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SÃO PAULO – A pandemia de coronavírus vem causando estragos na atividade econômica brasileira em meio às medidas de isolamento social que levam à diminuição de circulação e fechamento de vários negócios considerados não-essenciais, pelo menos até o pico da crise passar.
Contudo, mesmo aquelas companhias que estão operando sentem diretamente o impacto da Covid-19 em suas operações, ou por terem elevados números de casos no quadro de funcionários ou pela perspectiva de que possa haver mais restrições em sua produção conforme aumente o número de casos no país, que rapidamente está se tornando um dos maiores focos de casos no mundo.
Na terça-feira (19), cabe lembrar, o Brasil rompeu a marca simbólica de mais de mil mortes diárias por Covid-19, com o registro de 1.179 novos óbitos em 24 horas, segundo o Ministério da Saúde. Ao todo, são 17.971 óbitos por coronavírus e 271.628 casos confirmados.
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Considerado um dos setores impactados positivamente com a alta do dólar e as mudanças de hábito por conta da pandemia de coronavírus, as operações brasileiras de frigoríficos passaram a enfrentar dificuldades crescentes por conta da doença, principalmente com o aumento dos casos dentro das unidades produtoras ou com as cidades em que as companhias operam enfrentando muitos casos da Covid-19.
Nesta quarta-feira, a BRF (BRFS3) informou que deverá efetuar testes rápidos em todos os trabalhadores de sua unidade em Concórdia, Santa Catarina, por determinação da Vigilância Sanitária, que também determinou o afastamento de 50% dos funcionários para possibilitar a realização dos exames. A cidade apresenta alta incidência da doença.
Com isso, na prática, a decisão levará a uma “interdição parcial” na unidade, em que a BRF abate frangos e suínos e produz alimentos processados (presunto, salsicha e linguiça, entre outros). Os funcionários que testarem positivo para a covid-19 e não tiverem sintomas ficarão sete dias afastados, enquanto os que testarem positivo e apresentarem sintomas ficarão 14 dias fora do trabalho.
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Na última semana, a BRF fez acordo com Ministério Público do Rio Grande do Sul para a retomada das atividades da unidade de Lajeado, suspensas após casos de Covid-19 entre funcionários.
Vale ressaltar que, na última segunda-feira, a JBS (JBSS3) foi autorizada a reabrir planta em Passo Fundo (RS) pelo Ministério Público do Trabalho, enquanto aguarda uma decisão final. As atividades do frigorífico foram paralisadas por duas vezes.
A empresa recorreu ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) após o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do RS manter a interdição da unidade, fechada desde o dia 24 de abril, em razão de um surto de coronavírus entre os funcionários. Com a decisão, a fábrica retoma os trabalhos nesta quarta. Por dia, essa unidade processa 320 mil aves e possui mais de 600 produtores integrados.
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Por outro lado, a unidade de aves da Seara Alimentos, pertencente a JBS, no município de Ipumirim (SC) foi interditada na segunda-feira pelo Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina. A unidade de Ipumirim abate, segundo a JBS, 135 mil aves por dia.
Em nota, o MPT-SC justifica que, durante inspeção, fiscais “encontraram graves irregularidades, sobretudo relacionadas à ausência de distanciamento seguro entre os trabalhadores na linha de produção e a inexistência de medidas de vigilância para controle da disseminação do vírus entre os trabalhadores”. Já a JBS afirmou que vai recorrer da decisão e que “suas operações seguem os mais elevados padrões de segurança para o setor frigorífico”. Além disso, pontuou, considera “injustificáveis” as medidas para suspensão das suas atividades.
A procuradora do Trabalho Priscila Schvarcz, gerente nacional adjunta do MPT para adequação das condições de trabalho em frigoríficos, afirmou à Agência Estado que “o Rio Grande do Sul e a região oeste de Santa Catarina respondem pelo maior número de casos de novo coronavírus em frigoríficos no País”.
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Ela ainda destacou que a vulnerabilidade desse tipo de estabelecimento ao novo coronavírus é um fenômeno mundial, citando fatores o grande número de trabalhadores nas plantas, a proximidade na linha de produção e o sistema de refrigeração, que reduz a taxa de renovação de ar.
