Preço do etanol ao consumidor deve seguir elevado e sem se tornar alternativo à gasolina; entenda

Avanço modesto da produção de cana de açúcar na safra 2022/2023 e foco das usinas no açúcar reduzem espaço para queda do preço do etanol

Augusto Diniz

Etanol: mesmo competitiva nas bombas, a alternativa mais limpa e renovável vem perdendo espaço para a rival fóssil. (Foto: Divulgação)

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O preço do etanol ao consumidor, mesmo com queda registrada nos dois primeiros meses do ano, não tem expectativa de redução substancial ao longo do ano, impedindo-o de se tornar uma alternativa aos demais combustíveis.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), enquanto o litro da gasolina comum alcançou o preço médio em fevereiro ao consumidor de R$ 6,60, pouco abaixo de janeiro, que foi de R$ 6,63, o litro do etanol, no mês passado, ficou em R$ 4,74 – no primeiro mês do ano, esse mesmo estava em R$ 5,03.

A gasolina também baixou de preço por política da Petrobras, mas com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia a defasagem do valor do litro do combustível se acentuou e chegou a 24% em relação ao mercado internacional, criando um impasse na decisão a ser tomada pela estatal sobre a questão.

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Segundo a agência Reuters, executivos da Petrobras (PETR3;PETR4) vão buscar esta semana a aprovação do governo para aumentar os preços dos combustíveis em suas refinarias no Brasil. Os aumentos de preços são sensíveis no Brasil por causa da taxa de inflação de dois dígitos em 12 meses no país e diante das eleições em outubro.

Hoje, o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que vai discutir o salto dos preços do petróleo em reunião no período da tarde com os Ministérios da Economia, Minas e Energia e a Petrobras. Ele ainda voltou a criticar a política de preços da estatal: “Não pode continuar”, declarou o chefe do Executivo.

Poderia se dizer que o etanol ganharia competitiva com o inevitável aumento do preço da gasolina, mas o avanço modesto da produção de cana de açúcar na safra 2022/2023 e o foco das usinas no açúcar, principalmente com aumento acentuado da commodity, torna o cenário para o combustível de pouca expectativa de redução acentuada.

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Balanços indicaram valor elevado do combustível

São Martinho (SMTO3), Raízen (RAIZ4)  a Jalles Machado (JALL3) reportaram ao mercado os seus resultados do último trimestre do ano safra 2021/2022, com balanços que indicaram um preço muito elevado do etanol.

O ano safra 2021/2022 foi marcado pela redução no volume de processamento de cana devido aos efeitos da estiagem prolongada, algumas geadas ocasionais e focos de incêndios devido ao clima seco. Esse fator representou queda de 13% na safra, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Leonardo Alencar, head do setor de agro da XP Investimentos, crê numa recuperação da produtividade esse ano, mas considera os números oficiais otimistas.

“A expectativa é da recuperação da produtividade esse ano. Os números oficiais falam em aumento de 6% da produtividade, mas a São Martinho (SMTO3) aponta 5%. Se a São Martinho, que é supereficiente e benchmarking do setor, recuperar 5%, a média setorial pode ser menor que isso”, avalia o analista, que projeta uma recuperação comedida dos canaviais.

Fora da paridade em relação à gasolina

“O preço do etanol abaixou. Saíram dos patamares muito altos. Ele ficou fora da paridade (em relação à gasolina) por muito tempo”.

Ele lembra que o etanol hidratado, que abastece diretamente os veículos na bomba do posto, por conta do preço alto, já vinha se reduzindo. “Houve inclusive uma queda do consumo no início desse ano do etanol hidratado”, diz.

“As perspectivas para 2022 do etanol, principalmente porque não deve acontecer aumento na produção como um todo no Brasil, é de preços elevados”, avalia.

Ainda nesse aspecto do valor alto do etanol, o resultado positivo para Raízen favoreceu até a Cosan (CSAN3), controladora da empresa. O Ebidta da Cosan no 4T21 foi de R$ 2,8 bilhões (-6% no mesmo período do ano anterior), mas a metade desse número foi alcançada com o avanço nas receitas de produtos renováveis (etanol).

Seca forte quase fez o mercado repensar safra 2022/2023

De acordo com Leonardo Alencar, a seca foi tão forte em 2021 que começou a cria uma preocupação da rebrota da cana de açúcar para esse ano. Mas como começou a chover mais cedo, em setembro, e continuou no final do ano passado e início deste, a preocupação se reverteu para o excesso de chuva.

Internamente, a grande dúvida é a questão da PEC (Proposta de emenda à Constituição) dos combustíveis. “Se reduzirem a tributação da gasolina, isso afeta o etanol, que terá de abaixar o preço”, diz Leonardo Alencar, da XP.

“O que as usinas vão fazer? Elas têm sempre que escolher se vão produzir açúcar ou etanol. Do preço atual do açúcar a rentabilidade está muito boa, mas o etanol estava tão mais alto, que ainda valia a pena fazer etanol”, ressalta.

“Mas o etanol abaixou de preço e então ele vai voltar a fazer açúcar. E se vier mudança tributária na gasolina, a usina vai focar na produção de açúcar já que o preço do produto segue bastante interessante”, acrescenta. O aumento das commodities com a guerra na Ucrânia coloca o açúcar num patamar ainda mais atraente à venda.

Sobre o futuro, Leonardo Alencar disse que no Brasil a produção no setor sucroalcooleiro deve crescer em 2023, mesmo assim não muito porque o setor estará perto da capacidade de produção.

Mercado brasileiro tem expectativa com o consumo na Índia

Com relação o uso do etanol como combustível na Índia, o assunto foi levantado nas apresentações das empresas do setor de seu balanço do último trimestre de 2021.

Ano passado, a Índia havia antecipado para 2023 de adicionar 25% de etanol na gasolina. Segundo o analista, o mercado vem ajustando essa expectativa.

“Para a Índia atingir esse objetivo, a ela terá que reduzir a produção de açúcar e aumentar a de etanol. Eles não devem conseguir bater essa meta, mas tudo que fizerem nessa direção irão mexer com o açúcar mundial”, diz.

A Índia é uma grande produtora de açúcar. Mas mesmo assim, o país vai ter que comprar açúcar dentro desse cenário de utilização do etanol como combustível. “A gente verifica que as empresas (no Brasil) já trabalham o preço de venda futura (hedge) com olhar na Índia”, conclui.

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