Por que o tão esperado acordo entre China e EUA não animou o mercado?

Apesar do ânimo inicial, analistas observam que trégua é frágil

Lara Rizério

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, conversam ao saírem do Aeroporto Internacional de Gimhae após uma reunião bilateral, à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em Busan, Coreia do Sul, em 30 de outubro de 2025. REUTERS/Evelyn Hockstein
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, conversam ao saírem do Aeroporto Internacional de Gimhae após uma reunião bilateral, à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em Busan, Coreia do Sul, em 30 de outubro de 2025. REUTERS/Evelyn Hockstein

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O mercado reage nesta quinta-feira (30) de maneira tímida à reunião entre Donald Trump e Xi Jinping em Busan, na Coreia do Sul, que levou ao tão esperado acordo entre EUA e China. Wall Street, mercados europeus e até mesmo o Ibovespa registravam perdas nesta quinta.

O acordo inclui a redução imediata das tarifas sobre produtos chineses de 57% para 47%, enquanto a China concordou em continuar o fluxo de terras raras, minerais críticos e ímãs “de forma aberta e livre”. Além disso, Pequim afirmou que trabalhará com esforço para interromper o fluxo de fentanil em território americano e que a potência asiática concordou que iniciará o processo de compra de energia dos EUA.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que os acordos com a China após o encontro Trump-Xi marcam um passo para estabilizar relações e devem ser assinados oficialmente na próxima semana. Os EUA suspenderão restrições e tarifas por um ano.

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Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, destaca que o mercado está reagindo com ceticismo, uma vez que observa que essa trégua ainda é bastante frágil.

“Muitas das coisas que foram concordadas aqui, na verdade, só mantém o status quo por mais um tempo. A China não vai colocar restrições às exportações, que havia ameaçado, mas que ainda não existiam. Os Estados Unidos não vão colocar tarifas sobre os navios chineses, a China não vai colocar tarifas sobre os navios americanos, que já era o ponto de partida. A China vai voltar a comprar produtos agropecuários, como a soja, principalmente dos Estados Unidos, também era o ponto de partida e então não houve assim muito progresso efetivo na redução das tensões”, aponta Mattos.

Assim, aponta o especialista, há um temor de que esse movimento seja frágil e pode facilmente ser rompido.

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Para o JPMorgan apesar dos avanços, ainda permanecem questões pendentes, como o cronograma e o volume das compras chinesas de soja dos EUA, a revisão do “Acordo da Fase Um”, de 2020, pela USTR (Representante Comercial da Casa Branca), tarifas sobre transbordo e a legalidade das tarifas impostas sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA). A Suprema Corte dos EUA deve analisar a legalidade dessas tarifas ainda este ano ou no início de 2026.

Segundo o banco americano, a nova fase de trégua representa um recuo parcial das tensões comerciais observadas no início do ano, com tarifas parcialmente reduzidas, mas ainda acima dos níveis do final de 2024. Embora controles de exportação mais rígidos tenham gerado preocupações recentes, a suspensão temporária dessas medidas é vista como um sinal positivo para os mercados.

O banco destaca que, apesar da disposição para o compromisso, a competição estratégica entre as duas potências deve continuar, com possíveis ações de retaliação e oscilações durante o período da trégua.

De qualquer forma, mesmo com o desinvestimento em curso, um desacoplamento total ou embargo comercial permanece improvável no curto prazo, o que traz alívio para investidores globais preocupados com o impacto das tensões comerciais na economia mundial.

Cabe destacar ainda que, além da questão comercial, os mercados operavam nesta quinta-feira sob a influência da decisão da véspera do Federal Reserve, que cortou a taxa de juros em 25 pontos-base, como esperado, mas colocou em dúvida nova redução em dezembro, o que desanimou Wall Street na véspera, também em um movimento de realização após renovação de recordes.

Além disso, atenção ainda para a intensificação da temporada de balanços por lá. Entre os gigantes da tecnologia, a Meta caía mais de 7% nas negociações do pré-mercado e a Microsoft tinha baixa de cerca de 3% devido a preocupações com o aumento dos gastos com inteligência artificial. A Microsoft alertou que as despesas de capital aumentarão este ano, revertendo sua previsão anterior de moderação. A Alphabet por outro lado, subia mais de 7% depois que a forte demanda por IA impulsionou resultados trimestrais melhores do que o esperado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.