez dos atuais 118 mil pontos.

Confira o desempenho do Ibovespa versus Vale em 2023:

Fonte: XP

Assim, apesar da alta do Ibovespa no semestre, commodities, o maior setor do índice, apresentou desempenho inferior ao benchmark, mesmo com a descompressão dos riscos que levou à forte alta de Petrobras (PETR3;PETR4) no semestre.

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Enquanto isso, o setor de Bancos e Financeiro apresentou uma performance superior ao Ibovespa, com um retorno acima de  20%, explicado por resultados resilientes do setor, com destaque ao desempenho de Banco do Brasil (BBAS3), em alta de 46,8%.

O fato da ação com mais peso do Ibovespa ter caído forte é apontado pela XP como um dos motivos que levam o índice a ter mais espaço para subir no segundo semestre de 2023. Os estrategistas mantêm a visão de um Ibovespa a 130 mil pontos no fim deste ano.

Além disso, apontam que as ações brasileiras tendem a ser positivas em ciclos de corte de juros, sendo que a queda da Selic ainda não se materializou. Ferreira e equipe apontam que, nos últimos 20 anos, houve 6 ciclos de cortes nos juros, nos quais em cinco deles o índice Ibovespa apresentou retornos positivos.

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Outro fator é de que ainda há potencial para ver fluxos de capital estrangeiro entrando mais fortemente na Bolsa. Enquanto a entrada de capital estrangeiro é positiva no acumulado do ano em R$ 11,2 bilhões, os dados mensais não têm sido consistentes até o momento.

Em comparação, no ano passado, houve uma entrada recorde de quase R$ 120 bilhões em um cenário não tão positivo quanto o que estamos vendo para o segundo semestre de 2023. “Mas já estamos observando um sentimento mais positivo dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil. Se o cenário doméstico continuar melhorando, um forte retorno do capital estrangeiro daqui pra frente pode ajudar a sustentar ainda mais a recuperação das ações brasileiras”, avaliam os estrategistas.

Além disso, os fluxos institucionais também ainda não retornaram. Os investidores institucionais locais também têm ficado de fora até agora. Uma combinação de sentimento negativo em relação à tomada de risco em ações e saques de clientes nos últimos meses levaram a vários meses de saídas de capital desses investidores.

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“Só começamos a ver uma mudança em maio, quando o fluxo mensal finalmente se tornou positivo após quase um ano de saídas porém, em junho, o fluxo voltou a ser negativo. Caso o aumento do apetite a risco volte a aumentar, com os clientes começando a tomar riscos também, um retorno da entrada de capital dos investidores institucionais para as ações brasileiras também será um importante fator de suporte para o mercado”, apontam os estrategistas.

Os investidores Pessoa Física ainda estão com pouca alocação em Bolsa, mas os estrategistas já veem uma mudança de sentimento para positivo; os estrategistas apontam que os níveis de posições vendidas ainda estão próximos dos máximos históricos.

Os estrategistas da XP continuam vendo as ações brasileiras como muito descontadas. O Ibovespa é negociado a um Preço/Lucro (P/L) projetado de 8,2 vezes, um desconto de mais de 30% em relação à média histórica de 11 vezes. Além disso, eles apontam que o Brasil também é barato quando comparado às ações globais: o MSCI ACWI é negociado a um P/L projetado muito mais alto, de 15,6 vezes, e o Brasil está próximo dos maiores descontos históricos.

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Em sua carteira top 10 para julho, a XP aumentou a sua exposição a PRIO (PRIO3) de 5% para 10% por ser a top pick no setor de Petróleo e Gás, e reduziu o peso de Vale de 10% para 5% devido à uma visão mais cautelosa sobre o crescimento da China daqui para frente, especialmente no setor de infraestrutura.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.