A notícia remete aos EUA, que também enfrentou paralisações de frigoríficos devido ao aumento dos casos de coronavírus entre trabalhadores. Juntos, EUA, Brasil e Canadá respondem por cerca de 65% do comércio mundial de carne. Tim Klein, presidente da National Beef Packing Co., grande produtora de carne nos EUA controlada pela Marfrig Global Foods, afirmou que a produção pode demorar alguns meses para voltar ao normal por lá.“Não espero que o setor volte a atingir a capacidade máxima antes do fim de junho, mais provavelmente em algum momento entre julho e agosto”, disse. “E, talvez, não voltemos aos mesmos níveis, porque hoje temos menos pessoas nas linhas de produção devido à separação das estações de trabalho, entre outras coisas”, completou.
Com relação às operações brasileiras, o Bradesco BBI aponta que segue monitorando os casos, com os analistas sinalizando maior preocupação com impactos de possíveis reduções forçadas na produção para negócios integrados (por exemplo, frango) versus negócios não integrados (por exemplo, carne bovina), pois os frigoríficos precisam pagar pelas estruturas dos pecuaristas integrados, mesmo em um cenário de abate reduzido.
“O fato da BRF estar totalmente exposta a negócios integrados suporta nossa recomendação neutra para as ações”, afirmam os analistas, que possuem preço-alvo de R$ 22 por ativo BRFS3, sem upside em relação ao fechamento da véspera.
A JBS é apontada como a principal opção no setor, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 28, com um potencial de valorização de 31,5% frente a cotação da última terça-feira. “Estimamos que aproximadamente 30% de sua receita total esteja relacionada a negócios integrados”, avalia.
Vale: preocupação aumenta e leva à alta do minério
Também considerada uma das apostas em um cenário de retomada da economia da China, que está reabrindo a sua economia após o pico da pandemia, a mineradora Vale também passa a ver maiores impactos do coronavírus na sua produção no Brasil.
Em meados de abril, logo após a divulgação do relatório de produção do primeiro trimestre de 2020, a Vale já havia comunicado que poderia sofrer mais intensamente por conta da doença, destacando três fatores principais: 1) potencial aumento de ausência de pessoal (absenteísmo) em minas e usinas de processamento, caso fosse necessário ampliar medidas de segurança contra o coronavírus; 2) adiamento de paradas de manutenção programadas na área de metais básicos e 3) eventuais restrições mais severas impostas por autoridades para acesso dos funcionários às operações, o que pode restringir o contingente mínimo de mão-de-obra.
Voltando ao quadro atual, alguns pontos se concretizaram, como o temor sobre a oferta da commodity em um ambiente em que o Brasil aparece como um dos epicentros de coronavírus no mundo, levantando a preocupação de que operações de mineração e exportação possam ser afetadas se restrições forem implementadas.
Isso, somado à maior demanda na China, que está com estoques baixos em portos e usinas, faz com que o minério de ferro tenha um rali de mais de 15% no mês de maio, fazendo com que a commodity atinja cotação perto dos US$ 100.
Contudo, conforme aponta o Morgan Stanley, apesar do rápido aumento de casos relatados, o número de casos em cidades próximas aos portos e operações de mineração da Vale continua a representar cerca de 4% do total de casos no Brasil. O sistema portuário e de mineração do norte continua sendo o mais exposto ao surto, avalia o banco.
Entre os lugares a serem monitorados, os analistas do banco destacam o Pará, com as medidas de bloqueio estendidas no estado. Recentemente, as autoridades locais ampliaram as medidas de bloqueio em algumas das cidades até 24 de maio e adicionaram 7 novas cidades à lista de bloqueios. Canaã dos Carajás e Parauapebas, ambos próximos ao Sistema Norte da Vale, entraram nesta lista pela primeira vez. No entanto, segundo o governo, as atividades de mineração são consideradas essenciais e não serão interrompidas.
