Publicidade
O investidor bilionário Ray Dalio, fundador da gestora Bridgewater Associates, afirmou nesta segunda-feira (7) que a atual turbulência nos mercados, desencadeada pelas tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é apenas a manifestação visível de uma ruptura sistêmica mais ampla. Segundo ele, o mundo está entrando nas primeiras fases de uma transformação histórica que envolve o colapso simultâneo da ordem monetária, política e geopolítica global.
Oportunidade na renda fixa internacional: acesse gratuitamente a seleção mensal da XP para investir em moeda forte
Em um artigo publicado nas redes sociais, Dalio chamou atenção para o fato de que muitos estão focando nas tarifas enquanto ignoram forças estruturais mais profundas que estariam por trás dos recentes choques econômicos, que no passado culminaram em crises econômicas severas, guerras civis e conflitos globais, e que acontecem apenas “uma vez na vida”.
Aproveite a alta da Bolsa!
“Se deixar que as manchetes desviem sua atenção dos grandes ciclos que estão em andamento, você perderá o que realmente importa”, escreveu. Veja, a seguir, os principais elencados por ele.
- Desequilíbrios de dívida e colapso da ordem monetária
- Desglobalização e riscos ao modelo capitalista
- Polarização interna e enfraquecimento da democracia
- Nova ordem geopolítica: fim da hegemonia americana
- Impactos em cadeia: clima, tecnologia e finanças

Mercados têm novo dia de convulsão com caos tarifário apagando US$ 10 tri de ações
Caos desencadeado pela guerra comercial continuou pelo terceiro dia, com ações, títulos e commodities oscilando violentamente

“Isso é uma loucura”: os 15 minutos que abalaram o mercado nesta segunda
Rumor sobre suspensão de tarifas fez bolsa disparar – até os operadores perceberam que a manchete não era verdadeira
Desequilíbrios de dívida e colapso da ordem monetária
De acordo com Dalio, o modelo econômico global atual está sendo desfeito por níveis de endividamento considerados insustentáveis. Ele destaca o desequilíbrio entre países devedores, como os EUA, e credores, como a China. Enquanto os primeiros financiam excessos com dívida crescente, os segundos dependem da venda de produtos e da compra de ativos desses mesmos países para sustentar suas economias. Em um mundo que caminha para a autossuficiência, essa relação deve se romper, com impactos diretos na estrutura monetária global.
“Está claro que a ordem monetária terá que mudar de formas profundamente disruptivas para reduzir todos esses desequilíbrios e excessos”, falou.
Continua depois da publicidade
Desglobalização e riscos ao modelo capitalista
Dalio argumenta que os grandes desequilíbrios comerciais e de capital, baseados na interdependência entre nações, são cada vez mais incompatíveis com um cenário de deglobalização. Para ele, a necessidade de reduzir dependências externas — especialmente entre potências em atrito — resultará em uma transformação disruptiva da ordem econômica e dos mercados de capitais.
“Essas circunstâncias obviamente insustentáveis terão que mudar, especialmente em um mundo em desglobalização, onde os principais players não confiam uns nos outros”, escreveu o fundador da Bridgewater.

Larry Fink diz que maioria dos CEOs com quem conversa acha que EUA estão em recessão
“A economia está enfraquecendo enquanto falamos”, disse o CEO da BlackRock durante entrevista nesta segunda-feira

Bill Ackman: Trump deve pausar tarifas para evitar “inverno nuclear econômico”
Investidor bilionário critica imposição de tarifas a mais de 180 países e pede pausa de 90 dias para evitar colapso da confiança empresarial
Polarização interna e enfraquecimento da democracia
No plano doméstico, Dalio aponta que a polarização crescente está corroendo as bases da democracia. Ele cita desigualdades em educação, renda e oportunidades como elementos que alimentam a disputa entre populistas de direita e esquerda, enfraquecendo o compromisso político necessário ao funcionamento institucional. Em contextos como esse, diz ele, é comum o surgimento de lideranças autoritárias.
Para ele, “estamos vendo as democracias ruírem porque exigem compromisso e adesão ao Estado de Direito — e a história mostra que ambos falham em momentos como este.”
Nova ordem geopolítica: fim da hegemonia americana
Internacionalmente, Dalio avalia que a era de domínio unipolar dos EUA está em declínio. O país, segundo ele, está substituindo o multilateralismo por uma abordagem unilateral centrada na doutrina “America First”, já evidente na guerra comercial com a China e em tensões geopolíticas e tecnológicas mais amplas.
“A ordem mundial cooperativa liderada pelos EUA está sendo substituída por uma abordagem unilateral baseada no poder”, defendeu.
Continua depois da publicidade
Impactos em cadeia: clima, tecnologia e finanças
Além dos choques estruturais, Dalio menciona eventos climáticos extremos e inovações tecnológicas, como a inteligência artificial, como forças adicionais que influenciam a reconfiguração global. Ele alerta que as tarifas também podem dificultar a cooperação internacional em temas como mudança climática e gerar efeitos ambíguos sobre a inovação tecnológica e os mercados financeiros.
“As ações de Trump nas tarifas afetarão o clima, a tecnologia, os mercados e a política — algumas de forma positiva, outras de maneira extremamente disruptiva”, avalia o megainvestidor.
