“Polarização instalada desde agora”: como o mercado interpretou a decisão de Fachin de anular as condenações de Lula na Lava Jato

Sessão é de forte perda para o Ibovespa e de disparada para o dólar, com analistas e economistas vendo aumento da chance de populismo no radar

Priscila Yazbek Lara Rizério Ricardo Bomfim Lucas Bombana

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SÃO PAULO – A reação do mercado foi imediata. Se os últimos dias já foram conturbados para o Ibovespa, para o mercado de juros futuros e para a moeda brasileira por conta do noticiário político, a reta final do pregão desta segunda-feira (8) trouxe ainda mais turbulência para os investidores em Brasil.

Isso após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anular todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. Com a decisão, o ex-presidente Lula recupera os direitos políticos e volta a ser elegível.

Após a notícia, o Ibovespa acelera perdas e já cai cerca de 4% por volta das 17h30 (horário de Brasília). O dólar comercial sobe 1,64% a R$ 5,7758 na compra e a R$ 5,7768 na venda. Já o dólar futuro para abril tem alta de 1,54% a R$ 5,784.

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Segundo Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, o mercado já estava de mau humor e ficou pior, pois a aceitação do habeas corpus da defesa de Lula foi uma surpresa. Isso porque o único processo que estava no radar em relação a esse tema era o de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, que servia só para a condenação no caso do tríplex do Guarujá e não para as investigações do sítio em Atibaia.

Agora, de acordo com Attuch, os investidores enxergam um cenário extremamente polarizado para 2022, com um segundo turno quase certo entre o atual presidente Jair Bolsonaro e Lula. “Se o mercado se decepcionou com o Bolsonaro nas últimas semanas com a falta de agenda reformista, agora o que se enxerga para o ano que vem são dois candidatos que não são comprometidos com as reformas de ajuste fiscal”, avalia.

De acordo com Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a possibilidade de Lula se candidatar em 2022 aumenta a polarização sendo que, aos olhos do mercado, este é o pior cenário. Com essa decisão, o espaço fica menor para alguém com uma postura mais de centro ser competitivo. O estrategista destaca que Lula tem seus 20% de eleitores fiéis, que não o abandonam por nada, mesmo percentual de Bolsonaro. Isso historicamente leva os 2 para um eventual segundo turno. Olhando para os setores, estatais tendem a sofrer mais nesse cenário.

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Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados se, de fato, for confirmado que Lula vai recuperar os direitos políticos e voltar a ser elegível, haverá um cenário complicado nos próximos dois anos. “A polarização fica instalada desde agora, sem chance para o centro democrático. Com Bolsonaro intervencionista e o PT sem mea-culpa na parte econômica, teremos uma situação muito tensa nos próximos dois anos. Com câmbio mais pressionado e bolsa mais instável”, destaca Vale.

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos, destaca que ainda é muito cedo para fazer previsões, mas é muito provável que a Procuradoria Geral da República vai recorrer, mas é algo que já estava sendo falado faz algum tempo. “O mercado deve continuar pedalando até entender tudo o que está acontecendo, mas o Brasil é cheio de imprevistos e altos e baixos. Acredito que a pressão no STF ficará ainda maior, o que pode gerar pressão entre os poderes. Mas não acho que vá mudar direcionalmente a trajetória de mercado, já que ainda falta tempo para as eleições”, avalia.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, destaca que a Procuradoria Geral da República (PGR) vai recorrer da decisão de Fachin e que ela pode ser revertida pelo plenário do Supremo.

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Ele destaca ainda que essa é uma tentativa de Fachin para salvar a Lava Jato, tentar mostrar que dá para separar o joio do trigo. Contudo, o que resta é um cenário complicado, porque o STF mostra que a pouca credibilidade que tinha está se perdendo, além de ainda transferir para Bolsonaro uma preocupação ainda maior na concorrência pelo poder.

“Bolsonaro pode abandonar toda a agenda econômica e ser ainda mais populista para tentar garantir a sua reeleição. Agrava ainda mais a situação, porque se se esperava alguma mudança de postura em direção à austeridade fiscal, com o Lula forte na concorrência para 2022, Bolsonaro deve tomar medidas de maior gasto, como auxílio emergencial. No entanto, é preciso acompanhar o desfecho total disso no STF, pois a PGR vai recorrer. Nada está decidido”, avalia Agostini.

Luiz Missagia, gestor de renda variável da Ace Capital, aponta o forte aumento no nível das incertezas e da volatilidade esperada para as próximas sessões. Desta forma, destaca ainda não ter clareza se este é o momento certo para comprar mais ações ou não.

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“Estou com medo de sair comprando”, diz Missagia, que não descarta novas quedas do mercado antes de uma recuperação, frente ao aumento na percepção de risco do mercado. Em momentos de forte realização nos mercados, é comum que a gestora aproveite para se desfazer das proteções que usualmente carrega na carteira via derivativos, para tirar proveito dos preços descontados. Porém, dada a atual situação, ainda tem cautela.

O gestor avalia que a decisão do ministro do STF tende a aumentar ainda mais a polarização no país. “Vai ser uma briga para ver quem tem menos rejeição”, afirma Missagia.

Às 18h30 (horário de Brasília), o InfoMoney terá uma edição extraordinária do Radar em que debaterá os impactos na política e nos mercados da decisão do ministro do STF. Acompanhe clicando aqui. 

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Priscila Yazbek

Editora de Finanças do InfoMoney.