Por que o Bradesco (BBDC4) comprou 20% de hospital no Centro Oeste – e como a operação pode impactar outra empresa da Bolsa

Bank of America destacou que a Oncoclínicas também deve se beneficiar com a aquisição. 

Felipe Moreira

Hospitais e planos de saúde tem enfrentado desafios do pós pandemia. Foto: Pixabay

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O Banco Bradesco (BBDC4) anunciou na última quinta-feira (31) que a Atlântica Hospitais, sua controlada direcionada ao investimento em hospitais e que pertence ao Bradesco Seguros, adquiriu participação minoritária Hospital Santa Lúcia (Grupo Santa), maior rede hospitalar da região Centro-Oeste, com 1.350 leitos em oito hospitais premium.

A equipe de research do Itaú BBA avalia o anúncio como um movimento estratégico do Bradesco na área de saúde, uma vez que a quantidade de leitos do grupo é 5 vezes mais que suficiente para atender os 267 mil beneficiários do Bradesco na região, segundo dados da ANS. “O racional estratégico é tentar diminuir a taxa de sinistralidade médica (MLR) da base atual e agregar clientes na região com um produto mais competitivo.”

“O Bradesco seguros não administrará e consolidará as finanças do hospital por si só, mas deverá ser capaz de agilizar os interesses entre pagador e fornecedor, otimizando os níveis de serviço e a lucratividade”, comentam analistas.

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Como observado recentemente, o elevado nível de sinistralidade (93%) tem sido uma questão fundamental para os resultados do da Bradesco Seguros.

Segundo BBA, cada redução de 100 pontos-base na MLR aumenta o lucro líquido do Bradesco em R$ 200 milhões por ano. “E este tipo de movimento de equidade é uma forma fundamental de chegar lá. O capital extra e a rede de clientes adicionados ao Grupo Santa deverão ajudar a impulsionar a expansão do grupo hospitalar em novas regiões, um acordo vantajoso para ambos no longo prazo.”

O valor da transação não foi divulgado, mas assumindo uma faixa de R$ 3 a 4 milhões por leito, o BBA estima uma avaliação de R$ 4 a 5 bilhões, implicando um desembolso de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão pelo braço de seguros do Bradesco pela participação de um quinto. A Bradesco Seguros possui excesso de capital de R$ 12 bilhões. Assim, embora pequeno, o passo estratégico é mais importante.

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Com relação ao setor, o BBA destaca que, embora envolva uma pequena parcela de um player ainda concentrado em uma região específica do país, a mudança tem potencial para ser transformacional, uma vez que já se falava no mercado de que a aquisição da SulAmérica pela Rede D’Or (RDOR3) poderia causar uma retaliação por parte da Bradesco Saúde, visto que os hospitais da Rede D’Or respondem por parcela significativa dos sinistros de assistência médica do Bradesco.

Além disso, o Bradesco também competia com seu maior fornecedor no ramo de planos de saúde. Vale ressaltar que a queda na lucratividade do setor de planos de saúde também desencadeou parcerias entre pagadores e prestadores de serviços.

O BBA também espera que qualquer forma de integração vertical ou redirecionamento do fluxo de pacientes para o Grupo Santa aumente a eficiência e a competitividade do plano de saúde do Bradesco na região Centro-Oeste. Contudo, é importante reconhecer que o Bradesco poderia empreender iniciativas semelhantes com outros grupos hospitalares regionais (por exemplo, Mater Dei em Minas Gerais) ou apoiar a expansão do Grupo Santa para novas regiões. Isto pode representar um risco para grupos hospitalares listados como a Rede D’Or.

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Por outro lado, o Bradesco também possui uma participação de 25% no Grupo Fleury (FLRY3), importante empresa de diagnósticos no Brasil. Apesar da participação acionária, não há integração vertical entre as empresas nem foco notável do fluxo de beneficiários da Bradesco Saúde em direção à empresa diagnóstica.

O BBA ainda lembra da recente parceria entre Oncoclínicas (ONCO3) e Grupo Santa firmada. Após a transação, esta parceria deverá contribuir para fortalecer a colaboração entre Oncoclínicas e Bradesco.

O Citi comenta que o valor da transação não foi divulgado, mas o comunicado descreve a estratégia do grupo para promover parcerias com players estabelecidos na cadeia de saúde, ao mesmo tempo que alimenta os planos de crescimento de longo prazo do Grupo Santa.

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Analistas do banco ressaltam que o negócio foi anunciado poucos meses depois que o Bradesco concordou em construir uma instalação greenfield em parceria com o Einstein na cidade de São Paulo.

O Citi disse estar otimista com o acordo da parceria oncológica Oncoclínicas, que agora também deverá se beneficiar do melhor alinhamento e volumes incrementais de clientes do Bradesco (127 mil vidas e 13,5% de share no Distrito Federal). Por outro lado, as condições competitivas poderão deteriorar-se para outros intervenientes que operam na região (Rede D’or e DasaDASA3), agora também com operações sobrepostas com um cliente importante.

Em uma análise focada na Oncoclínicas, o Bank of America destacou que a companhia deve se beneficiar com a aquisição.

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“Com a aquisição, o Bradesco entrará no segmento hospitalar com um ativo de alta qualidade na região Centro-Oeste, e o Grupo Santa deverá ganhar o fluxo do Bradesco Saúde – segunda maior operadora do Distrito Federal. Acreditamos que esse movimento abre espaço para que a Oncoclínicas desenvolva um relacionamento mais próximo com o Bradesco, o que poderá eventualmente levar a um maior volume para a Oncoclínicas”, avalia.

O BofA ressalta que em termos de concorrência, a Rede D’Or possui 4 hospitais (cerca de 600 leitos) e a Dasa 3 hospitais (cerca de 600 leitos) na região. Dado o tamanho da Bradesco Saúde, especialmente no Distrito Federal, espera que haja oportunidade para a Oncoclínicas aumentar seu volume. O banco tem recomendação de compra para ONCO3, com preço-alvo de R$ 16.