Saída de Boris Johnson gera incerteza sobre futuro do mercado cripto no Reino Unido

A renúncia do político atrapalhará a agenda legislativa do governo, inclusive as questões envolvendo criptoativos

CoinDesk

Boris Johnson, premiê do Reino Unido (Shutterstock)

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A saída de Boris Johnson do posto de primeiro-ministro do Reino Unido deixa no ar uma grande dúvida: qual será a direção da política de criptomoedas do país, que recentemente declarou sua intenção de se estabelecer como um hub cripto?

Por enquanto, a renúncia provavelmente atrapalhará a agenda legislativa do governo, inclusive as questões envolvendo stablecoins. O mercado também se pergunta se o próximo governo será tão “pró-Web 3.0” quanto o de Johnson.

A saída do político foi motivada por uma série de escândalos, começando com a multa que Johnson levou da polícia por organizar festas durante o lockdown para conter o novo coronavírus, que ele próprio impôs.

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Mais recentemente, a situação se agravou após a revelação de que Johnson nomeou o deputado Chris Pincher para vice-líder da bancada conservadora na Câmara mesmo sabendo das alegações de assédio sexual contra ele.

A crise gerou uma série de renúncias nesta semana, começando com o chefe do Tesouro, Rishi Sunak. No total, cerca de 50 pessoas pediram demissão.

O Partido Conservador de Johnson deve agora selecionar um novo líder. Os membros do partido no parlamento inglês realizarão uma série de votações para chegar aos dois candidatos finais; depois, outra votação será feita para escolher o vencedor, que se tornará então o primeiro-ministro e selecionará uma nova lista de ministros.

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Da última vez, o processo levou cerca de dois meses – de maio de 2019, quando a então primeira-ministra Theresa May anunciou que estava deixando o cargo, até a indicação de Johnson como seu sucessor, em julho daquele ano.

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Na quarta-feira (6), o vice-governador do Banco da Inglaterra, Jon Cunliffe, prometeu que enviaria um projeto de lei sobre stablecoins até agosto deste ano. A indústria já havia exaltado a clareza regulatória esperada da lei, mas seu futuro agora é incerto.

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Nadhim Zahawi, o sucessor de Sunak, que foi nomeado na terça-feira (5) como o novo chefe do Tesouro, tem muito com que lidar, incluindo o aumento do custo de vida causado pelos preços mais altos de alimentos e energia.

Embora Zahawi ainda possa tomar as decisões necessárias para manter a economia funcionando, a orientação do governo diz que os ministros interinos não devem apresentar novas iniciativas com consequências de longo prazo. De qualquer forma, com mais de 50 renúncias nos últimos dias, não está claro se há pessoal ministerial suficiente para conduzir um projeto de lei.

Possíveis sucessores

A saída de Sunak selou o destino de Johnson, mas também melhorou suas próprias chances de se tornar o próximo primeiro-ministro, de acordo com pesquisas citadas pelo jornal The Guardian.

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Do ponto de vista das criptomoedas, a posição de Sunak é conhecida e amplamente positiva. Em abril, ele descreveu sua “ambição de tornar o Reino Unido um hub global para a tecnologia de criptoativos” e pediu à Casa da Moeda do país que emitisse um token não fungível (NFT).

Ainda não há uma lista formal de candidatos, e muitos dos que devem concorrer fizeram poucos comentários sobre criptoativos.

Em 2020, a ex-ministra do Comércio e atual secretária de Relações Exteriores, Liz Truss, disse que a saída do Reino Unido da União Europeia era uma “oportunidade de… realmente liderar o mundo em áreas como inteligência artificial e blockchain”.

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A ex-ministra da Defesa e atual secretária de Estado do Comércio Exterior, Penny Mordaunt, que é outra forte candidata ao posto, parecia entusiasmada com o mercado cripto após uma reunião com o Texas Blockchain Council (associação para promover empresas do setor) em abril. No encontro, ela sugeriu que poderia haver oportunidades para o próprio centro financeiro do Reino Unido em Londres.

Ben Wallace, ministro da Defesa que vem liderando as intenções em algumas pesquisas recentes, já chegou a citar no passado o risco de as criptomoedas serem usadas para lavagem de dinheiro.

Enquanto isso, Matt Hancock, um legislador que defendeu a causa cripto ao pedir um regime fiscal e regulatório liberal e que em 2019 defendeu a liderança do país no setor, disse à mídia que não fará o mesmo desta vez.

Otimismo com ETH

As posições públicas de outros são mais sutis, incluindo as de alguns notáveis céticos com o Bitcoin (DOT).

Tom Tugendhat, presidente do comitê de relações exteriores da Câmara dos Comuns, foi um dos primeiros a anunciar sua intenção de concorrer ao cargo de primeiro-ministro – isso em janeiro, quando o posto estava indisponível. Em tuítes e discursos parlamentares, ele disse que está “otimista em relação ao Ethereum (ETH) e não ao BTC”. Além disso, pediu uma estrutura legal do Tesouro para apoiar o que ele chamou de “reescrita fundamental dos modelos de propriedade.”

Steve Baker, um legislador que anteriormente participou do Comitê do Tesouro da Câmara dos Comuns e atuou como ministro do Brexit, sugeriu que ele também pode se candidatar. Em uma declaração parlamentar de 2014, ele disse que as criptomoedas são bem-vindas, pois são uma maneira de “se afastar do dinheiro do estado”.

“Todo obstáculo à criação de moedas alternativas dentro da lei comercial comum deve ser removido”, disse Baker, embora tenha acrescentado que o Bitcoin é “imperfeito e possivelmente condenado”.

Em última análise, porém, não é possível saber exatamente como será o futuro das criptomoedas no Reino Unido. Comentários feitos há quase uma década podem oferecer pouca visão sobre a direção estratégica de um novo primeiro-ministro ou a de seu ministro das Finanças – e a classe política britânica deixou poucas pistas para prosseguir.

Um relatório de maio do grupo de advocacia e pesquisa “SEC Newgate UK” descobriu que os legisladores do país estavam “quase silenciosos” sobre os temas envolvendo criptomoedas e blockchain, aumentando o risco de o Reino Unido se tornar um “retardatário” no setor, que está em crescimento.

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