Resultado das eleições na Alemanha aponta para distanciamento do Brasil e Mercosul

Pauta ambiental deve ser prioridade no novo governo que ainda depende de alianças entre os partidos para entrar em vigor

Mitchel Diniz

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SÃO PAULO – Em uma disputa bastante acirrada, o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, venceu as eleições do último domingo (26) na Alemanha. O candidato Olaf Scholz, atual vice-chanceler e ministro das Finanças, tem grandes chances assumir o cargo de primeiro-ministro no lugar de Angela Merkel, que ocupou a posição por 16 anos.

Mas a aliança partidária que vai definir o perfil do novo governo alemão está longe de ser costurada. Os analistas, no entanto, dão como certo que a agenda ambiental vai ser prioridade para o parlamento recém-eleito, o que pode distanciar ainda mais a relação entre a Alemanha e o Mercosul, sobretudo o Brasil.

Desde 2019, os repasses da Alemanha para o Fundo Amazônia estão congelados por conta do aumento do desmatamento na região. As preocupações com a conservação do meio ambiente também afastaram o governo alemão de tratativas de livre comércio com o Mercosul. “O Partido Verde deve participar do novo governo e um acordo com o Mercosul vai ficar ainda mais difícil”, explica Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch.

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Semáforo x Jamaica

Ainda que tenha ficado em terceiro lugar na votação, os Verdes são considerados peça-chave para a coalizão que vai governar a  Alemanha, assim como o Partido Liberal-Democrático (FDP), quarto colocado na votação de domingo. Na avaliação do Credit Suisse, existe 60% de probabilidade que o SPD costure uma aliança com esses dois partidos, numa coalizão conhecida como “semáforo”, por conta das cores das legendas.

Outra possibilidade, porém mais remota, seria uma coalizão “Jamaica”, entre Verdes, FDP e o Partido Democrata-Cristão (CDU), que perdeu a eleição geral por menos de um ponto percentual de diferença. O partido de Angela Merkel teve 24,1% enquanto o SPD ganhou com 25,7%.

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“Os Verdes deverão insistir em um aumento substancial do investimento público para que a Alemanha zere emissões de gases  do efeito estufa. Porém, o FDP é contrário a ampliação de déficits públicos e aumento de impostos”, citam os analistas Neville Hill e Sonali Punhani, do Credit Suisse. Eles acreditam que o processo de formação da coalizão vai ser mais lento e difícil.

Cabo-de-guerra

O Morgan Stanley acredita que pode haver um cabo-de-guerra entre os partidos mais votados pelo terceiro e quarto colocados na eleição. “Existe uma preferência clara de cooperação entre SPD e Verdes e entre o CDU e FDP, o que deve resultar em um cabo-de-guerra, no qual partidos de centro-esquerda cortejam o FDP e os de centro-direita cortejam os Verdes”, afirmam Markus Guetschow e Jacob Nell, analistas do banco.

Relatório da XP ressaltam que os partidos que devem compor a coalizão de governo não deve representar uma grande ruptura para a Alemanha. “Vale notar que, apesar de representarem agendas distintas, os quatro partidos são centristas e não buscam grandes mudanças na política ou visão econômica do país. A coalizão sem o CDU teria uma tendência mais expansionista na seara fiscal, mas essa teria que ser negociada com o FDP, de cunho liberal. Com os Verdes no governo, a agenda ambiental tende a ganhar mais peso na região”, diz a análise da XP.

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De qualquer forma, verdes e liberais já aceitaram negociar um acordo, um sinal de que a coalização pode ser formada mais rápido que o esperado. Independentemente da costura política, os analistas do Credit Suisse dizem que o novo governo deve enfrentar muitos desafios econômicos, já que os fundamentos da prosperidade econômica durante a era Merkel não são mais os mesmos.

“O cenário de mercado de trabalho, que melhorou substancialmente, e de forte demanda por exportações da China está se invertendo. E conseguir zerar as emissões de gases do efeito estufa até 2045 requer políticas e escolhas financeiras rígidas”, concluem os analistas.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados