Qual é a imagem de Bolsonaro no Congresso um mês após a vitória nas urnas?

Primeiras movimentações do presidente eleito dão importantes indicações sobre futuro governo, mas ainda mantêm incertezas sobre agenda e governabilidade

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Pouco menos de um mês após ser eleito presidente com 57.797.847 votos (o equivalente a 55,13% dos votos válidos), Jair Bolsonaro (PSL) já deu importantes passos para a montagem de sua equipe de governo, mas ainda alimenta dúvidas no mundo político sobre as condições de construir um bom canal de diálogo com o Congresso Nacional e ter uma base sólida para implementar sua agenda.

A estratégia de dar prioridade às bancadas suprapartidárias e o perfil mais distante da política formal de muitos dos quadros escolhidos para os ministérios reforça o ceticismo entre os parlamentares, que apostam em uma relação conflituosa até que se estabeleça o dia a dia da operação política.

O fato de três ministros escolhidos serem do mesmo partido (o DEM) também provoca incômodo, sobretudo no “centrão” e já começa a indicar maiores dificuldades para o futuro governo em contar com a boa vontade de parlamentares de siglas não contempladas com pastas até o momento, assim como traz efeitos colaterais na tentativa de recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados.

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Para alguns experientes congressistas, medidas como a reforma da Previdência dificilmente serão aprovadas no plenário da Câmara ainda no primeiro semestre de 2019. Além disso, eles dizem que, para que a pauta econômica do governo prospere, será fundamental que o próprio Bolsonaro saia em defesa das medidas e que não haja ruído entre integrantes de seu partido, o PSL.

Em um primeiro momento, a capacidade de o presidente se comunicar com o eleitorado pode ajudar no avanço de sua agenda, mas as expectativas são de que tal estratégia não seja sustentável no longo prazo.

Eis alguns apontamentos feitos pela equipe de Análise Política da XP Investimentos a partir de conversas nos bastidores de Brasília nesta semana:

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1. Em linhas gerais, mantém-se o cenário de incerteza sobre o início do governo Bolsonaro e a perspectiva de que a relação com o Congresso será conflituosa, ao menos no começo, até que se estabeleça como será o dia a dia da operação política do Planalto.

A visão no Congresso é que as indicações para o governo até andam na linha correta e que há boa vontade dos integrantes da nova equipe – mas que ainda se peca pela falta de conhecimento da estrutura administrativa e da máquina pública e, principalmente, pela relação ainda incerta entre este mundo e o mundo político. Das nomeações até aqui, é válido registrar que General Heleno – que atuará dentro do Planalto como espécie de conselheiro – é visto pela maioria como alguém ponderado, competente e que é ouvido por Bolsonaro.

O principal desafio posto em relação à governabilidade talvez seja a interlocução institucional do novo governo com os partidos políticos, algo que ainda não está em curso. As nomeações de Luiz Henrique Mandetta e Tereza Cristina para a Esplanada, assim como as idas e vindas na nomeação do ministro da Educação, reforçam a ideia de que ele pretende governar alinhado às frentes parlamentares, o que não é um instrumento usual para garantir governabilidade.

2. A aposta de deputados aliados de Bolsonaro é que o presidente eleito use sua capacidade de se comunicar
com o eleitorado para tentar empurrar a agenda no início. Isso até poderia garantir algumas vitórias, mas não seria suficiente para dar solidez à governabilidade do Planalto.

3. Para que a pauta econômica avance, parece consenso que Bolsonaro precisará, ele próprio, sair em defesa da agenda e dar suporte ao que seu time econômico apresentar – até agora, a independência da equipe reforça expectativas positivas, mas quando o governo começar de fato será necessário respaldo da ala política para que as medidas tenham êxito.

Nesse ponto, deputados também dizem que será essencial que não haja integrantes do PSL que se oponham publicamente às reformas – o que poderia reproduzir a tentativa de ajuste de 2015, quando o PMDB se recusava a votar as medidas enquanto houvesse críticas do PT. Há uma perspectiva de união das esquerdas e parte do centro para aumentar o custo político para Bolsonaro da aprovação da reforma da Previdência.

4. No cronograma projetado por figuras importantes do Congresso, o espaço é reduzido para a aprovação da reforma no plenário da Câmara antes do fim do primeiro semestre.

5. O centrão, alijado do novo governo, promete uma espécie de “operação tartaruga” no início do mandato caso não seja mesmo chamado a dividir o bolo. A metáfora feita é a do time de futebol que toca de lado e não desempenha bem em jogos fáceis para tentar derrubar o técnico.

6. A crítica ao tamanho do DEM no novo governo tomou conta do Congresso e virou objeto de reclamações de várias bancadas. O principal prejudicado com o tamanho da sigla na Esplanada tem sido Rodrigo Maia – adversários usam o fato para tentar inviabilizar sua eleição, com o argumento de que um só partido não poderia ter tanto poder. O centrão continua empenhado em sua candidatura e trabalha para reduzir divergências internas.

7. Acumulam-se também reclamações sobre contatos com Paulo Guedes – a “prensa” continua repercutindo. Outro ponto que foi tratado como bateção de cabeça foi a sugestão de dividir recursos da cessão onerosa com Estados e municípios, o que trouxe novos atores para a mesa e dificultou a aprovação imediata.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.