Nas regiões de mineração, o Sistema Norte continua sendo a área mais exposta, com Parauapebas e Canaã dos Carajás relatando aumentos 101% e 132% nos casos relatados em uma semana até a última terça-feira (para 572 e 402, respectivamente) versus alta de 51% no total de casos no país. O número de casos confirmados nessas cidades representou 0,27% e 1,08% de suas respectivas populações, bem acima do nível brasileiro de 0,12%.
Já nos sistemas Sudeste e Sul, o número de casos confirmados aumentou 31% na comparação mensal. Mariana (perto de Alegria e Timbopeba) teve a maioria dos casos próximos ao Sistema Sudeste e apresentou um aumento de 90% na comparação semanal (para 40).
Com relação às regiões portuárias, Ponta da Madeira continua sendo a mais exposta, mas o aumento de casos confirmados em São Luis, de 35% (para 6.248), foi menor do que nas outras duas cidades portuárias e no país, destacam os analistas.
O coronavírus será monitorado de perto pelos investidores: de acordo com atualização semanal da equipe de biotecnologia do Morgan, o número total de casos no Brasil pode chegar agora a 800 mil (ante previsão na semana anterior de 600 mil), justificando o receio com o impacto da doença nas operações da mineradora.
Segundo Rohan Kendall, analista-chefe para custos globais de minério de ferro e aço da Wood Mackenzie, “se houver restrições devido ao Covid-19 que impactam ainda mais as exportações brasileiras de minério de ferro, os preços chegarão a US$ 100 [a tonelada]”. Porém, disse ele para a Bloomberg, o rali terá vida curta.
É improvável que a China sustente um forte crescimento da produção de aço, e a oferta de minério de ferro deve aumentar à medida que o Brasil se recuperar e a produção doméstica de minério de ferro subir. As taxas de utilização de minas domésticas estão no maior nível em dois anos, pois produtores são incentivados pelos altos preços, disse. A WoodMac prevê que os preços recuem para US$ 70 a tonelada no segundo semestre.
Outra empresa ligada ao setor de commodities que terá as suas operações monitoradas de perto é a Petrobras (PETR3;PETR4). O Ministério de Minas e Energia informou na segunda-feira em seu boletim que até domingo (dia 17) 330 empregados próprios da Petrobras de 573 infectados pelo novo coronavírus (covid-19), já estão recuperados, enquanto 243 ainda se encontram em quarentena, de um universo de 46.416 trabalhadores.
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O ministério deixou de divulgar os terceirizados que trabalham para a estatal, afirmando que com isso “os dados ficam mais precisos na apuração dentro do intervalo da publicação do boletim”. No último boletim com esse dado, a soma de empregados e terceirizados era de cerca de 800 pessoas.
A disseminação de casos na empresa levou ao aumento de cuidados nas suas unidades, como testagem rápida nos aeroportos que levam trabalhadores para as plataformas. Na semana passada, passou a testar também em refinarias.
Os sindicatos de trabalhadores da empresa – Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) – têm denunciado diariamente, desde o início da pandemia, o que consideram descaso com os empregados.
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Depois de ter sido obrigada a parar duas plataformas por contaminação da pandemia – Capixaba e Cidade de Santos – o problema agora, segundo a FUP, além de refinarias, seria na plataforma no campo de Manati, na bacia de Camamu, na Bahia, operada por uma empresa terceirizada, onde convivem trabalhadores próprios e de empresas contratadas. Segundo a FUP, a Petrobras só distribui máscaras para os empregados próprios.
Em reunião sobre o balanço na semana passada, a Petrobras informou que vem testando milhares de empregados e que multa as empresas terceirizadas que não cumprem as medidas de combate ao coronavírus nas suas operações. A estatal argumenta que tomou várias outras medidas, como isolamento de suspeitos e retirada imediata dos contaminados das unidades.
Contudo, no mês, as ações da companhia vêm registrando alta, ainda que modesta, de cerca de 7%, em meio ao cenário de valorização dos preços do petróleo no mercado internacional com cortes de produção pelo mundo e sinais de retomada da demanda após a commodity registrar o pior primeiro trimestre da história em meio ao impacto do coronavírus. Porém, o impacto do coronavírus na produção da companhia será observado de perto pelos investidores.
(Com Bloomberg e Agência Estado)
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